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terça-feira, 6 de março de 2007

Ecclesia,, 2007.03.06

O escutismo e a pastoral juvenil
«No escutismo tudo é motivante». «Ser escuteiro é ser corresponsável na acção da Igreja Católica com os jovens».

No último século, a oportunidade mais bem conseguida pela humanidade foi a “descoberta” dos jovens e a abertura destes ao saber, o acesso à igualdade de oportunidades no conhecimento, como meio para desenvolver a civilização.

Quem descobriu esta oportunidade, percebeu melhor que ninguém, a perspectiva etimológica como sistema para o conhecimento: o acesso de todos à escola (do grego scholé, que significa lugar do ócio)! Por isso, fazer escola entre os jovens é proporcionar-lhes a aquisição do saber com um método baseado num processo lúdico. Pelo ócio, no sentido grego, atingir a formação integral. Uma escola ímpar, a escola escutista.

Todo o dinamismo-testemunho, toda a acção com os jovens radicou no que há de mais autêntico na beleza que os jovens possuem: o encontro de cada um consigo próprio! E, por esse método, o encontro complementar, aquele que é feito por cada um com o Outro!

Robert Baden-Powell transformou o jogo em metodologia formativa; a regra em tenda (em espaço de entendimento!); o jovem em protagonista!

Por isso, no escutismo tudo é motivante!

Ser escuteiro, algo que se é para toda a vida, nos vários compromissos que se assumem, é manter a fidelidade aos valores experimentados pelo Fundador, sintetizados naquela que terá sido a sua última mensagem:

“O estudo da natureza mostrar-vos-á as coisas belas e maravilhosas de que Deus encheu o mundo para vosso deleite. Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderdes. Vede sempre o lado melhor das coisas e não o pior.

Mas o melhor meio para alcançar a felicidade é contribuir para a felicidade dos outros. Procurai deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrastes e, quando vos chegar a vez de morrer, podeis morrer felizes sentindo que ao menos não desperdiçastes o tempo e fizestes todo o possível por praticar o bem.

Estai preparados desta maneira para viver e morrer felizes - apegai-vos sempre à vossa promessa escutista - mesmo depois de já não serdes rapazes e Deus vos ajude a proceder assim.”

Ou seja, o maior movimento organizado de jovens em Portugal, o Corpo Nacional de Escutas, é, em consequência da formação integral que proporciona, a actualização permanente da Mensagem de Jesus Cristo aos Jovens. Por isso, num contexto de reconhecimento pela escola fundada por B. P., no itinerário de formação para os jovens emanam, em cada actividade, as palavras do salmista “ante o esplendor da santidade estarão contigo tantos jovens como o orvalho ao romper da aurora.” (Sal 110, 3).

Neste caminho, chegado à quarta secção, o escuteiro como que retoma a sua promessa e, no momento do discernimento, com o bastão bifurcado perfilado à sua frente, renova os princípios pelos quais norteia as suas opções, começando por o Escuta orgulha-se da sua Fé e por ela orienta toda a sua vida.

E as palavras de S. Paulo, Patrono da Quarta, reacendem, no coração, a missão dos jovens que têm de partir sem abandonarem as responsabilidades, depósito de verticalidade, a que são chamados.

Ser escuteiro, no CNE, é ser corres-ponsável na acção da Igreja Católica com os jovens!, Em cada comunidade, em cada lugar, em cada momento, em cada jovem! È, com carisma próprio, ser protagonista ímpar na evangelização, na pastoral juvenil.

E na acção da Igreja com os jovens tudo é interpelante para todos!

Porque “há diversidade de dons mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios mas o Senhor é o mesmo”! (1 Cor 12, 4-5)

A pastoral juvenil como acção da Igreja com os jovens, na evangelização e na educação cristã, em ordem à opção por Jesus Cristo, à maturidade humana e cristã da fé e ao compromisso eclesial, apostólico e social baseia-se na diversidade de dons – sobretudo dos mais caris-máticos! Este laboratório de fé, na expressão de João Paulo II, quando desenvolvido nas suas máximas possibilidades, é uma escola de vida. Ajudará os jovens a descobrirem respostas de fé para as suas interrogações mais profundas e a assumirem-se como protagonistas da sua própria história e da nova evangelização, exercendo o apostolado, de modo particular, entre os outros jovens. (cfr Bases para a Pastoral Juvenil, 7)

E, sabendo que o património humano, espiritual, orgânico se centra nos jovens, o futuro é apontado, no que diz respeito à solidez da continuidade, como garantido pelos próprios jovens do hoje de cada tempo. Também o futuro da Igreja, na sua renovação sacramental, ministerial e social depende do futuro dos jovens. A expressão do Papa João Paulo II sintetiza essa cumplicidade “a Igreja só será jovem quando os jovens forem Igreja”!

Recorrendo à linguagem simbólica, tão rica no escutismo, a pastoral juvenil desenvolve-se com todos a impelirem a própria canoa! Os escuteiros sabem isso como ninguém! E hoje o rio é mais caudaloso. Só com a audácia de todos é possível remar contra a corrente porque à acção pastoral da Igreja é dado reconhecer que a nova realidade social, em muitas das suas manifestações, tem posto a descoberto, em vários aspectos, alguma fragilidade do processo evangelizador, mormente em relação aos jovens. A missão pastoral, por todos os meios, tem de visar este fenómeno da mutação cultural, pois só assim ajudaremos a que os grandes valores éticos continuem presentes na compreensão e no exercício da liberdade (cfr O novo contexto da luta pela vida. Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, 16 de Fevereiro de 2007).

O Senhor é nosso guia. Por isso, “há diferentes actividades mas Deus é o mesmo, que realiza todas as coisas em todos” (1 Cor 12, 6). A nossa riqueza está nesta complementaridade!

M. Oliveira de Sousa

Director do DNPJ