Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

PL, in "Correio do Vouga" - 2010.01.27

Hiper. Tudo é hiper!

Este prefixo, elemento de formação de palavras, tem expressão bem vincada no nosso tempo. É uma das principais características das realidades que construímos.

Será exagero? Bem, se o for, pelo menos já o é, “hiper”!

Estamos na fase da história das hiper-assimetrias. Estão consagradas as desigualdades entre o Norte e o Sul. E todas as questões sociais a ela “hiper-ligadas” são assumidas sem discussão.

Ultimamente surge com maior acuidade a problemática da natalidade e do envelhecimento.

Curiosamente, há uma hiper-demografia face aos recursos disponíveis e à administração que lhes damos!

Depois, por consequência, aumentam as disparidades. E um pouco por todo o lado - fisicamente representado ou à distância do “clique” digital - o mundo está sob tensão; em hipertensão!

Esta hipertensão, como se deduz, não é mais do que uma metáfora do que pulsa em cada um de nós, cidadãos do mundo! A pulsação de cada um, pelo consumo e relação, é tensa. Hiper-tensa.

Esta realidade que ultrapassa os limites do suportável está na “rua”! E logo agora, no tempo das redes sociais, da net: twiter, blog, facebook, hi5,… tudo a aproximar!

Acontece, porém, que isso são apenas meios, ferramentas! E confundimos os meios com os fins!

Não há autenticidade

A nossa vertigem por ir mais longe não está a aproximar quem está mais perto e pode fazer a diferença.

Fugindo do pretensiosismo da moralidade, duas notas ilustrativas: a gestão dos apoios ao Haiti e aprovação do Orçamento de Estado 2010!

O que é comum em ambos os casos?

A falta de autenticidade nas propostas!

Cada protagonista usa o diálogo como arma. O que vale é a demagogia para conseguir alterar ou adulterar os interesses. É à vontade de cada, uma espécie de marketing de hipermercado!

No final, tomando ainda como referência as ilustrações, quem sofre é quem mais precisa, as pessoas.

Lá como cá, a rua está mais apartada e apertada.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

PL, in "Correio do Vouga" - 2010.01.20

O limite da força humana


A terra tremeu!

Com certeza por isso, no meio dos elementos acabamos por notar quanto poderosos terão sido outros momentos semelhantes. Não é significativo apontar teofanias ou diabolizações. Apenas levantar o olhar e ver como, com ela e sendo dela, tremeu a fortaleza humana.

Inevitavelmente, o Haiti!

Enquanto o mundo tem os olhos postos na parte ocidental de La Española ou Hispaniola, perante a tragédia de 12 de Janeiro e as suas consequências, alguns dados suscitam comparações. Desde logo o número de habitantes (cerca de 9 milhões); a densidade populacional (292/Km2); duas grandes cidades (a capital com cerca de 2 milhões de habitantes e a segunda maior com aproximadamente 600 mil);… o sismo!

O Sismo!?

E se fosse entre nós!?

“Aos pobres tudo acontece!?” - parece ecoar, e ecoa mesmo, numa expressão de ensurdecedor silêncio de meios, a perplexidade.

E com estas interpelações, sinais dos nossos tempos e de sempre, outras mais pragmáticas se associam, se sobrepõem.

Como nos preparamos para o desastre?!

Com que ajuda internacional poderemos contar?!

No limite das forças, fica a autenticidade dos mais próximos. Só dos mais próximos! Metáforas, alegorias e parábolas não o expressam tão fortemente como os acontecimentos recentes.

O nosso limite está circunscrito!

E perante a tragédia, invadidos por sentimentos de toda a ordem, fortalece-se a preparação para enfrentar o incontornável, aprofunda-se a solidariedade para amenizar os limites!

Como Paulo, quando nos sentirmos fracos, então teremos de ser mesmo muito fortes!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

PL, in "Correio do Vouga" - 2010.01.13

O lugar venerável onde existimos


Sob o significado de “lugar venerável”, um espaço de grande amplitude, onde todos tenhamos lugar, ganhou, com a evolução semântica, a expressão de “templo”. Portanto, templo pode ser também, se o considerarmos, se o respeitarmos como tal, a arquitectura social que construímos. E cada estrutura (física) é sempre conservadora; porque conserva, protege da ruína, pelo menos.

Haverá lugar mais venerável do que aquele em que todas as pessoas, independentemente das diferenças (culturais, políticas, religiosas, étnicas, sociais), inter-agem?

Este lugar-comum, o espaço da nossa existência para ser de todos e funcionar para todos, com os mesmos direitos ,não pode ser alicerçado na dúvida, no cumprimento intransigente do que cada um tem por direito; há obrigações comuns para com a estrutura!

Assumamos, no entanto, que é necessário retocar a estrutura. Dar-lhe um ar mais moderno.

Vamos a isso…

Mas, é importante conservar o essencial, não?

Mexer em tudo indiscriminadamente é um perigo! Isto vai ruir!

Ah! Mas será que a opção não é mesmo essa, colocar tudo a baixo e construir uma nova estrutura, outra sociedade, um novo mundo?!

O que é que vai sustentar essa nova construção? Que alicerces? Que colunas?

Há por aqui algum desconcerto do Mundo, parece.

Sobre isso, deixemos que, esse “estorve antigo” (Camões) fale:

“Os bons vi sempre passar

No Mundo graves tormentos;

E pera mais me espantar,

Os maus vi sempre nadar

Em mar de contentamentos.

Cuidando alcançar assim

O bem tão mal ordenado,

Fui mau, mas fui castigado.

Assim que, só pera mim,

Anda o Mundo concertado.”

Pelo que lemos do Poeta, para os que acreditam no bem, está a chegar a hora de modernizar, modernizar mesmo, isto!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

PL, in "Correio do Vouga" - 2010.01.06

Em 2010, a República cem anos depois

Na Mensagem de Ano Novo do Presidente da República somos tentados em cair em comiseração!
“Há precisamente um ano, quando falei ao País, referi que 2009 iria ser um ano muito difícil. Acrescentei, na altura, que receava o agravamento do desemprego e o aumento do risco de pobreza e exclusão social. E disse também que Portugal gastava em cada ano muito mais do que aquilo que produzia.
Em nome da verdade, tenho a obrigação de alertar os Portugueses para a situação difícil em que o País se encontra e para os desafios que colectivamente enfrentamos.
Ao longo do último ano, o desemprego subiu acentuadamente, atingindo, no terceiro trimestre, 548 mil pessoas. Quase 20% dos jovens estavam desempregados.
A dívida do Estado tem vindo a crescer a ritmo acentuado e aproxima-se de um nível perigoso. O endividamento do País ao estrangeiro tem vindo a aumentar de forma muito rápida, atingindo já níveis preocupantes. Acresce que o tempo das taxas de juro baixas não demorará muito a chegar ao fim.
Se o desequilíbrio das nossas contas externas continuar ao ritmo dos últimos anos, o nosso futuro, o futuro dos nossos filhos, ficará seriamente hipotecado. Quando gastamos mais do que produzimos, há sempre um momento em que alguém tem de pagar a factura. Não é tempo de inventarmos desculpas para deixarmos de fazer o que deve ser feito.
Estamos perante uma das encruzilhadas mais decisivas da nossa história recente. Em face da gravidade da situação, é preciso fazer escolhas, temos de estabelecer com clareza as nossas prioridades. Os dinheiros públicos não chegam para tudo e não nos podemos dar ao luxo de os desperdiçar.” (SIC, com alguns cortes)
Nos finais do século XIX, existia uma grande crise económica, política e social. Portugal estava numa situação muito preocupante – pode ler-se em qualquer almanaque. No tempo da monarquia, o país estava em crise, o povo estava descontente com os preços dos produtos comerciais e em geral com as fracas condições de vida.
As principais fábricas do país situavam-se no Porto e em Lisboa, onde trabalhavam operários, de modo a que o resto da população trabalhava no campo com difíceis condições de vida. Portugal estava a atravessar uma fase difícil e com muitas dívidas. Por isso teve que pedir dinheiro emprestado ao estrangeiro. Para pagar os juros, o rei aumentou os impostos… e aumentou o descontentamento também.
Em 4 de Janeiro de 1910, segundo o Século, teve lugar, no Centro Republicano Rodrigues de Freitas, uma conferência dada por Inocêncio Camacho acerca do recenseamento eleitoral. Advogou o orador que o voto constituía “a arma com que todo o cidadão pode combater a administração pública e por meio da qual pode vigiar o destino dado ao património comum e à aplicação das receitas públicas.”
Ou seja, os portugueses cansaram-se e viraram tudo do avesso… para continuar na mesma!
Cem anos depois, onde chegámos!?