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EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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quarta-feira, 29 de agosto de 2007

“Correio do Vouga”, 29 de Agosto de 2007

A unir como fazem as pontes!

Todas as construções perduram no tempo quando são bem alicerçadas!
Esta realidade é, humanamente, tanto mais assertiva quanto a mensagem bíblica (Lc 6, 48ss e 14, 28ss) fundamenta toda a vida daqueles que, como o Pe Artur, fazem da solidez de carácter e da persistência inquebrantável um dom ao serviço dos outros.
Sei que por isso, há um traço característico naquele que será para sempre o alicerce (assente sobre a rocha, resistente, rude, sólida), da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima: as obras!
Um sacerdote a quem o Senhor chamou para exercer o seu ministério durante quarenta anos na Póvoa do Valado e Mamodeiro só podia ser – que falem mais alto as memórias de D. Domingos da Apresentação Fernandes e de D. Manuel de Almeida Trindade, o livro “Os de Mamodeiro e o bispo de Aveiro”! - um homem de carácter, que consagrasse toda a sua vida a unir, a construir a unidade.
Mas foi preciso construir tudo: a paridade entre os lavradores abastados e preponderantes e os assalariados vindos quase todos do interior norte do país; criar índices de reconhecimento dentro de cada lugar – o centro do lugar da Póvoa do Valado, por exemplo, ainda hoje é denominado por “Barreiras”, porque ninguém se atrevia a passar sozinho de um lado para o outro, ali era uma barreira intransponível; gerar a comunhão entre as pessoas, independentemente do seu estado económico! Era necessário quem lançasse mãos destemidas à obra: o Pe Artur criou e ensaiou, por celeiros e sótãos, grupos de teatro; incentivou a criação de clubes; apoiou Ranchos Folclóricos; organizou cortejos de oferendas, em que o essencial era as pessoas prepararem (encontrarem-se!) em conjunto uma peça de teatro, uma canção popular, a dramatização de um quadro da vida no campo, para animar os vários desfiles. As noites de Inverno eram animadas por semanas de Pregação – os pregadores mais lembrados são o Frei Avelino e o Pe Andrade!
Fomentou os cursos de agricultura; os cursos para donas de casa; os cursos de órgão; os cursos de catequistas; os cursos bíblicos – quando um adolescente fazia a profissão de fé oferecia, a cada um, uma Bíblia; autocarros de peregrinação a Fátima; viagens de encerramento da catequese (catequistas e famílias)…as semanas de liturgia, mais tarde em Fátima.
Era necessário aproximar os que estavam longe?! Criou o jornal “Notícias de Nariz e Fátima” – para servir as duas comunidades que paroquiava. Nariz desde 1961!
O jornal seria a boa notícia que chegava a todos os lares, também aos emigrantes a quem gostava de visitar para os manter corresponsáveis com as suas raízes. Assumia como imperativo as visitas mensais aos doentes (colocava à porta da Igreja quem, porventura, estava hospitalizado), o sacramento da confissão, a festa da Santa Unção, o Dia da Comunidade Paroquial, Nossa Senhora: todos os dias era fiel à “leitura” – como dizia - das horas e à oração do terço!
E os jovens foram uma preocupação permanente. Desde a primeira hora abraçou os Convívios Fraternos quando o Pe Valente de Matos, seu conterrâneo e fundador do Movimento, o implantou em Portugal e em Aveiro. Mas também nos grupos paroquiais, nos campos de Férias, antecâmara de anos pastorais bem sucedidos!
Mas todas estas obras de evangelização requerem – expressão sua – um espaço para se desenvolverem com dignidade! A dignidade nas celebrações eucarísticas, nas procissões, nos funerais, no apoio social, nos cuidados de saúde,… Porque “na tua vida sê sempre retrato de Deus, nunca sua caricatura”! O Pe Artur anunciava e vivia este lema em tudo o que promovia!
E conquistado o reconhecimento, o afecto das pessoas surgiu a Paróquia, a Igreja (a Igreja!), a residência, o salão, o centro social paroquial, a Freguesia (foi determinante o seu empenho), o posto médico! Renovou todas as capelas. Tudo!
E tudo foi feito com uma diplomacia sagaz! O Pe Artur era mestre na diplomacia, mesmo quando era necessário subverter o adágio: semeava ventos, gerava tempestades porque acreditava na força da bonança que viria depois!
Quando a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima celebrou festivamente as bodas de prata sacerdotais do Pe Artur, em Julho de 1980, foram editadas as tradicionais pagelas evocativas da solenidade. Chamou-me a atenção o lema sacerdotal do Pe Artur “unir como fazem as pontes”!
Passados outros vinte e cinco, confirmava-se então a obra que Deus quis que ele edificasse: unir! Unir todas as pessoas, todos os lugares, unir o que era disperso. Porém, as comunidades de Nariz e Fátima reconheciam, em agradecimento festivo, que o Senhor exigiu também ao Pe Artur desde o início que poderia unir como fazem as pontes mas em primeiro lugar tinha de as construir! Todos sabemos o resto: nem olhou para trás (Lc 9, 62)!