Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

PL, in "Correio do Vouga" - 2009.02.25

Criatividade


As razões pelas quais estamos onde estamos, a todos os níveis, é porque o criámos assim. Criámos, plural, porque foi a mole imensa de participação na vida do grupo, da tribo – no sentido cibernáutico do termo: um conjunto de pessoas, geralmente de uma família ou associação de poucas famílias, que habitam uma cidade ou uma vila, em um território geográfico definido, dirigidos por chefes ou patriarcas. Os humanos que compõem uma tribo geralmente são da mesma raça, crença e costumes.

Efectivamente a nossa criatividade e a falta dela guiou-nos até aqui.

Precisamos de reinventar novos caminhos, novas propostas, sermos criativos.

Há dias, em grupo, que é um movimento informal já proeminente, no contexto da Aveiro e dos 250 anos da elevação a cidade, os “Amigos d’Avenida” vem reunindo boa vontade, diversidades, diferentes actores, protagonistas sociais, programadores,… e, sem qualquer vínculo que não seja a capacidade de criar a cidade, o espaço da tribo, vão conhecendo-se, descobrindo-se, lançando ideias, propostas,… participar civicamente!

E no meio de tantas coisas até há lugar para o “nada” – um evento a concretizar. O “Nada”!? Interessante?! Claro que é. É tão interessante como intrigante, por ser interpelativo, desafiante, como alguém (sabemos quem é mas não falámos com o autor) disse: “Aveiro tem um passado de ousadia” (no campo das ideias, acrescentamos).

Do nihilismo à sinfonia do silêncio; de João César Monteiro ao “nada” (internacional de Aveiro) exige-se criatividade para (re)descobrir, entre este andaimes e entulho do que resto da pós-modernidade, uma base sólida de valores para este século, para esta geração.

Do nada porá vir coisa alguma?!

Procura-se construir algo a partir da metodologia cartesiano da dúvida (metódica) e escrever novas páginas na mente, tal como o “profetiza” a alegoria da caverna (de Platão), sobre o choque causado pelo primeiro contacto dos homens com o mundo externo ao que viviam; seriam forçados a endireitar sua postura, e olhar para os objectos e para a luz, na forma como a conhecemos; a dificuldade em aceitar uma nova proposta, e que, devido ao padrão pré-estabelecido, o homem tenderia a reconhecer como reais os objectos na forma que ele já conhecia, e não no padrão apresentado. Para que fosse possível a adaptação, necessitaria acostumar-se gradualmente ao meio. A partir daí, o homem seria levado a formar novas conclusões sobre a realidade em que ele, agora, vive.

Criatividade ou pereceremos todos?!

Isto está a mudar!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

PL, in "Correio do Vouga" - 2009.02.18

A confusão


Em tempos acreditei que Babel, veterotestamentária, seria superada, vencida, pela manhã de Pentecostes!

Hoje acredito que o Pentecostes foi vencido pela Babel. Inverteram-se os tempos, inverteram-se as vontades, inverteram-se os conceitos, subverteu-se tudo.

Em toda a Terra, havia somente uma língua, e empregavam-se as mesmas palavras. Emigrando do oriente, os homens encontraram uma planície na terra de chinear e nela se fixaram. Disseram uns para os outros: «vamos fazer tijolos, e cozamo-los ao fogo.» Utilizaram o tijolo em vez da pedra, e o betume serviu-lhes de argamassa. Depois disseram: «vamos construir uma cidade e uma torre, cujo cimo atinja os céus. Assim, havemos de tornar-nos famosos para evitar que nos dispersemos por toda a superfície da terra.»

O senhor, porém, desceu, a fim de ver a cidade e a torre que os homens estavam a edificar. E o senhor disse: «eles constituem apenas um povo e falam uma única língua. Se principiaram desta maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projectos. Vamos, pois, descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros.»

E o senhor dispersou-os dali por toda a superfície da terra, e suspenderam a construção da cidade. Por isso, lhe foi dado o nome de babel, visto ter sido lá que o senhor confundiu a linguagem de todos os habitantes da terra, e foi também dali que o senhor os dispersou por toda a terra. (cfr Gn 11)

Chegados à esperada plenitude dos tempos, na manhã do dia do Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam.

Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem.

Ora, residiam em Jerusalém judeus piedosos provenientes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou estupefacta, pois cada um os ouvia falar na sua própria língua.

Atónitos e maravilhados, diziam: «Mas esses que estão a falar não são todos galileus? Que se passa, então, para que cada um de nós os oiça falar na nossa língua materna? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de Roma, judeus e prosélitos, cretenses e árabes ouvimo-los anunciar, nas nossas línguas, as maravilhas de Deus!» (cfr Act 2)

Ao ouvir o debate do programa da RTP, “prós e contras”, ressalta o óbvio: eis-nos em Babel! Basta lançar a confusão entre eles. Por exemplo,…homofobia!?

Se ainda formos a tempo, respeite-se, preserve-se o humano!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

PL, in "Correio do Vouga" - 2009.02.11

O outro lado do mundo

É recorrente ter-se como recurso de comunicação um duplo significado semântico sobre as expressões como esta, “o outro lado do mundo”. Pode-se querer abordar a componente estratégico–geográfica, o sentido mais literal da expressão e, então, vemos a perspectiva do atlas. Ou, como recurso de metáfora, usamos a expressão para constatar a abordagem sob um olhar diferente, a outra face do problema.

Tendo presente este ponto prévio, importa olhar o mundo do outro lado do hemisfério e sentir, como nós tão bem sentimos, quanto sofrimento grassa na Austrália. Lá, como cá, levantam-se claros indícios de se tratar de acção criminosa. A perplexidade é inevitável, perante a malvadez e mesquinhes humanas. Como tudo desaparece num fragmento de tempo?! E a pessoa fica sem nada, muita vezes sem a própria vida.

É um mundo complicado, este, o da mente humana?!

Com um sentido autocrítico, que nem é necessário ser muito apurado, vamos encontrando sinais para relativizar a concepção de alegria ou de tristeza, de felicidade ou de infelicidade, de esperança ou de desânimo, de alento ou de desespero. Tudo o que somos é tão frágil e as nossas fragilidades são o que torna belo o equilíbrio do que nos faz ser, que a vida é maior riqueza.

Assim, com as notícias que chegam do outro lado do mundo… qual crise económica, financeira, energética! Tão relativo!

Com este relativismo, o absoluto, que é o nosso, passa a ser relativo nos contextos em que se vive e interage com outros de grau de dificuldade maior. Assim, chega-se e excluir ou remeter para segundo plano o que parecia intransponível, porque essas dificuldades nada são comparadas com a tragédia de quem já nada tem.

E ainda a olhar sobre o outro lado do mundo, constatamos que o nosso mundo tem muitos lados. Provavelmente o lado bom não é o melhor, nem o lado mau é o pior dos lados de mundo. É que isto de lados do mundo depende sempre de onde está cada um!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

PL, in "Correio do Vouga" - 2009.02.04

O jeito e o pequeno favor

Estamos sempre preocupados com o que nos é próprio. Nomeadamente com esta coisa tão simples de fazer um jeito, dar uma mãozinha, fazer um pequeno favor.
Há duas atitudes culturais, muito nossas, portugueses, que na globalidade favorecem, estimulam, conduzem-nos para esse estádio transcendental, em que todos estão envolvidos mas há dificuldade, relutância em assumir.
A primeira das duas atitudes é a sociabilidade de proximidade. Somos um país pequeno, tudo é muito intenso e diferente em pouco espaço. Daí que consegue-se sempre uma proximidade, um parentesco, uma boa alma que dá um empurrãozinho na hora da dificuldade. Num hospital, nas finanças, numa empresa,… no leiteiro, no autocarro,…todos nós, no mínimo, solicitamos ao amigo, ao familiar “guarda um lugar para mim!”.
A segunda atitude reveste-se de contornos mais sérios e profundos, não gostamos muito de organização, de rigor, de dedicação sistemática. Isto não retira nada às grandes e aplicadas empresas, das quais, a mais conhecida, destaca-se a epopeia marítima e tantas epopeias que ainda povoam o entusiasmo lusitano.
Assim, não raro é constatar que, quando reunidos numa sala de espera, de muita espera, as atitudes mais comuns são, em primeiro, aguardar pacientemente acompanhado de lamentos sobre a lentidão de processos do serviço a que se acorre. Depois, enquanto se lamenta a lentidão, lança-se em redor o olhar e a atenção sobre as hipóteses de vir a reconhecer alguém! – hoje, esse horizonte de olhar tem como recurso o telemóvel! - “Se ao menos conhecesse alguém que me desenrascasse?!” Não tendo ou não querendo assumir o rigor das coisas, assumimos o jeito de contornar a dificuldade da coisa.
Portanto, o que soçobra em eficácia, sobeja em jeito e favor!
Em suma, na mesma sala de espera, já ninguém espera na sua vez mas segundo a hierarquização do “jeito”, da influência do conhecido, do amigo, do familiar, do companheiro, mas, apesar de tudo, ainda estão (quase) todos continuadamente à espera!
E com tanta proximidade, tanto jeito, quem continua à espera, nessa mesma sala, somos todos nós, é Portugal perante o mundo!