Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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segunda-feira, 17 de março de 2008

PL, in "Correio do Vouga" - 2008.03.19

Memórias educativas

Tudo isto parece o Benfica e o Benfica parece-se com tudo isto! Suficientemente grandes para serem ignorados, ignorados por serem suficientemente grandes!?
Inevitavelmente… de novo no tema! Educação!
O sistema educativo português está a ser vítima de si próprio, das sucessivas mudanças inconsequentes, da falta de coesão responsável na gestão de recursos, sobretudo humanos.
Não há uma medida – vá lá, admitamos que há uma ou outra! – que consolide uma opção sustentável!
O sistema tem vivido na prática de “fazer o jeito”, algo que nos é peculiar. E essa prática fez escola na escola (pública)!
Vejamos algumas notas de historiografia educativa:
Escolaridade obrigatória em Portugal. Desde quando e até que ano ou idade?
Até 1937, o Estado Novo tem uma política educativa minimalista em relação ao ensino primário: redução da escolaridade obrigatória, criação de postos de ensino, simplificação dos programas escolares, orientação do ensino pela moral cristã. A ideia é de que o sistema de ensino deve preparar cada um para a sua função, não alimentando nem desejando a mobilidade social.
O plano de Educação Popular de 1952, com a subsequente Campanha Nacional de Adultos e o cumprimento da escolaridade obrigatória, mostra resultados positivos a partir da década de 60. Em 1964, a escolaridade obrigatória passa de 4 a 6 anos. Quanto ao estatuto profissional dos professores do ensino primário, assiste-se à sua desvalorização, com a nomeação de regentes escolares em 1931, cujo único critério é a sua idoneidade moral e intelectual, mas por outro lado há uma dignificação da imagem social do professor, pela carga simbólica da acção docente, controlada autoritariamente pelo Estado.
O incremento dado ao ensino técnico, com a reforma de 1948, é solidário dos projectos de industrialização em curso no pós-guerra. Já no governo de Marcello Caetano, o ministro Veiga Simão, visando o alargamento educativo dos jovens e a aproximação de Portugal aos países desenvolvidos, promoveu uma reforma no sistema educativo. Em 1967 cria-se o ciclo preparatório do ensino secundário, unificando o primeiro ciclo do ensino liceal e o primeiro ciclo do ensino técnico. Mas a explosão do ensino secundário acarreta a desvalorização da função docente, obrigando a um recrutamento rápido de professores sem qualificações (cerca de 80% entre 1970 e 1974). Sendo que, entre 1960 e 1975, a maioria prestava serviço em situação de «eventual» e «provisório», ou seja, para além de precária a classe era mal remunerada.
Na teoria, o docente era avaliado pela sua formação científica, profissional e técnica mas, aquando do recrutamento, o que pesava, pelo menos até à década de 60, era a sua ficha política.
Para abreviar o que já vai longo…E depois de Abril…
Igualdade de oportunidades (também no acesso à educação)? – Lei de Bases de 1986.
Profissionalização integrada nos cursos superiores?
Cursos superiores orientados para o ensino? Quando?
Professores com reconhecido estatuto? Estatuto da Carreira Docente, como?
Quando o sistema claudica… claudica tudo!?

terça-feira, 11 de março de 2008

PL, in "Correio do Vouga" - 2008.03.12

Indignação ou “dignação”?

Uma leitura possível dos acontecimentos recentes à volta dos professores começa por encontrar razões para o seu entendimento na expressão escolhida para encimar os acontecimentos de Lisboa.

Ao escolherem, quem o fez, “marcha”, cuja raiz etimológica está na terminologia militar (de marcial), deram à manifestação um sentido belicoso. Porque, em boa verdade semântica, só marcham os elementos componentes de uma força marcial (aceitando-se o vulgarmente entendido como soldados).

Portanto, está em “marcha” um corpo marcial, passe a redundância!

E como tantas outras forças que marcharam para Lisboa, também esta encontrará resistência, apenas se se encontrar outro Martim Moniz, alguém que se deixe entalar!

Depois, outro elemento curioso é o da indignação!

Centra-se aqui toda uma matriz da psicologia de massas: não há lugar ao pensamento crítico! Vejamos alguns apontamentos:

a) Em Agosto de 2005 são congeladas as carreiras! Reacção: “é um mal necessário”!

b) Quando a Senhora Ministra da Educação fez publicar o Despacho nº 13599/2006, de 28 de Junho – o proto indicador da revolução! – as reacções foram de descrédito, com banalidades do género “Oh! Assim não se vai aguentar lá muito tempo!...” Pouco ou nada se mexeu.

c) Em 19 de Janeiro de 2007, o Decreto-Lei n.º 15/2007, consagra a mudança! Nada, comparativamente, claro!

d) Em 22 Maio, o Decreto-Lei n.º 200/2007, abre o concurso para Professor Titular. Entre a expectativa do “eu vou ser, em princípio” e “para pior não havemos de ir”… nada!

Quantos debates, fóruns, esclarecimentos foram feitos?! Quantas greves tiveram impacto? Quantos docentes ficaram em “casa” porque três ou quatro não-docentes, de lugares-chave das escolas, impediram que estas abrissem?! Ou com propostas de intervenção que passavam pela demissão… dos outros!?

E, nesta via pela dignação, a única marcha imperturbável, que foi feita, foi a da Senhora Ministra! Traçou o plano e cumpriu-o!

Portanto, “indignação” nesta altura?!... Só se for antonomásia, para querer dizer Ministra da Educação.

O prefixo “in” é de negação, negação de algo que é digno, que merece consideração! Ou seja, é necessário inverter o percurso e fazer o caminho da dignidade, da “dignação”: atento, responsável, crítico, participativo, criativo, isto é, com o que cada um dos protagonistas tem em maior potencial: usar a inteligência!

Caso contrário, a única marcha possível de indignação será semelhante… à saída do Camacho do Benfica…! Em que o registo do subconsciente referirá “isto está tão mal que, com este ou sem este, não há remédio”!

terça-feira, 4 de março de 2008

PL, in "Correio do Vouga" - 2008.03.05

Protesto!

O espaço mais democrático que existe é como assistência, em multidão, de plateia desportiva.

O grupo protege-se! É reflexivo na essência; mesmo os que não pensaram ou não quererem ser integrados nessa situação, pelo facto de se ser espécie é grupo, parte do direito ao individual. Pode-se centrar a questão no campo das ideias e perceber o confronto ideológico entre os (direitos) universais e os particulares. Platão concebeu os universais como seres transcendentes, ("antes das coisas"): a existência de universais não depende da existência de indivíduos que os exemplificam. Aristóteles, ao contrário, defendeu uma teoria de universais como seres imanentes, ("nas coisas"): não podem existir universais a menos que existam indivíduos nos quais esses universais se exemplificam. Ora é claro que, as distinções centrais entre o realismo transcendente de Platão e o realismo imanente de Aristóteles é que um platónico admite, e Aristóteles não admite, a existência de universais não exemplificados.

No contexto desta reflexão, uma das hipóteses possíveis, quando em multidão, é que há uma síntese imanente e transcendente. Mesmo que a pessoa não queira, pelo facto de existir, muito mais ali (plateia), já está, na nossa opinião, a ser síntese da exemplificação de universais – que condicionam a vontade de cada um! – e cada um é universal.

Portanto, só se é em grupo, em multidão! Eu “sou” todos!

Como?

No campo conceptual, na profundidade das coisas, é assim mesmo. Apetece protestar, não é? Mas não há alternativa.

Em conclusão, cada vez que alguém protesta, individualmente ou em grupo e pelo grupo,… não protesta sozinho, protesta pela universalidade dos indivíduos.

Por isso, cada professor na rua, cada adepto no campo de futebol, cada barricado da vida “são” eu também… mesmo quando se discorda de quem está a discordar!

O que se pode fazer só por existir?!