Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Jornal Aberto (esdjccg-Ílhavo), Janeiro 2008

Mudar, nem que seja para melhor!

Chegados da interrupção lectiva do Natal, eis-nos em 2008!
E se a nossa vida é marcada, pela verificação de todas as ciências, pela mudança – o nosso Luís de Camões imortalizou-o como ninguém no soneto Mudam-se os tempos: “todo o Mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.” – então, chegados a um novo ano alimentamos os nossos sentidos com a vontade de começar tudo de novo um pouco mais à frente neste caminho que é a vida, ou melhor, na senda das novas tecnologias, nesta tecelagem www (World Wide Web) a vida de cada um está literalmente interligada à de todos os outros pelos mais diversos factores: profissionais, escolares, familiares, desportivos, tecnológicos,… Portanto, depois das últimas badaladas de 2007, com rudimentares propósitos mais ou menos definidos para o novo ano, comprometemo-nos todos os outros que encontramos logo nesse momento e em todos os outros momentos.
Ao querermos mudar, acreditando nessa força (determinação!), assumimos o compromisso de transformar para melhor, salvo as tendências do contra e os insatisfeitos da vida – casos que necessitam da ajuda colectiva -, o mundo que cada um é e onde interage!
Queremos um ano fantástico? Então, analise-se o que esteve menos bem, pondere-se o que há a corrigir, redefinam-se as prioridades e as práticas!
Sabendo que é preciso dedicação absoluta, tanto nas grandes responsabilidades como nas pequenas coisas, um novo ano é um convite ao discernimento empreendedor entre a esperança na eternidade, ser capaz de viver cada dia como se fosse o último mas com a eternidade no horizonte (tudo o que é verdadeiramente importante, o essencial da nossa existência) e o ser
bom e feliz centrado na racionalidade, conhecimento do seu meio físico, social e cultural, conhecimento e respeito pelos outros e pelo mundo ( “Voa: aproveita o dia presente -carpem diem -, confia pouco no amanhã”! - Odes: I-19; Horácio).
E tudo isto apenas porque mudamos, querendo ou não, nem que seja para melhor!?
Mude-se! Esperança para 2008! E…em frente, vamos!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Natal 2007 - CV de 2007.12.19

O barro em que moldo o meu presépio!

O meu presépio é de barro!?
Outros serão de outra coisa qualquer mas também são presépios. E só por serem o que querem ser (moldados por dentro), por terem conteúdo, são um tesouro! Ao serem assim, são o divino na vida humana!
Sim, tenho ali um tesouro que é moldado em matéria frágil a que os elementos (água e fogo) e o oleiro dão forma e consistência!
Aquele tesouro é a redenção.
E eu quero acreditar que a "redenção", a salvação, segundo a fé cristã, não é um simples dado de facto. A redenção é-nos oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho (SS, 1).
O meu presépio, perante outros presépios, não justifica a canseira do caminho? É claro que sim. Eu quero querer que sim!
Há outros moldes, há outros materiais, menos frágeis até, e aparentam (se é que não superam?!) ser a meta que me proponho alcançar com aquele frágil presépio de barro! Mas este é o meu.
O inerte barro, ganha outra expressão à medida que nele incide o reflexo da estrela. Uma estrela tão simples com tanto efeito que faz!?
Também sei que há outros luzeiros para presidir à noite, mas, no meu presépio, não conseguem ofuscar a estrela de Belém. – e no recato da sala chego a pensar quantas vezes se faz dela, da ideia da estrela,… acho que nem acredito!?... Não se pode fazer dela uma metáfora,… apenas para adornar esse acto fundacional da piedade: os pastores, os homens de boa vontade e os senhores do mundo são guiados por uma estrela!... Nesta perplexidade perante a inflacionatória acção profética actual, reconfortam-me as palavras vindas de Roma: “o momento em que os magos guiados pela estrela adoraram Cristo, o novo rei, deu-se por encerrada a astrologia, pois agora as estrelas giram segundo a órbita determinada por Cristo”! (SS, 5)
E como há boas razões para esperar que isto é um bem. Ali ouço a eternidade – quer seja na Apologia de Sócrates quer seja em Santo Ambrósio ou Santo Agostinho na Spe Salvi (10-12)!
Absorvido pelo Natal (nascimento) ali apresentado, a mim (que não sou pastor, nem rei, e talvez nem homem de boa vontade!) acabo por dar ao barro o valor que ele não teria se não tivesse o valor que lhe foi inculcado pela Redenção.
Como é valioso o barro do meu presépio, sem ele nem presépio teria!?
Também por isso, acredito que naquela matéria, o mutável é imutável porque são a mesma esperança: o Corpo do meu presépio onde radica a minha fé!
E quando vejo um presépio assim, chego a sentir, a perguntar-me,… que presépio sou eu?

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

PL, in "Correio do Vouga" - 07.12.19

Tratado (Europeu) e de Lisboa!

Agora sim, podemos sentirmo-nos confortáveis, mas provavelmente não muito realizados, muito menos felizes, só porque há um Tratado para a Europa!
Fomos nós, os portugueses, mestres nas Leis (até tivemos o Dr João das Regras!?), a comandar a nau da europeia! Quis a Providência, porventura sinal do religioso alicerçado na matriz cristã da Europa, que dois portugueses encabeçassem os comandos da barcaça para que isto chegasse, não a bom porto mas…, à velocidade de cruzeiro. É um sinal. Se não fosse assim, dificilmente os entraves circunstanciados seriam ultrapassados.
Contudo, vai parecendo que até se vai ganhando mas a equipa ainda está um pouco abúlica!?
Assim, resumidamente, há alterações em:
Instituições. Com este tratado mudam as regras de funcionamento e representatividade nas instituições europeias; introduz personalidade jurídica à União e é criado um único representante para as questões de política externa.
Pessoas. Consagra expressamente os valores nos quais se baseia a União e apresenta a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.
Políticas. São enumeradas as principais áreas de acção (liberdade, segurança e justiça), na política de relação com os outros fora da União, nos problemas emergentes (alterações climáticas, energia, espaço, turismo, protecção civil).
E agora começar-se-ão a abrir as potencialidades que, por sua vez, passarão a ser condensadas em regulamentos através, provavelmente, do processo legislativo ordinário, ainda falta mais qualquer coisa; deu-se mais um passo, é certo.
Lisboa ajudou a reunir o que estava disperso. No entanto, ainda não é desta que ficamos unidos. Esta União não faz a força, é demasiado individualista, natural, pragmática, sem fé. Falta alma à Europa, não falta?
E com isto, mude-se o Pentateuco porque Deus viu que tudo isto era bom… mas não descansou!?

domingo, 9 de dezembro de 2007

PL, in "Correio do Vouga" - 07.12.12

De Cabo aos Urais

Apresentamos uma rota para uma grande prova! Concretizar uma maratona, um rali, um raid,… qualquer coisa que desse expressão à dificuldade que existe em unir estas duas áreas geográficas (da ponta Sul de África, à referência virtual que delimita a Europa e a Ásia) tem tantas hipóteses de resultar como “passar um camelo pelo fundo de uma agulha”!
As probabilidades de sucesso são praticamente as mesmas, salvo o louvável esforço dos políticos europeus (sobretudo os portugueses com responsabilidade de liderança na Europa), que as da parceria para o futuro que a Cimeira de Lisboa declarou.
Só os “portugueses” é que poderiam colocar na agenda uma Cimeira destas!
Nós temos qualquer coisa de especial, um recalcamento porventura, quando se trata de procurar os que pensamos ser como nós, apenas porque lhe impusemos a língua (mãe da comunicação e matiz cultural)! Foi agora com África, como há uns meses com o Brasil. O mundo todo, os nossos parceiros europeus, olha para estas duas realidades como campo de recursos a explorar; Brasil e África vêem a Europa como a potência (ainda um pouco colonizadora) a quem é preciso apresentar a factura em público e negociar parcelarmente em privado; nós sentimo-los como um prolongamento da nossa pequenez, uma extensão para onde nos poderíamos estender, viajar, ficar por lá! É um romântico mistério neste “ser português” mas só nós é que o sabemos fazer! Este jeito de chegar e criar laços, fazer do distante próximo está no sangue de cada um!
E no final, nesta como em todas as cimeiras do mundo, dada a mole de assuntos demasiado privados, individuais, sui generis (conforme o sub solo: ouro, diamantes, petróleo,…e as correspondentes capacidades para investir nessas explorações), há um discurso colectivo para dizer: o mundo vai mudar rapidamente (pelo que estamos a desfazer) só que, naquilo que depende de nós fazer, não sabemos quando!

Mesmo assim, é preciso insistir. Portugal fez o seu papel (e bem!).

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

PL, in "Correio do Vouga" - 07.12.05

Guerra em tempo de paz!

A etimologia guerra e paz das duas palavras explica o inter-relacionamento que permeia a dicotomia paz/guerra, na qual a guerra é o termo forte e a paz, por isso mesmo, é normalmente entendida como ausência de guerra. A expressão “guerra” terá a sua origem no germânico werra, que tem a acepção de discórdia, combate. A “paz” tem origem latina em pax, de verbo cujo particípio é pactus, daí o pacto (celebrado entre os beligerantes para terminar, cessar o estado de guerra).
A mitologia dá preponderância à guerra em detrimento da paz. Ares, o deus da guerra, tem assento no panteão olímpico. Éris, deusa que personifica a discórdia, na poesia como na epopeia,Discórdia. O seu oposto é a Harmonia, correspondente à Concórdia romana. Éris aparece como filha primogénita da Noite, e mãe da Dor (Algea), da Fome (Limos), da Desordem (Dysnomia) e de outros flagelos.
E até ao século XX a valorização da guerra foi mais frequente do que a sua condenação. Hegel, por exemplo, contestando Kant, diz que a guerra assegura a saúde moral dos povos, que se veria afectada pela estagnação numa paz perpétua, da mesma maneira que os ventos protegem o mar da podridão inerente às águas paradas.
Também, quanto à expressão, é famoso o romance escrito por Leon Tolstói, publicado em 1869, uma das obras mais volumosas da história da literatura universal, que conta a história de duas famílias russas durante a invasão napoleónica de 1812.
Porém, a valorização da paz, cujo antecedente de referência é o ideal messiânico do profetismo bíblico (conversão das espadas em arados – Is 2,4; 11), só encontrará eco social em plenos anos 60 do século XX, com os movimentos pacifistas – já depois de duas guerras mundiais!?
Com tudo o que vai chegando até nós, já entre nós, em todos os debates, na noite de todas as coisas (como a mitologia grega nos ensina?! Nix, deusa da Noite, era irmã do Caos, o que faz dela uma das primeiras criaturas a emergir do vazio),… o que virá a seguir?
Na era da “aldeia global”, onde todos se conhecem e querem conhecer tudo e todos, não há vizinhos, franqueza, solidariedade, confiança, lealdade,… não há aldeias na globalização! Urbanizou-se tudo e, hoje, estamos praticamente serpenteados de guetos e só gangs percorrem as ruas daquela que já foi a nossa aldeia?!
aparece como irmã de Ares. Corresponde à deusa romana

terça-feira, 27 de novembro de 2007

PL, in "Correio do Vouga" - 07.11.27

Até ao fim

A experiência de vida de cada um estará com toda a certeza repleta de momentos de encontro e reencontro com pessoas que marcam a história de um lugar, de uma cidade, da comunidade, porque são pessoas fora do comum (na ousadia, na dedicação, nos horizontes que desafiam os outros a vislumbrar). Depois, conforme a experiência, a natureza do serviço, a fé, a diversidade da pertença e do altruísmo, serão, para a eternidade, santos, filantropos, bem feitores, etc. O Concelho de Ílhavo acaba de viver, na solidariedade social, um desses momentos raros que deixam rasto indelével em todos os que cruzaram com a Dra Maria José Senos da Fonseca Picado, a fundadora do CASCI. Uma Mulher para a eternidade!
O CASCI é uma IPSS fundada em 1980 por um grupo de cidadãos interessados na resolução dos problemas dos grupos sociais mais desfavorecidos. Com o passar dos anos essa estrutura foi crescendo, conquistou parceiros e alargou o raio de intervenção. Hoje, presta atendimento a mais de 750 utentes provenientes do concelho de Ílhavo e dos concelhos de Aveiro e Vagos e conta com o financiamento do Ministério do Emprego e Segurança Social e do Ministério da Educação, além do apoio proveniente de organizações estrangeiras e particulares. A este junta-se ainda o auto-financiamento, através da venda dos produtos realizados nas suas unidades produtivas.
As valências do CASCI espalham-se pela Costa Nova (Centro de Infância com creche, jardim-de-infância e ATL, Departamento de Educação Social, Centro de Reabilitação e Formação Profissional para pessoas com deficiência e Centro de Apoio Ocupacional para pessoas com deficiências graves), Barra (Centro de Infância com creche, jardim-de-infância e ATL), Colónia Agrícola (Centro de Reabilitação e Formação Profissional da Gafanha para pessoas deficientes) e Ílhavo (Centro de Infância com jardim infantil, ATL e escola de educação especial, Residencial para pessoas da 3.ª Idade e Residencial para crianças e jovens portadores de deficiência grave).
A Dra Maria José foi de uma dedicação extrema… até ao fim!

sábado, 24 de novembro de 2007

PL, in "Correio do Vouga" - 07.10.24

Ex-falta!

A falta que faz uma falta!?
Está a ser notícia o debate que a Assembleia da República produziu sobre o Estatuto do Aluno do Ensino Não-Superior, sobretudo no que concerne às consequências das faltas injustificadas (artigo 22 do Projecto aprovado em Conselho de Ministros, em Abril). Até agora, como no texto citado, as faltas injustificadas podem conduzir à retenção do aluno. Agora surge a hipótese de não suceder assim, o aluno, grosso modo nas mesmas circunstâncias como o define a lei actual (Lei 30/2002, de 20 de Dezembro), fará uma prova de equivalência à frequência e continuará o seu percurso.
Vantagens e desvantagens:
A contradição com o todo fundamental na vida escolar; a reflexão, a ordenação, a sistematização, o dinamismo do processo educativo-pedagógico. Isto é, a pedagogia, o acompanhamento e reconhecimento (do outro, dos saberes, das relações,…) e a responsabilização e compromissos em grupo, em sociedade. A ausência, a desconcentração na exigência, tão férteis entre nós portugueses, vão ganhar cidadania já nos bancos da escola!

Depois, ainda há a prova?! E se o aluno resolve faltar? Haverá outra, com certeza! E assim sucessivamente até ao final do ano. Por fim, é provável que venha a transitar de ano na mesma, com dois ou três planos (de recuperação, de acompanhamento,…), ou seja encaminhado, por falta de interesse ou pré-requisitos, para algum currículo alternativo ou novas oportunidades – o que não é desejável.

É verdade que o permissivismo não é sinónimo de responsabilização; que a penalização não resulta em sucesso! Porém, ninguém pode estar presente (nem os elementos estruturais do saber, da maturação cultural) se está ausente! Isto dá para as pessoas como serve para os conteúdos!
Com este cenário de ex-falta, não se resolve o problema. Hoje, o mundo (mesmo dentro do espaço escolar) chama todos para fora da sala de aula. Compete a todos, a começar por quem legisla, convidar o mundo para a escola, para a sala de aula! Este convite não é feito nem nunca será eficaz quando feito por pessoas desautorizadas, culpabilizadas, estigmatizadas, confrontadas, de maneira geral de 45 em 45 minutos, com a indiferença interna, externa, superior, lateral, entre pares, com parceiros,… todos amarrados à teia burocrática que vai empaleando este pobre país vazio de quase tudo!
A escola nova, sedutora, empenhada é a que motiva, na responsabilidade, para a presença livre, interessada, participativa!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

PL, in "Correio do Vouga" - 07.11.21

Atitude e regras

O título deste apontamento atravessa transversalmente todos os campos da vida social, da vida das comunidades! Porém, centramos a atenção no futsal e no futebol de onze, modalidades que estão esta semana na ribalta. Decorre o Europeu de Futsal, em Gondomar, e a selecção nacional de futebol de onze cumpre o último jogo de apuramento para o Europeu que decorre na Áustria e Suiça, no Verão do próximo ano – quatro anos depois do Euro 2004, uma das “bandeiras” de Portugal!
Aparentemente as duas modalidades, porque são de matriz comum, têm regras idênticas. É verdade. Salvo uma ou outra excepção para adaptar o futebol de onze à dinâmica do salão/sala mantendo a vivacidade e o entusiasmo do público e dos potenciais praticantes, as regras são decalque (o futsal) das do futebol de onze! Portanto, quem estiver familiarizado, de um lado ou de outro, não estranhará se for neófito da alternativa.
Depois, há a atitude! Bem mas aí não colhe no futebol de onze! O futebol de onze, com aquele ar sério e carrancudo, representa a opulência, a mãe de todas as matronas. Ninguém pode assobiar ao “rei”, ninguém pode criticar o “reinado”! - mesmo quando o rei vai nu! E vai nu porque todos querem viver à grande sem nada fazer pelo próprio reino! – Tome-se como exemplo o que aconteceu no recente Portugal – Arménia. A selecção de Portugal começa a ser um fenómeno preocupante de falta de honestidade profissional, tal o dilate com que aborda as responsabilidades (para com quem paga bilhete também)! Sem rei, nem roque!
Ah! A atitude daquela equipita do jogo com a Arménia até faz lembrar o que se passava na educação! Uns para aqui, outros para ali, medidas avulso! Até que alguém percebeu que “o rei vai nu!”… E começou a cozer-lhe o manto!? Nem todos os pontos têm aguentado o remate mas, na verdade, o manto vai dolorosamente ganhando forma! Há regras, há atitude!

terça-feira, 13 de novembro de 2007

PL, in "Correio do Vouga" - 07.11.13

O caminho do fim

Os recentes acontecimentos desportivos que se têm manifestado em Itália – os tristes acontecimentos, melhor dizendo! – encaminham a nossa reflexão para o inevitável, isto é, para o fim de uma era; a era tribal!
Não é menos importante sublinhar que o homo-sapiens, do qual já pouco resta, fez o itinerário histórico sobre os princípios do domínio da razão sobre o “brutus”, a massa arracional, que caracterizou muito da era da pedra, o homem que dominou a natureza e os que dela faziam parte e a constituíam, através da arte de manusear as ferramentas rudimentares, como um simples “sílex”! Esse homem, o da razão, parecia caminhar para o apogeu, que as “luzes” suscitaram e o século XX desvaneceu. E como já é recorrente desmantelar o homem da razão pelo “associabilis”, estamos , portanto, a regressar ao uso do rudimentar, do calhau usado por cabeças de calhau, para impor a lei do mais forte.
Mortes por causa de um jogo? Não!?. Não pode ser mas é! Trata-se de uma luta de tribos, com toda a simbólica que lhe é dada, à manifestação tribal.
Não espantará que tenhamos de repudiar alguns actos, por muito que nos possam chocar agora, por preocupante canibalismo! Claro, depois de morta a presa… para que serve!?
Caminhamos para o fim! Sim, o fim do era humana. Depois disto… a manifestação da natureza far-nos-á caminhar para a montanha e imolar aos dos nossos aos deuses! Pintaremos a cara, o corpo inteiro, e, dominados pelos chefes tribais, sem história nem memória na tribo humana, vamos enfilar-nos para, de forma seguidista, gritarmos histericamente por morte ao que se opõem às nossas cores.
Por fim,… tudo estará consumado! A natureza encarregar-se-á dos que restam: a terra deixará de existir!
E depois de todo este pretenso apocalipse, o que se poderá esperar?
Apenas acordar no dia seguinte e, com pequenos gestos que farão a diferença, voltar a iniciar o caminho que inverta a marcha dos que já não suportam viver com os outros! Só isso, é preciso viver e saber conviver com a diversidade, mesmo com a diversidade que se chama… ser humano – curioso, “ser” ser humano é a maior teofania da criação: à imagem e semelhança de Deus. Ou será que Deus ou os hagiógrafos se enganaram? Não somos tão bons assim?!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

PL, in "Correio do Vouga" - 07.11.06

A arte de acolher

A nossa capacidade de acolher, de sermos bons anfitriões, é tão singular que cativa quem passa pelo nosso país, pelas nossas cidades, por cada recanto das nossas terras! O estrangeiro é um amigo – salvo raras excepções!
No fundo, sem aprofundar a questão do acolhimento, a nossa cultura judaico-cristã, está embebida no gesto nobre do acolhimento que os relatos neotestamentários nos incutem (Mt 10, 18, por exemplo)!
No respeito que é devido entre uns e outros, o mais radical agnóstico, o iliterato, o cidadão comum, todos sabem que é revelador de singularidade a pessoa ter um comportamento social adequado. Afinal, tudo se resume a princípios elementares do ser humano: saber ser e saber estar na dignidade de cada um! Quem recebe enfatiza, com a devida prudência e discrição, os dons de quem vem e dá o adequado destaque (na saudação que se empresta, no lugar que ocupa, no diálogo que se estabelece). A quem é recebido, requer-se afabilidade, bonomia, serenidade no que recebe.
É sabido que ninguém, de boa vontade e educado, no facto de aceitar receber e ser recebido, muito menos quando tudo é feito em nome de outrem, deve explicita ou implicitamente retirar daí dividendos, quaisquer que sejam!
Bem sabemos que o mundo não é assim – tão distinto nas suas cores!?
Entre nós, somos tão capazes de acolher bem os de fora, como crucificar os que nos são próximos – “nenhum profeta é bem recebido na sua terra” (Mt 13,57 e sinópticos)! E daqui pode-se extrapolar para a metáfora: tanto faz ser profeta como não! Desde que seja daqui não pode sair de cá! E Todos os que não vejam assim… são réus de morte! “Crucifica-o”.
A vida, toda a vida, é tão diversificada e apreciada que até no calvário havia quem se opusesse ao Crucificado e quem assumisse, com Ele, aquele sacrifico como caminho de salvação!
Apesar de tudo, há quem veja mais longe! E, independentemente de ser Samaritano ou Judeu, aprecia quem é capaz de sair de si, vencer etapas, aspirar a ser mais! Isso implica não deixar que sejam os acontecimentos a condicionar as opções mas sim o discernimento, claro e lúcido! Porque nunca será apenas a vontade do próprio a definir o caminho de todos!?
Por fim,…acolher bem… até na crítica devemos ser bons, a proferi-la e a aceitá-la! Seja bem vinda!

domingo, 2 de setembro de 2007

jnnf, ano XXXVI, nº 378 (Agosto-Setembro 2007)

Acção de Graças pelo Ministério do Pe Artur

Eis-me Senhor, Luz do meu caminho,
leva-me mais longe!
Que a minha atitude seja firme e molde o meu carácter;
Que o meu coração seja dócil e se transmita em olhar límpido;
Faz-me generoso e humilde, como é próprio de quem se guia por dons eternos!
Modela-me para que possa ser pedra viva na construção de uma Igreja mais Santa
e de um mundo mais humano e solidário,
em que cada peça deste maravilhoso puzzle seja o verso da Tua face!
Que seja tudo para todos:
Com as crianças, os idosos e os doentes, os primeiros apóstolos da família;
Com os emigrantes que levam memórias e trazem o pão;
Com os jovens, de abraço fraterno e disponibilidade absoluta para servir;
Com os casais, homens e mulheres das nossas comunidades que, com o seu trabalho,
as suas associações, as suas organizações, nos aproximam das belezas da criação.
Senhor,
A oração das horas de cada dia e no altar da eucaristia
Renove todos os passos da minha vida,
Uma vida que seja oração e consagração em todas as obras que edifique.
E quando o sol aparecer no meu horizonte definitivo,
Que eu esteja pronto para a última jornada!
E quando o meu olhar se declinar sobre a Tua cruz,
e vir nela reflectido o meu próprio rosto, possa testemunhar aos que me confiaste:
“Como S. Paulo, combati o bom combate, guardei a fé!
Que se erga uma nova manhã, plena de vocações,
para continuar a unir como fazem as pontes!”

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

“Correio do Vouga”, 29 de Agosto de 2007

A unir como fazem as pontes!

Todas as construções perduram no tempo quando são bem alicerçadas!
Esta realidade é, humanamente, tanto mais assertiva quanto a mensagem bíblica (Lc 6, 48ss e 14, 28ss) fundamenta toda a vida daqueles que, como o Pe Artur, fazem da solidez de carácter e da persistência inquebrantável um dom ao serviço dos outros.
Sei que por isso, há um traço característico naquele que será para sempre o alicerce (assente sobre a rocha, resistente, rude, sólida), da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima: as obras!
Um sacerdote a quem o Senhor chamou para exercer o seu ministério durante quarenta anos na Póvoa do Valado e Mamodeiro só podia ser – que falem mais alto as memórias de D. Domingos da Apresentação Fernandes e de D. Manuel de Almeida Trindade, o livro “Os de Mamodeiro e o bispo de Aveiro”! - um homem de carácter, que consagrasse toda a sua vida a unir, a construir a unidade.
Mas foi preciso construir tudo: a paridade entre os lavradores abastados e preponderantes e os assalariados vindos quase todos do interior norte do país; criar índices de reconhecimento dentro de cada lugar – o centro do lugar da Póvoa do Valado, por exemplo, ainda hoje é denominado por “Barreiras”, porque ninguém se atrevia a passar sozinho de um lado para o outro, ali era uma barreira intransponível; gerar a comunhão entre as pessoas, independentemente do seu estado económico! Era necessário quem lançasse mãos destemidas à obra: o Pe Artur criou e ensaiou, por celeiros e sótãos, grupos de teatro; incentivou a criação de clubes; apoiou Ranchos Folclóricos; organizou cortejos de oferendas, em que o essencial era as pessoas prepararem (encontrarem-se!) em conjunto uma peça de teatro, uma canção popular, a dramatização de um quadro da vida no campo, para animar os vários desfiles. As noites de Inverno eram animadas por semanas de Pregação – os pregadores mais lembrados são o Frei Avelino e o Pe Andrade!
Fomentou os cursos de agricultura; os cursos para donas de casa; os cursos de órgão; os cursos de catequistas; os cursos bíblicos – quando um adolescente fazia a profissão de fé oferecia, a cada um, uma Bíblia; autocarros de peregrinação a Fátima; viagens de encerramento da catequese (catequistas e famílias)…as semanas de liturgia, mais tarde em Fátima.
Era necessário aproximar os que estavam longe?! Criou o jornal “Notícias de Nariz e Fátima” – para servir as duas comunidades que paroquiava. Nariz desde 1961!
O jornal seria a boa notícia que chegava a todos os lares, também aos emigrantes a quem gostava de visitar para os manter corresponsáveis com as suas raízes. Assumia como imperativo as visitas mensais aos doentes (colocava à porta da Igreja quem, porventura, estava hospitalizado), o sacramento da confissão, a festa da Santa Unção, o Dia da Comunidade Paroquial, Nossa Senhora: todos os dias era fiel à “leitura” – como dizia - das horas e à oração do terço!
E os jovens foram uma preocupação permanente. Desde a primeira hora abraçou os Convívios Fraternos quando o Pe Valente de Matos, seu conterrâneo e fundador do Movimento, o implantou em Portugal e em Aveiro. Mas também nos grupos paroquiais, nos campos de Férias, antecâmara de anos pastorais bem sucedidos!
Mas todas estas obras de evangelização requerem – expressão sua – um espaço para se desenvolverem com dignidade! A dignidade nas celebrações eucarísticas, nas procissões, nos funerais, no apoio social, nos cuidados de saúde,… Porque “na tua vida sê sempre retrato de Deus, nunca sua caricatura”! O Pe Artur anunciava e vivia este lema em tudo o que promovia!
E conquistado o reconhecimento, o afecto das pessoas surgiu a Paróquia, a Igreja (a Igreja!), a residência, o salão, o centro social paroquial, a Freguesia (foi determinante o seu empenho), o posto médico! Renovou todas as capelas. Tudo!
E tudo foi feito com uma diplomacia sagaz! O Pe Artur era mestre na diplomacia, mesmo quando era necessário subverter o adágio: semeava ventos, gerava tempestades porque acreditava na força da bonança que viria depois!
Quando a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima celebrou festivamente as bodas de prata sacerdotais do Pe Artur, em Julho de 1980, foram editadas as tradicionais pagelas evocativas da solenidade. Chamou-me a atenção o lema sacerdotal do Pe Artur “unir como fazem as pontes”!
Passados outros vinte e cinco, confirmava-se então a obra que Deus quis que ele edificasse: unir! Unir todas as pessoas, todos os lugares, unir o que era disperso. Porém, as comunidades de Nariz e Fátima reconheciam, em agradecimento festivo, que o Senhor exigiu também ao Pe Artur desde o início que poderia unir como fazem as pontes mas em primeiro lugar tinha de as construir! Todos sabemos o resto: nem olhou para trás (Lc 9, 62)!

terça-feira, 6 de março de 2007

Ecclesia,, 2007.03.06

O escutismo e a pastoral juvenil
«No escutismo tudo é motivante». «Ser escuteiro é ser corresponsável na acção da Igreja Católica com os jovens».

No último século, a oportunidade mais bem conseguida pela humanidade foi a “descoberta” dos jovens e a abertura destes ao saber, o acesso à igualdade de oportunidades no conhecimento, como meio para desenvolver a civilização.

Quem descobriu esta oportunidade, percebeu melhor que ninguém, a perspectiva etimológica como sistema para o conhecimento: o acesso de todos à escola (do grego scholé, que significa lugar do ócio)! Por isso, fazer escola entre os jovens é proporcionar-lhes a aquisição do saber com um método baseado num processo lúdico. Pelo ócio, no sentido grego, atingir a formação integral. Uma escola ímpar, a escola escutista.

Todo o dinamismo-testemunho, toda a acção com os jovens radicou no que há de mais autêntico na beleza que os jovens possuem: o encontro de cada um consigo próprio! E, por esse método, o encontro complementar, aquele que é feito por cada um com o Outro!

Robert Baden-Powell transformou o jogo em metodologia formativa; a regra em tenda (em espaço de entendimento!); o jovem em protagonista!

Por isso, no escutismo tudo é motivante!

Ser escuteiro, algo que se é para toda a vida, nos vários compromissos que se assumem, é manter a fidelidade aos valores experimentados pelo Fundador, sintetizados naquela que terá sido a sua última mensagem:

“O estudo da natureza mostrar-vos-á as coisas belas e maravilhosas de que Deus encheu o mundo para vosso deleite. Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderdes. Vede sempre o lado melhor das coisas e não o pior.

Mas o melhor meio para alcançar a felicidade é contribuir para a felicidade dos outros. Procurai deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrastes e, quando vos chegar a vez de morrer, podeis morrer felizes sentindo que ao menos não desperdiçastes o tempo e fizestes todo o possível por praticar o bem.

Estai preparados desta maneira para viver e morrer felizes - apegai-vos sempre à vossa promessa escutista - mesmo depois de já não serdes rapazes e Deus vos ajude a proceder assim.”

Ou seja, o maior movimento organizado de jovens em Portugal, o Corpo Nacional de Escutas, é, em consequência da formação integral que proporciona, a actualização permanente da Mensagem de Jesus Cristo aos Jovens. Por isso, num contexto de reconhecimento pela escola fundada por B. P., no itinerário de formação para os jovens emanam, em cada actividade, as palavras do salmista “ante o esplendor da santidade estarão contigo tantos jovens como o orvalho ao romper da aurora.” (Sal 110, 3).

Neste caminho, chegado à quarta secção, o escuteiro como que retoma a sua promessa e, no momento do discernimento, com o bastão bifurcado perfilado à sua frente, renova os princípios pelos quais norteia as suas opções, começando por o Escuta orgulha-se da sua Fé e por ela orienta toda a sua vida.

E as palavras de S. Paulo, Patrono da Quarta, reacendem, no coração, a missão dos jovens que têm de partir sem abandonarem as responsabilidades, depósito de verticalidade, a que são chamados.

Ser escuteiro, no CNE, é ser corres-ponsável na acção da Igreja Católica com os jovens!, Em cada comunidade, em cada lugar, em cada momento, em cada jovem! È, com carisma próprio, ser protagonista ímpar na evangelização, na pastoral juvenil.

E na acção da Igreja com os jovens tudo é interpelante para todos!

Porque “há diversidade de dons mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios mas o Senhor é o mesmo”! (1 Cor 12, 4-5)

A pastoral juvenil como acção da Igreja com os jovens, na evangelização e na educação cristã, em ordem à opção por Jesus Cristo, à maturidade humana e cristã da fé e ao compromisso eclesial, apostólico e social baseia-se na diversidade de dons – sobretudo dos mais caris-máticos! Este laboratório de fé, na expressão de João Paulo II, quando desenvolvido nas suas máximas possibilidades, é uma escola de vida. Ajudará os jovens a descobrirem respostas de fé para as suas interrogações mais profundas e a assumirem-se como protagonistas da sua própria história e da nova evangelização, exercendo o apostolado, de modo particular, entre os outros jovens. (cfr Bases para a Pastoral Juvenil, 7)

E, sabendo que o património humano, espiritual, orgânico se centra nos jovens, o futuro é apontado, no que diz respeito à solidez da continuidade, como garantido pelos próprios jovens do hoje de cada tempo. Também o futuro da Igreja, na sua renovação sacramental, ministerial e social depende do futuro dos jovens. A expressão do Papa João Paulo II sintetiza essa cumplicidade “a Igreja só será jovem quando os jovens forem Igreja”!

Recorrendo à linguagem simbólica, tão rica no escutismo, a pastoral juvenil desenvolve-se com todos a impelirem a própria canoa! Os escuteiros sabem isso como ninguém! E hoje o rio é mais caudaloso. Só com a audácia de todos é possível remar contra a corrente porque à acção pastoral da Igreja é dado reconhecer que a nova realidade social, em muitas das suas manifestações, tem posto a descoberto, em vários aspectos, alguma fragilidade do processo evangelizador, mormente em relação aos jovens. A missão pastoral, por todos os meios, tem de visar este fenómeno da mutação cultural, pois só assim ajudaremos a que os grandes valores éticos continuem presentes na compreensão e no exercício da liberdade (cfr O novo contexto da luta pela vida. Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, 16 de Fevereiro de 2007).

O Senhor é nosso guia. Por isso, “há diferentes actividades mas Deus é o mesmo, que realiza todas as coisas em todos” (1 Cor 12, 6). A nossa riqueza está nesta complementaridade!

M. Oliveira de Sousa

Director do DNPJ