Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Vamos emigrar

 

Um Primeiro Ministro europeu, no caso o português, acaba de “assinar” simbolicamente o tratado (europeu) sobre o reconhecimento da matriz cristã nos fundamentos culturais da constituição europeia, a sua natureza fundacional na organização dos Estados, mobilidade de pessoas, dinâmicas e sinergias económicas de produção de emprego e desenvolvimento social.

“Emigrem!”

Ou seja, o mercado da língua portuguesa está aberto, Tratado entre todos os “países irmãos”, para receber os portugueses, esse povo de diásporas.

Não?! Não há nada que assegure esta concretização?! Não há protocolos assinados para garantia de receção de vontades estrangeiras de procura esses países?! Irão eles próprios dispensar os seus profissionais e garantir o lugar a estes excelentes europeus? Irão os professores em Missão? Estará reaberto o Acordo Missionário?

Então isto é mesmo profético, devemos entender este fenómeno na perspetiva bíblica.

“Todo aquele que tiver deixado a sua casa, ou os seus irmãos, ou as suas irmãs, ou o seu pai, ou a sua mãe, ou a sua mulher, ou os seus filhos, ou as suas terras receberá cem vezes mais, e terá por herança a vida eterna”. Citação do Evangelho de São Lucas,cap.XIX,v.29.

Provavelmente tudo isto não terá passado de um equívoco bem medido.

Sem valor para garantir o futuro dos que cá estão; estando estudado que os novos emigrantes, que consigam triunfar, não estão disponíveis para investir em Portugal ou para aqui encaminhar as suas poupanças, há três saídas possíveis para a crise, com base nesta solução final: pôr os portugueses ativos para fora (não há receita mas também não haverá despesas diretas com estes); fechar o país para liquidação total; salientar o “dever” de fé: não há nada que potencie as capacidades dos portugueses na diáspora mas todos têm obrigação, como bons cidadãos europeus, de acreditar que terão a herança eterna!

(in Correio do Vouga, 2011.12.20)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O fim da Era que já era

 

Em consequência da aprovação do Orçamento de Estado para 2012, que por sua vez é consequência - dizem?! - de muitas outras consequências, ficamos a saber que temos de ser mais contidos; ser mais austeros;… eufemismos para aquilo que já era claro: pobres!

Ora, ser pobre é algo que está no nosso “ADN (ácido desoxirribonucleico) social”. Ou seja, nada de novo em si mesmo. Essa Era já nós conhecemos! O problema estará no aproveitamento destes efeitos, a implantação de regimes que se movem sem face conhecida, as forças do “Mercado”, na antropomorfização desse ser que, apesar de animado ,ninguém conhece o rosto, a identidade, como tratou Pedro Birrada num destes dias numa entrevista televisiva.

Que valores vão guiar a economia, a justiça, a indústria, o trabalho, as responsabilidades sociais dos cidadãos?

Que sistema triunfará? Sobrará a democracia? Que democracia?

Que poder sobressairá?

A revolução está em marcha. A Europa já passou à frente do poder representativo. O governo é semi-representativo, a caminhar rapidamente para a oligarquia, a forma de governo e o poder político está concentrado num pequeno número de pessoas. Estados controlados por poucas famílias (políticas, por exemplo) proeminentes que passam a sua influência ao longo de gerações.

Por entre os escombros desta história mal contada, pouco clara, na mesma semana, Portugal aparece no relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) entre as maiores desigualdades sociais, no fosso entre ricos e pobres. Os rendimentos dos 10% mais ricos cresceram a uma média anual de 1,1% entre meados da década de 1980 e finais da década passada, enquanto no caso dos 10% mais pobres cresceu 3,6%. Para o total da população, o crescimento médio anual foi de 2%.

O relatório compara a desigualdade em 1985 com a desigualdade em 2008, e conclui que ela aumentou mesmo em países tradicionalmente igualitários, como a Alemanha, a Dinamarca e a Suécia, onde a diferença entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres passou de 5 para 1 na década de 1980 para 6 para 1 no final da década passada.

Os indicadores de desigualdade, as organizações que os tratam, os relatórios produzidos pouco interesse terão se nada for feito. Ficar-se-á por uma retórica inconsequente.

É preciso mexer com quem mexe connosco, caso contrário até o que temos nos será retirado. Ainda ressurgirá por aí algum Afonso Henriques a intitular-se senhor do que é de quem legitimamente o ganhou, com o esforço do seu trabalho.

Por decreto, despacho, circular, mail ou sms tudo se extingue sem sabermos bem para quê. Os feriados que vão deixar de o ser, estão entre essa prática.

Se o “1 de Dezembro” já era anacrónico (celebrar a restauração da independência num tempo de dependências dos mercados, da Europa, da Alemanha, do petróleo, da eletricidade, do trigo, …), o “5 de Outubro” representa a janela da igualdade de oportunidades, do acesso
à liberdade, do êxodo da vassalagem à identidade de cidadão. Coisas que ficaram no esquecimento.

E com esta, mais que provável, laicização de dois ícones da história portuguesa vem a secularização do Corpo de Deus e da Assunção de Nossa Senhora. Não tarda, com a influência de quem tem dinheiro (a China) para comprar as dividas soberanas, ainda algum primeiro ministro europeu, entusiasmado, sabe-se lá porquê, dá à hipoteca o calendário gregoriano, o nosso, globalmente tido como o ocidental, pelo calendário chinês.

Estamos no ano do Coelho, de 3 de Fevereiro de 2011 a 22 de Janeiro de 2012!

(in Correio do Vouga, 2011.12.07)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Épico em memória da Função Pública

 

A poucas horas de o mundo saber que o Fado é património imaterial da humanidade; a poucos dias do país paralisar com uma greve geral; estamos, o Estado Português, todos suspensos sobre o futuro, a médio prazo - considerando, pela rapidez de decisões, que até Janeiro decorre um período de tempo mediano.

Será que os trocos do orçamento do Estado que garante as pensões a quem tanto já deu, na Solidariedade Social, no cumprimento das suas obrigações para quem trabalha para este cumpra a sua missão, a Função Pública, terá direito a mais uns euros ou a menos umas centenas de Euros?!

O discurso do Ministro das Finanças, no Parlamento, pré-anuncia tempos épico. Talvez cumprindo as premonições de Otelo, inspirado porventura nos clássicos evoca, aparentemente, a batalha das Termópilas, travada no contexto da Segunda Guerra Médica, que decorreu no verão de 480 a.C., no desfiladeiro das Termópilas, na Grécia Central - já, na época, era central. Ali, de acordo com a tradição veiculada pelo historiador Heródoto de Halicarnasso, 300 espartanos sob o comando de seu rei Leónidas, enfrentaram centenas de milhares de persas liderados por Xerxes, filho de Dario. Leónidas, sabendo-se perdido, teria ordenado a retirada dos não-espartanos, e, com 300 compatriotas, teria combatido o colosso persa.

A grande disparidade numérica entre os combatentes levou a que a batalha terminasse, aparentemente, com uma vitória persa - muito embora os Gregos, antes de serem totalmente aniquilados, tenham conseguido infligir um elevado número de baixas e retardar consideravelmente o avanço dos Persas pela Grécia. A intervenção dos Gregos, para além de os levar a morrer como homens livres, e não como escravos persas, foi decisiva para o futuro do conflito, pois atrasou o avanço persa por três dias (apesar que o desejado fossem 10 dias), assim permitindo a salvação de Atenas e, por conseguinte, da nascente Civilização Ocidental.

O desfecho das Termópilas tem causado, ao longo da História, a maior impressão a nas letras, nas artes, na política – como é confirmado agora!

O poeta Simónides de Céos escreveu o epitáfio, que foi colocado no local, «Estrangeiro, vai contar aos Lacedemónios que jazemos aqui, por obedecermos às suas normas.». Cícero transliterou para latim “Estrangeiro que passas, diz a Esparta teres-nos visto aqui jacentes obedecendo às santas leis da Pátria”. Luís Vaz de Camões, no último canto de Os Lusíadas, «Ou quem, com quatro mil Lacedemónios, o passo de Termópilas defende [...]»,…

O Ministro das Finanças, em 2011 d.C., declama, sobre a Função Pública, “à mui nobre e heroica função pública que destroçada – muitos a descontar pouco, que é tudo o que lhes resta! - e empobrecida, por nós, salvou Portugal das garras do défice” .

Os ecos, emocionados e mobilizados, poderão chegar em breve com sentida repercussão.

É que isto é demais!

(in Correio do Vouga, 2011.11.23)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Democracia?! Qual democracia?

 

O início da segunda década de XXI permite experienciar vivências de ambiguidades históricas que têm reflexo em toda a organização social, independentemente do modelo ou corrente ideológica que a suporta.

Sobre a história da democracia, bem o sabemos, tudo isto é um movimento constante que se atualiza no tempo, qual Pedra Filosofal, “sempre que o homem sonha, o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos duma criança”, escrita por António Gedeão, pseudónimo do Dr Rómulo de Carvalho, musicada e cantada por Manuel Freire.

O sonho dos homens e das mulheres possibilita, umas vezes mais célere outras mais lentamente, que o poder do povo (do “demos” + “Kratos” grego) faça um grande percurso; percurso sinuoso, difícil, talhado por várias mãos, escrito por uns, cantado por outros, refundando-se, evoluindo no essencial.

Apesar do discurso acerca da dificuldade na definição de democracia há algum consenso acerca do justificação do conceito de comunidade política, aquela unidade ou comunhão de unidades nas quais todas as pessoas possuem o direito de participar dos processos da vida pública, de debater ou decidir, que se baseia em direitos universais a partir dos princípios de liberdade de expressão, igualdade e dignidade humana.

Por tudo isto, o que potencialmente somos, enquanto comunidades democráticas, estaremos muito próximo de um estádio que poderemos intitular de democracia feudal, a era do feudalismo financeiro. No século III, quando o sistema esclavagista de produção do Império Romano entrou em decadência, com a crise económica gerada pelas invasões germânicas, muitos dos grandes senhores romanos abandonaram as cidades e foram viver nas suas propriedades. Surgiram os feudos medievais. Romanos, gregos, ítalos, iberos, celtas,… povos menos ricos procuraram proteção e trabalho nas terras desses senhores. Mas, para poderem existir nessas terras, eram obrigados a entregar ao proprietário parte do que produziam. Progressivamente os anteriores escravos foram substituídos pelo sistema servil de produção, que predominou na Europa. Os senhores feudais, proprietários, podiam aumentar o jugo e o juro. O trabalhador, iludido com o sonho de vida melhor através de alguma concessão, trabalhava toda a vida apenas para servir. O resto desta democracia medieval é história contemporânea que temos na memória.

E letrando ou cantando, não pode o homem e a mulher deixar de sonhar; isso matará a canção e deixa de fazer que o mundo pule e avance.

Quando deixar de haver lugar ao sonho, a democracia, com base no argumento constitucional de letra morta que o povo tem poder (talvez o “poder estar calado”), esta democracia é reproduzida como legitimada mas será uma democracia unívoca, pre-feudal! E ainda corremos o risco de chegar ao período mais puro deste percurso, resumido na “ Oração fúnebre” de Péricles!

(in Correio do Vouga, 2011.11.16)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

RECONSTRUIR SEM SAIR

 

Há muito vimos a considerar que não seria possível vivermos com tanto produzindo tão pouco. Voltamos ao assunto.

A nossa vida só poderia estar em super deficit. Isto é, seguindo o exercício da contabilidade mais simples, recorrendo inclusivamente ao étimo da palavra, de origem latina, significa que há um saldo negativo. Num orçamento o saldo negativo ocorre quando os gastos ou despesas superam os ganhos ou receitas. Quando o saldo é negativo, o orçamento é chamado deficitário. O oposto, o que acontece com quem tem os lucros, também na linguagem contabilística, sucede o superavit, a diferença para mais entre uma despesa e uma receita.

Portugal necessita de soluções, de propostas concretas, sérias, exequíveis. Vamos apontar algumas hipóteses.

O que recebemos e transformámos em investimento, infraestruturas e equipamentos, não é “devolvível” a ninguém. Está cá, é de Portugal. Vamos retirar o usufruto. O essencial está nas estruturas (redes) viárias que cobrem o país, nos equipamentos industriais (parques) e culturais, clima, solo, parque habitacional.

Quais são os principais sectores onde somos deficitários e que trazem retorno imediato, sem ser os impostos, claro? Pão, indústria, conhecimento, habitação.

1 - Novas centralidades industriais, habitacionais e culturais – incentivos para a deslocalização (regresso) ao interior do país. E que incentivos num país pobre?! Basta uma reta distribuição de bens. O resto é da responsabilidade do Estado, no seu papel essencial, o de regulador e prestador de serviços que garanta a universalidade no acesso de todos aos cuidados essenciais de vida: justiça, saúde, conhecimento, segurança, igualdade de tratamento.

2 – Pão. Se acabar a avareza de intermediários (a começar em Bruxelas e associados) e houver a promoção dos mesmos princípios, é possível, no mínimo, a autossubsistência. O resto é dar espaço ao conhecimento e arte humana que Portugal possui.

3 – Faturação, cumprimentos, impostos,… Ninguém gosta de estar a ser ludibriado. O Estado está a ludibriar sistematicamente os cumpridores. Aumento de impostos e impostos que recaem sobre produtos duplamente tributados: taxas de transação de imóveis – Imposto Municipal sobre Imóveis; imposto sobre veículos – portagens – estacionamento - … para onde vão? Onde é que está o usufruto desses tributos? A lista é infindável mas, para terminar, quem é que acredita que pedir faturas vai ter retorno para o Estado? Se o cidadão não tem retorno direto, pelo menos se não é devidamente explicado para onde vãos os seus impostos, os nossos impostos. Neste caso particular, seria mais fácil, com recurso a uma simples aplicação, seguindo o princípio da justiça social tributária, dar um efeito causal, a correlação causa efeito: peço a fatura porque vou ter um determinado, simbólico porventura, retorno sobre o transtorno.

Com o Estado atual apenas se agrava o estado dos portugueses.

 

(in Correio do Vouga, 2011.11.08)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

EFEITOS ORTOGRÁFICOS

 

O novo acordo ortográfico trouxe alguma complexidade efetiva à redação do português. Porém, também a sintaxe e a fonética sofrem com as alterações. Vemos o assunto com alguma distância crítica mas sem grande convicção sobre as hipóteses de ser muito diferente. Em tese, tudo o que seja “acordo” é um benefício em sim mesmo; “acordo”, do Latim “ad”, “junto de” mais “cor”, “coração”. Um acordo, na verdade, só se consegue de coração a coração, no sentido de que se deve ser fiel aos seus termos.

Em suma, é importante ter um mini-guia sobre o assunto. Vamos dar uma pequena ajuda.

O que muda?

Algumas palavras que se escreviam com maiúscula inicial deixam de ser; são eliminados alguns acentos que constituíam exceção; são eliminadas algumas consoantes mudas que não pronunciamos mas que tínhamos de escrever; alguns aspetos de utilização do hífen são sistematizados.

O que não muda?

As consoantes k, w, y; o trema nos nomes próprios e derivados; os nomes das pessoas, independentemente das alterações aos acentos, consoantes,…; o uso do hífen em: unidades discursivas lexicalizadas, as palavras que derivam de um nome de lugar com mais do que uma palavra.

Parece pouca coisa mas como são pormenores de grande expressividade têm impacto, provocam diversos constrangimentos.

Pensamos até que é por estas razões, as do Acordo Ortográfico, que vamos sentido perplexidade na capacidade do nosso Governo acertar com algumas grafias. Por exemplo, não vamos subir os impostos – sobem em tudo o que mexe e em tudo o que fica parado, mesmo que não respire; limite para benefícios fiscais em sede de IRS e querem aplicar uma multa a quem não pedir fatura (para que é a fatura? Cada cidadão um guardião do Estado?! – caminho perigoso este…); não haverá subsídio de férias nem de natal para a função pública em 2012 e 2013 (pelo menos?!) – então por que é que está imputada verba para esse fim no Orçamento da Assembleia da República (Diário da República, 1.ª série — N.º 200 — 18 de outubro de 2011, Resolução da AR nº 131/2011)?!

Só acreditamos em tudo isto porque estamos no período transitório para a aplicação do Acordo Ortográfico! E tudo isto, do Acordo Ortográfico, tem alguma complexidade, provoca equívocos, enganos, gralhas (muitas gralhas),… temos de estar vigilantes para ajudar na correção!

(in Correio do Vouga, 2011.01.01)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Parabolizando um certo Outono

 

Aí está, chegou este Domingo. Com considerável atraso em relação a todos os outros que temos memórias, referências semelhantes só há setenta anos, a estação do ocaso da vida, com o frio, as tardes sombrias, a chuva, os dias curtos, o tempo propício a ficar por casa, o desconforto de procurar agasalho odoroso a naftalina, própria de quem está guardado das traças há muito,… está entre nós! Este é um Outono mentiroso! Tão mentiroso que acaba por retirar um pouco da vida de cada Português, sobretudo dos que ainda têm alguma coisa para tirar e o que se lhes retira sente-se. Há outros portugueses que nada sentem! Os que nada têm ou nunca tiveram e os que tiram tudo e tudo podem possuir!

Este Outono tornou-se ele próprio mentiroso, faltou à verdade. Andámos o Verão todo a pensar que o clima ameno, pouco quente, até primaveril, perspectivava uma continuidade idêntica. Um pouco mais de frio, é certo, algumas rajadas de vento mas nada mais. Depois viria o Inverno, o já prometido Inverno de salvação das contas públicas em que cinquenta por cento do subsídio de Natal não seria nada por demais neste peditório nacional para contrariar o défice.

Neste ambiente bucólico passaram Agosto, Setembro, entrámos em Outubro e, de repente, uma hecatombe. Tudo se desmorona à volta. Efetivamente até o sempre altivo e, como o Martini, meio-seco PR veio a terreiro augurar que nada disto é justo!? Pasme-se. Que Outono invernoso!? Em que é que ficamos, Outono? Verão ou Inverno?

Na verdade, temos todos de pagar, agora que chega o rigor (do Inverno) o que, qual cigarra!, trauteámos em todos os Verões, praticamente desde o Verão Quente de 1975. Mas isto pode-se fazer de outra maneira. Assim ninguém aguenta este horizonte gélido!? É que os próximos Verões também vão ser um pouco frios, muito frios, sem qualquer aconchego. Mas isso, enfim, água o deu água o levou, mas o 13º mês é complicado de entender. Não haverá verdade nesta contabilidade de aritmética global, isto é, difundida pela internet?

Os ingleses pagam à semana. Porquê? Um exemplo aritmético simples que não exige altos conhecimentos de Matemática mas talvez necessite de conhecimentos médios de desmontagem de retórica enganosa.

O 13º mês não existe. O 13º mês é uma das mais escandalosas de todas as mentiras do sistema capitalista, e é justamente aquela que os trabalhadores mais acreditam. Demonstração aritmética. Um trabalhador ganha € 700,00 por mês. Multiplicando-se esse salário por 12 meses, recebe um total de € 8.400,00 por um ano de doze meses. Em Dezembro, é-lhe pago o 13º mês, ficam as contas por € 9.100,00/ano. Ora, se o trabalhador recebe € 700,00/mês e o mês tem quatro semanas, significa que ganha por semana € 175,00. Como o ano tem 52 semanas, se multiplicarmos € 175,00 (Salário semanal) por 52 (número de semanas anuais) o resultado será € 9.100,00.

Ó diabo, será que isto bate certo?

Assim, estamos a ser enganados mais uma vez?!

E continua a dar certo?! Se há meses com 30 dias, outros com 31 e também meses com quatro ou cinco semanas… pois é?!... E mesmo assim, recebemos todos os meses a mesma coisa e trabalhamos todo o tempo útil ou mais?!

Será que ainda vamos pagar para trabalhar?! Será que vão levar muito caro por isso? É que corremos o risco de ficar sem nada para as outras coisas como, por exemplo, comer!?

Este Outono está mesmo a ser enganador…

(in Correio do Vouga, 2011.10.26)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mal-educados

 

Há por aí uma capacidade fluente e enérgica para superar algumas vicissitudes a que fomos relegados. Surgem algumas evidências no plano de investimentos, e consequente motivação, naquilo que a ONU considera como essencial para o desenvolvimento dos povos, a educação.

Grande parte dos compromissos internacionais em relação ao progresso na educação assume que a educação é um dos principais focos de desenvolvimento. Porque é graças a ela que é possível melhorar as condições de prosperidade social, económica e cultural dos países. A elevação do nível educacional da população está associada à melhora de outros factores-chave de desenvolvimento e bem-estar tais como a produtividade, a mobilidade social, a redução da pobreza, a construção da cidadania e identidade social e, finalmente, o reforço da coesão social.
A educação é a alavanca que ajuda a conciliar o crescimento, equidade e participação da cidadania e compromisso social. Desempenha um papel central no crescimento das economias, é um investimento com alto retorno e é o primeiro factor que estimula a criação de valor. Indivíduos mais educados aumentam as suas capacidades para contribuir de forma mais diversificada e eficiente no desenvolvimento produtivo de um país. Por outro lado, a educação é uma das principais áreas para reduzir as desigualdades no futuro e uma forma privilegiada para superar a pobreza. Além disso, no século XXI, marcado por conflitos culturais e enfraquecimento das certezas, a educação torna-se uma ferramenta para repensar criticamente a realidade e projectar o futuro.

Mas que investimento será este a que se refere a ONU?! Dinheiro?! Não há. Portanto, quem não tem dinheiro não tem vícios!

O problema central é que, no nosso caso, o adágio foi adulterado. Não temos dinheiro mas continuamos cheios de vícios.

Destacamos apenas um, o que consideramos fulcral: a incoerência de processos e propostas!

A título de exemplo, vejamos dois casos emblemáticos, apenas na perspectiva dos resultados:

Avaliação Externa das Escolas. Um dos objectivos, promover uma cultura de melhoria continuada da organização, do funcionamento e dos resultados do sistema educativo e dos projectos educativos.

Avaliação do desempenho dos docentes. A avaliação do desempenho do pessoal docente visa a melhoria da qualidade do serviço educativo e das aprendizagens dos alunos, bem como a valorização e o desenvolvimento pessoal e profissional dos docentes, mediante acompanhamento e supervisão da prática pedagógica, no quadro de um sistema de reconhecimento do mérito e da excelência.

Interessante, não é? O problema é que não há nenhum mecanismo “vivo” que concretize estes objectivos sem implicar dinheiro?!

Se o remédio está na cura dever-se-ia pensar noutra medicação; inverter a marcha; ser criativo (fazer mais com menos recursos!).

Como não há dinheiro, congela-se ou retira-se o que lá estava!

Em síntese, cumpre-se de forma séria o melhor que se pode sabe. A Educação pode esperar.

A ONU,…coitada!… Pitágoras,… esse está morto!

"Educai as crianças e não será preciso punir os homens" (Pitágoras, 570 a.C.).

(in Correio do Vouga, 2011.10.19)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

“Não tenho óculos”

 

Na noite da Madeira há uma verdade absoluta, que pode sintetizar os últimos anos da história recente do Arquipélago, é necessário algum aumento artificial da capacidade de visão, no caso concreto uns óculos, para perceber o que está escrito nas linhas mais recentes e futuras.

É caso para levar à risca o discurso do Presidente do Governo Regional, na consequência dos resultados obtidos no dia de eleições, “não tenho óculos”! Vislumbra-se pouco no futuro da “Pérola do Atlântico” e do todo que somos, Portugal. Que grande verdade: “não vejo nada. Quem me empresta uns óculos.”

Aonde chegámos! Chegámos ao limite. Até para ver meia dúzia de linhas da história temos de mendigar o empréstimo de uns simples vidros graduados!?

Mas temos de conseguir melhorar esta capacidade oftalmológica! Ver na história, passada e presente, um futuro de esperança.

Ao referenciar o último quartel do século XX e a primeira década de XXI, uma história de quatro décadas, apenas constatamos, no todo, uma gota no Oceano (literalmente) Atlântico. Quando em 1419, a mando do Infante D. Henrique "O Navegador", o Arquipélago da Madeira, que já era citado em 1350 no Libro del Conoscimento e representado em mapas italianos e catalães do século XIV, foi redescoberto por João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, com o fim de suprir as crónicas deficiências do Reino em cereais e também para que servisse de apoio à expansão marítima de Portugal. Portanto, desde o século XV, a Madeira desempenhou um importante papel nas grandes descobertas portuguesas, tornando-se também famosas as ricas rotas comerciais que ligavam o porto do Funchal a todo o Mundo que o Atlântico Sul circunscreve e que circunscreve o próprio Atlântico.

Qual o papel da Madeira em 2019, por ocasião dos 600 anos da data já referida?

A Madeira, como todas as regiões (Administrativas ou de toponímia orográfica) do nosso país, não pode ser considerada proscrita ou, como se ouve em alguns comentários habituais, cultos, sem dúvida, mas enviusados de ideias pre conceituosas ou de arrogância metropolita, desrespeitadoras do ôntico da diversidade em prol de elites exclusivas no direito de pertença a um determinado povo ou grupo, uns pobres coitados que não sabem o que os espera. Aí já estamos todos em relação às Finanças do Mundo.

Este gesto humilde do Dr Jardim é inspirador. Pedimos agora os óculos para ver o futuro imediato. A seguir vamos curar estas faculdades, a da visão e da consolidação de esforços em todas as frentes.

O que nos faz ser Portugal é sermos Portugal! Mesmo podendo e devendo ser melhores, a começar por exemplo na disponibilidade para a família e para a escola, isto é, uma nova Idade na formação e cultura.

(in Correio do Vouga, 2011.10.12)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Língua e linguagens. Alemão

Na semana em que se celebra o Dia Europeu das Línguas, que foi criado durante o Ano Internacional das Línguas, em 2001, olhamos para o que dá sentido e para o que o pode distorcer!

Todos os anos, o dia 26 de Setembro passou a ser uma forma de juntar as pessoas, através da Europa inteira, na celebração da diversidade linguística, riqueza inestimável da Humanidade.

Concordando com esta diferenciação, as línguas, como expressão da unidade dos povos na diversidade das suas culturas uma língua é uma “pátria”, referia-o Pessoa/Bernardo Soares “não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse” (Livro do Desassossego, texto 259)

Este legado identitário que serviu para exacerbar a Europa, que conduziu a duas guerras mundiais, tem uma identidade de traços comum, o Alemão. É preocupante.

E a propósito do Dia Europeu das Línguas, recordamos os alicerces da construção europeia quando, no dia 9 de Maio de 1950, Robert Schuman apresentou uma proposta de criação de uma Europa organizada, requisito indispensável para a manutenção de relações pacíficas. Esta proposta, conhecida como "Declaração Schuman", é considerada o começo da criação do que é hoje a União Europeia.

A “Declaração de Schuman” interpelava a que a paz mundial não poderá ser salvaguardada sem esforços criadores à medida dos perigos que a ameaçam.

A contribuição que uma Europa organizada e viva pode dar à civilização é indispensável para a manutenção de relações pacíficas. A França, ao assumir -se desde há mais de 20 anos como defensora de uma Europa unida, teve sempre por objectivo essencial servir a paz. A Europa não foi construída, tivemos a guerra.

A Europa não se fará de um golpe, nem numa construção de conjunto: far-se-á por meio de realizações concretas que criem em primeiro lugar uma solidariedade de facto. A união das nações europeias exige que seja eliminada a secular oposição entre a França e a Alemanha.
Com esse objectivo, o Governo francês propõe actuar imediatamente num plano limitado mas decisivo.

Schuman, natural do Luxemburgo, estudou na Alemanha, viveu em Metz, vindo a ser, em 1950, Ministro dos Negócios Estrangeiros da França.

Nesta mesma língua levantam-se ventos preocupantes, proclamando o agravamento de sanções, ações no Tribunal Europeu de Justiça e perda de soberania como algumas das medidas preconizadas por Angela Merkel contra os países da Zona Euro que não cumpram as metas de convergência. Quanto à permanência da Grécia no Euro, a chanceler alemã coloca para já a questão nas mãos da troika, a quem cabe vigiar o comportamento de Atenas no programa de ajustamento económico.

Apertada por todos os lados, na pressão provocada pela falta de votos, a Senhora Chanceler pode conduzir isto para um caminho sem retrocesso. Ou então, será demagogia na sua própria língua.

Alguém traduza para Alemão a “Declaração de Shuman”, por favor.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Este Jardim…?!

 

Visto do exterior, saxões, latinos, gregos, germânicos, turcos, eslavos, ficam confusos com o que se passa na edílica ocidental praia lusitana; a praia continental e as das ilhas adjacentes.

É muito provável que haja dúvidas de proporção.

Porque é que tão poucos e com índices de desenvolvimento tão baixos gastam tanto!?

E como se não bastassem as dúvidas quanto ao todo, o que pensarão sobre os “buracos” encontrados na Madeira?!

Aquele Jardim já não é o que era.

Mas a toponímia e antroponímia não deixa de suscitar algumas interpelações que podem ajudar à compreensão retrospectiva do que por aqui vai.

O território insular, socorrendo-nos de uma terminologia anglo-saxónica, denomina-se “Wood”; a ilha de “Wood” é administrada por um “Governador Local” de apelido “Garden”; o Chefe do Estado é o Senhor Silva, isto é, “Splinter” Silva; e depois de Sócrates, um apelido de renome, Portugal tem como Primeiro Ministro o Senhor “Rabit”.

Isto não parece abonar nada de bom para a Troika – outra coisa fantástica, de aparência épica, para completar uma paleta de mil cores?! Aliás, a Troika é que deve estar preocupada com tudo isto. Colocaram cá o dinheiro e não sabem que buraco é que taparam com esse “money” todo! Há por cá cada “hole” que, se estavam à espera daqueles do tamanho do do golfe,…bem os enganámos?!

É claro que isto foi um engano; andamos todos enganados.

Alguém acredita que as instituições que têm por missão conhecer, avaliar, regularizar, não sabiam o que se passa na Madeira, na TAP, na Refer, na RTP, na Estradas de Portugal,… como é que possível?!

Temos de dar a volta a isto.

(PL, in CV, 2011.09.21)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Regresso das aulas

 

Chegaram os dias da penitência, qual cântico de imposição de cinzas, e ecoa um pouco por todo o lado; quase por todo o lado (famílias, facebook e outras redes, nas praias, a televisão, nas ruas,…). Afastam-se desta pesarosa melodia quase todos os que vivem um pouco da indústria Educação. Há outras formas de a ver, nos transportes, livrarias, papelarias, lojas de desporto, pastelarias, lojas de roupa, luz, gás, telefone,… são quase mil micro-empresas a trabalhar para que o país tenha um futuro melhor, promissor. Ainda bem!

Por aqui, no regresso às aulas, também encontramos bálsamo para as famílias que vivem preocupadas com a ocupação dos seus filhos.

Revisita a igualdade de oportunidades numa área tão nobre do serviço público, talvez das poucas em que todos sabem a solução e conhecem os direitos mas não descortinam, não vislumbram com facilidade os valores do dever, da equidade. A Escola já não mete medo a ninguém, ainda bem, sublinhe-se, mas poderia ser mais querida por todos. É curiosa a atitude dos “utentes”, hoje muitas vezes designados “clientes”, na lógica de oferta e procura, quando se dirigem a um hospital, finanças,… e quando procuram a escola!? Vale a pena estudar as reacções sociológicas!

Por fim, os protagonistas directos, os professores, os alunos, os assistentes técnicos e operacionais. Quase todos, porque é de trabalho que se trata, irmanam-se na penitência do “tem que ser”. Uns porque é um bem precioso, nos dias que correm, ter trabalho; outros, os alunos, porque é difícil entender no imediato a utilidade do longo prazo!

Porém, independentemente das expectativas, estão todos de regresso; começa novo ano. Deseja-se que, de novo, não tenha apenas o acordo ortográfico!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Mercenário e desertor

 

O vocabulário bélico, com um sabor a Legião Estrangeira, apoderou-se do “fair play “ da selecção nacional de futebol.´

Como é do conhecimento público, o internacional português Ricardo Carvalho abandonou, sem explicação devida, a quem de direito, os treinos da selecção nacional. Posteriormente, Paulo Bento, o seleccionador, classificou a atitude como deserção.

Como não há duas sem três, Ricardo Carvalho ripostou aventando a hipótese do treinador, por este exercer o trabalho remunerado, poder ser classificado de mercenário.

O assunto morreu rapidamente; foi abafado por coisas sérias tais como a situação económica das famílias, agora que um ano escolar tem início.

Não queríamos deixar passar este episódio sem dar algum merecido ênfase à terminologia linguística em causa.

Sobre “desertor”. Parece claro que de desertor e de louco, todos teremos (hipoteticamente!) um pouco.

Ora, desertor é aquele que deserta. Isto é, provoca o deserto, o vazio, ou retira-se para um lugar deserto! – o próprio Jesus Cristo, ao ir para o deserto, acaba por ser um desertor!

Se Ricardo Carvalho deixou Óbidos para seguir para Madrid, tem toda a razão. Aquilo nos últimos tempos tem sido um pouco deserto! Se quis deixar o lugar para outro, facilitou o trabalho a Paulo Bento que já estava a preparar –lhe a travessia do deserto, isto é, viagem para o banco de suplentes.

O lado Mercenário do assunto. Em sentido estrito, é aquele que serve por dinheiro, um assalariado. Portanto, de Mercenário e louco todos teremos um pouco!

E, perante o estado a que isto chegou, poder ser mercenário é quase um acto heróico.

Ressalta à evidência que, em ambas as circunstâncias, o que faz uma ou outra situação ter uma leitura pejorativa é a falta de carácter, quer ao abandonar uma responsabilidade quer quando se recebe um soldo por algo ilícito ou demérito.

Não será menos importante considerar que a crise, que agora é económica e financeira, há muito que se instalou com anarquização e laxismo dos princípios e valores da vida pessoal e da vida em comum. – Na nossa opinião, este episódio, como outros, são relevantes disso mesmo.

(in Correio do Vouga, 2011.09.07)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

DACL

 

Esta sigla tem colocado, nos últimos dias, a cabeça às voltas de muitos intervenientes no sistema educativo. Neste caso concreto, significa Destacamento por Ausência de Componente Lectiva; ou, por palavras mais comuns, o professor, funcionário público, não tem horário no quadro em que está, na escola ou zona pedagógica, para onde foi contratado.

Começa a ser evidente que o sistema educativo tem docentes a mais, face às condições estabelecidas nos últimos anos.

Mas o que é que contribuiu para isto? – perguntar-se-á

A primeira inferência situa-se na diminuição da população portuguesa, sobretudo dos nascimentos. Há vários anos que o Censos (ou até no dia-a-dia das nossas cidades, populações em geral) indicam este decréscimo. A década de 70 ainda foi relativamente disfarçada com os portugueses provenientes das ex-colónias mas desde 80 que era previsível este resultado, também camuflado por alguma imigração nos anos 90, mas quase sem expressão.

Portanto, não há crianças e jovens em Portugal para o sistema educativo (equipamentos e recursos) disponíveis, de maneira particular os docentes que entraram para os Quadros do Estado em finais de 90.

Acrescente-se a falta de rigor na planificação e na administração de recursos. Tudo isto funciona em sistema “gaita-de-foles”: quando aperto, apita; quando sopro, enche! Portanto, só “dói” quando se aperta. O que transforma o Estado em entidade pouco séria na gestão do presente e na projecção do futuro.

Segundo, as não-reformas não ponderam o futuro. Isto é, as medidas ministeriais vão-se sucedendo conforme a capacidade de endividamento da nação: há dinheiro? É um bodo aos pobres (e ricos!); não há dinheiro? Corta-se tudo a direito.

Depois, bem, depois ainda há que contar com o “tempo útil” para o exercício da profissão – com o aumento da idade da reforma para os 65 anos,… isto passa a ser uma escola de… bisnetos! (no que tem de bom e menos bom face á falta de paciência de uns e desgaste de outros).

As cargas lectivas e horas de crédito às escolas foram, até à Ministra Maria de Lurdes Rodrigues, de um despesismo confrangedor. E os resultados escolares mantém-se no mesmo nível: fraco.

Terceira ilação, perdeu-se o sentido da escola!

Durante praticamente os últimos cem anos, estudar significou um investimento para melhorar as condições de vida. Hoje, estaremos na fase intermédia, entre o “já não é isso” e “ainda não sabemos o que isto vai dar”.

O senso-comum nacional aponta para a escola como uma entidade séria, credível mas cujos membros estão descredibilizados. Não é preciso credibilizar a escola, sobretudo em autoridade! É apenas necessário que a vida seja credível com Escola! E aqui não abordamos a perspectiva da “Escola-Sociedade” em que tudo pode ser “espaço”, “campus” formativo.

Não seria possível “modernizar” (impelir, com referendo ou não, um outro avanço civilizacional) sobre os conteúdos programáticos; a inculturação local; a capacidade abstracta e lógica; a diferenciação positiva de apoios; a heterogeneidade de competências; a diversidade real de oferta educativa direccionada para segmentos profissionalizantes; dignificação do trabalho técnico (o de fato-macaco e mãos sujas!); qualificação para além do papel, lápis e… computador!

Quarta ideia, a avaliação.

A avaliação das escolas e dos professores dever-se-á fazer pela capacidade de uns e de outros melhorarem a didáctica e os “produtos”, sem quotas. Quem aprofunda, investiga, pratica uma didáctica com resultados de excelência (suportadas em regras claras para todos no todo nacional), tem de ser classificado de Muito Bom ou Excelente. Os professores avaliam diariamente. Imagine-se se, em Setembro, fosse decretado que os professores só poderiam atribuir 5 (ou 19 - 20) a 5% dos alunos; 4 (ou 16 – 18) a 20% dos alunos?! Quem confiaria na fiabilidade do processo? Seria viável?

Evidentemente que nunca ninguém confiou em sistemas pré-tarifados!? Num espaço educativo, a avaliação é melhoria contínua. Isto é, amanhã melhor que hoje, por etapas, até ao último dia.

Que melhoras se podem sentir num moribundo?! É necessário reformar qualquer coisa que seja Distinta (do que já foi feito), Aplicável (no tempo e recursos), Concreta (nos conteúdos), Longa (paciente no prazo de operacionalização). Isto é, verdadeiramente DACL.

Porém, a esperança é ténue; poucos querem que em Portugal haja uma reforma séria! – nem a que se tem direito (até agora!) por aposentação?!

(in Correio do Vouga, 2011.08.03)

terça-feira, 12 de julho de 2011

“Rating” e “ranking”

 

É inevitável que prestemos alguma atenção ao que tem sido debatido sobre o assunto (rating) sem que alinhemos nem pelos conteúdos técnicos, de que não temos mais do que pensamento próprio, nem pelas teses conspiratórias ou persecutórias sobre o caso que suscitou a hecatombe: as contas portuguesas (Estado central e local, algumas empresas) estão consideradas no ranking ao nível do “lixo” – mas é importante que se diga, o lixo também dá dinheiro!

As empresas de rating são grupos que avaliam a capacidade de liquidez de quem lhes paga. Primeira nota de grande interesse: estas empresas recebem dinheiro para a avaliar os clientes. Espertos!

Depois, há os interesses de quem se associa. Claro que obter boa notação destes actores de mercado de capitais, agentes de informação sobre dinheiro-valor de um determinado produto virtual, é óptimo para obter empréstimos para fazer obra, para se viver melhor.

E há, ainda, aquela ponta de vaidade “nós somos auditados pela empresa tal!”. E ficamos boquiabertos pelo feito.

Deixemo-nos de coisas. Só pode haver três razões para isto acontecer (pagar para pertencer ao grupo): a) Necessidade para obter mais dinheiro emprestado; b) obrigação de o fazer, caso contrário não se tem credibilidade para obter esse dinheiro; c) incúria total, se não se der nenhuns dos casos anteriores.

Vejamos como funciona o mundo. Olhemos por vários ângulos outros níveis e notações que são dadas diariamente.

Quem não tem aparência, estatuto social, publico reconhecimento ou mérito popularmente conhecido “obtém” diariamente cada notação…!? E raramente por entidades credíveis.

Quem vai para pagar uma conta no mercado (neste caso, o melhor exemplo é o do peixe, da fruta – não haja confusão!) e não tem dinheiro?! Quem precisa de comprar casa (agora é melhor alugar) e não tem valores de garantia?! Quem é educado e espera a sua vez, na fila, para proceder dentro da conformidade?! Quem trabalha e vê o sistema avaliar o seu desempenho com processos cheios de truques e manhas apenas para não progredir?! Quem tem competências de excelência e vai para o desemprego?! O aluno que trabalhou um ano inteiro e, agora, uma avaliação externa reprova-o?! Etc., etc.,…

rating e ranking por todo o lado com regras que, mesmo querendo, não conheceremos!

No caso em apreço, apenas custa perder a ilusão de que a vida é fácil! Há trinta anos, sem o desenvolvimento que temos hoje, ninguém duvidaria que somos um país pobre numa Europa iludida numa teia de interesses nacionais.

Portanto, todos “apanhámos uma raposa” - a época é propícia!

(A raposa é o mais odiado dos animais na Academia de Coimbra, isto porque «apanhar a raposa» significa não passar de ano. A expressão está relacionada com um painel de azulejo da Faculdade de Direito. Quando se vai da Via Latina para os Gerais, existe um espaço onde os estudantes aguardavam para serem chamados, a fim de realizar as provas orais. Esse espaço é todo coberto por azulejos apresentando vários motivos, predominando os florais, onde está também a dita e aonde, caso não houvesse sucesso, ter-se-ia de voltar).

Mãos à obra. Temos de fazer mais e melhor para passar…

(in Correio do Vouga, 2011.07.13)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Férias

 

Este título é quase um grito – qual D. Pedro, nas margens do Ipiranga, em 7 de Setembro de 1822, quando na sequência de diversos conflitos de poderes entre as Cortes e a administração da Colónia, o Regente do Brasil declarou o território definitivamente separado da metrópole: "Independência ou morte!".

Este grito (“FÉRIAS”) simboliza tudo o que se pode desejar, depois de uma longa jornada de sucessão de trabalhos, e uma lista de preocupações por não se conseguir chegar lá ou depois de vir de lá – seja esse lugar, momento, tempo onde for!

Fraccionemos as coisas.

A conquista (trata-se de facto e de direito de vitórias difíceis), do tempo para fazer outras coisas, de descansar (passivamente ou activamente), é contemporânea das lutas de outras independências que se iniciaram durante o século XIX, no contexto das revoluções sociais e liberais. No fundo, foi uma parte da emancipação da pessoa para a sua própria realização e afirmação de independência – só reclama independência quem está dependente.

Depois, como noutra ocasião já o referimos, vem o século XX, o 13º mês, e a… dependência das férias para que todos possamos usufruir desse aliciante: gastar o 13º mês!

Voltámos à dependência.

O final de XX e o XXI já vivido, com o triunfo dos hedonismo e individualismo, aliados a bens eternos como a cultura e o princípio de conhecer para compreender e preservar, fizeram o resto. Isto é, se não tem férias não é ninguém; está fora de moda.

A conquista de um direito passou a ser a ditadura de uma vida: pode-se incomodar uma pessoa em qualquer momento, a qualquer hora, todos os dias. O que nunca ninguém faz é perturbar as férias:

- “Estou de férias!”

- “Ah! Desculpe, não sabia. Faz muito bem. Fica, então, para depois!”

E todos vamos vivendo norteados por isto.

Porém, a segunda década de XXI começa com um aviso sério: só faz férias quem pode. O 13º mês é necessário para equilibrar o “extinto” 14º (subsídio de Natal)!

Impõe-se a necessidade de um outro “Ipiranga”, o dos “acampados” (nas praças das nossas cidades) e desempregados: queremos trabalho!

Uns querem trabalho para ter salário para viver, outros para sobreviver e, alguns, ainda pensam que é possível ter tudo o que se conquistou: fartura e férias!

Os tempos mudam! Não mude, no entanto, a convicção e a persistência dos que têm a apetência, competência e possibilidade de incutir e usufruir de hábitos de boa gestão de tempo e, obviamente, de salário para poder viver com elevação e dignidade. Que as férias sejam isto mesmo e uma oxigenação da vida.

(in Correio do Vouga, 2011.07.06)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Os prazos a prazo

Encontramos por aí alguns sinais de que ou andam todos (os povos de meio mundo) perdidos ou nós andamos, em muitas matérias, em contramão.

Qualquer projecto carece de planificação, no início; operacionalização e monitorização de processos; e, para o fim, síntese da avaliação e resultados.

O Governo tomou posse há dias. Já lá vai uma semana, é certo, mas ainda está em pleno exercício do mandato. Para o final, dos quatros anos,…não falta tudo. Porém, teremos de dar espaço a que construa alguma coisa.

Uma entrada destas pode sugerir que alinhamos pelo coro dos insatisfeitos da vida e tudo quanto é exercício de cargos (públicos ou privados) é varrido como “cambada” e seus sinónimos (corja, gentalha, súcia,…); epítetos dos mais lisonjeiros entre os pejorativos. Nada disso!

Reafirmamos quatro princípios fundamentais, para dar a volta às coisas que são nossas, comuns a todos.

Em primeiro, saber quem faz o quê. Aceitar ser governado. Quando e quem exerce um cargo para o qual legitimamente foi mandatado, deve ser levado até ao fim. Sair a meio, só por vontade do próprio. Caso contrário, incompetente é quem mandata. Será incompetente porque não se muniu dos elementos mais fundamentados para o discernimento e será incompetente porque revelará não saber usar das competências que lhe são próprias: poder escolher para um determinado período ou prazo.

Posteriormente, porque é demasiado incomodativo, calar um pouco para saber algo sobre o assunto. Tantas opiniões sem critério, também conhecidas por suposições, conjecturas, e outras coisas piores, ao jeito de Harry Potter, é mero exibicionismo para retirar a serenidade às pessoas e condicionar o exercício dos cargos.

Depois, cumprir os prazos e fazer com que se cumpram. A operacionalização das coisas tem sempre necessidade de algum tempo de maturação, necessário para a consolidação da ideias, dos planos. Ora, em tempo de se apelar a direitos ( a República dos Direitos!) para quando um pouco de dever!? Parece verdadeiramente patético os comentários a propósito e a despropósito com que se incendeiam as opiniões, se inflamam ânimos. Há Ministros que ainda não tiveram possibilidade de se sentar na cadeira do Gabinete e Secretários de Estado que ainda o não são e já estão rotulados de não imputáveis ou inimputáveis, de tecnocratas, sem experiência, etc., etc., etc., Num país de tão grandiosos frutos, com tanta ideias em julgar os outros e as suas acções, só custa aceitar como não estamos no topo mundial.

Por fim, sintetizar a avaliação e apresentar resultados… responsabilizando quem o deva ser.

Não é algo que nos apeteça muito. Queremos resultados antes de tudo. E, também antes de tudo, já estamos a colocar na rua da amargura. Chega a ser fino, quando se falha redondamente, apresentar a demissão; um gesto que chega a merecer elogios no lugar da responsabilização por actos e resultados danosos.

Porventura, com receio de colocar em causa a democracia, outorga-se a ditadura! Porque esta liberdade é a melhor ditadura.

(in Correio do Vouga, 2011.06.28)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Vamos a exame

 

Há uma divisão de sentimentos perante este evocativo.

Sim, é preferível partir para acção do que colocar qualquer dúvida sobre o feito. Porque, no início de semana, ficámos a saber que não é fácil passar pela prova, tão típica na época como são os santos populares e todas as romarias associadas.

Prestar provas é normal em todas as etapas da civilização. São momentos simples em que um candidato demonstra aos demais (candidatos ou titulares de qualquer condão) as melhores competências para o exercício de um ministério.

Porém, o ambiente e ambição que se depositam em torno do acto ou da função futura, normalmente imbuída em prestígio ou dinheiro, transformam a simplicidade em absurdo, o sonho em desgraça, em verdade ou mentira, em honra ou vexame.

Na expectativa, ninguém vai a exame para ser menos.

Vemos o enterro de uma mudança, quando no hemiciclo parlamentar o candidato fica só; sem grande razão não é sufragado pela maioria; desiste do sonho que transportava para que outros pudessem sonhar independentemente também!

O Governo de um país caminha “como ovelhas para o matadouro”, sob uma matiz que, chega-se a não desejar, se apresente a uma torpe de algozes prontos a devorar.

- Quem são esses que ostentam gravatas finas e vêm ao encontro do pobre e desfavorecido que não se sabe governar?!

- São apenas – diria qualquer personagem de Herculano ou Quental – os senhores que nos sustentam e que à lei da morte nos vão remeter se não… passarmos no exame, senhor!

- E quem são esses que, mesmo no exame, fazem da batota uma arte ilusória de quem serão capazes de socorrer os que deles precisarão?

- São apenas, senhor, candidatos ao Magistério Público.

- E quem são esses milhares de jovens que, de exame em exame, caminham para o fim do seu curso?

- São o futuro, senhor.

- E quem são estes que perante exames tão positivos (diagnóstico complementar do médico) os vejo tão distantes e absortos em pânico!?

- Serão o passado, senhor, se se confirmarem os resultados!

No presente, é o que temos: exames, sempre exames. Cada dia traz a cada um momentos para examinar e ser examinado. Desde os primeiros momentos em que, ao espelho, conforme uma série de elementos subjectivos escolhemos a peça de roupa para vestir, até aos momentos mais determinantes, por serem raros e de maior responsabilidade.

Contudo, o que custará mais não será o acto é, isso sim, não estarmos preparados para responder ao solicitado. Vale para as pequenas coisas como vale para os maiores.

Preparemo-nos, então!

(in Correio do Vouga, 2011.06.21)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Um último olhar para a minha escola, uma “árvore boa”

A nossa escola, as escolas por onde fazemos o nosso percurso de amadurecimento de competências, de aprofundamento de conhecimentos, de descoberta de relações para toda a vida são muito mais do que nós próprios e os espaços que percorremos.

A nossa escola… somos muitos!

Esta afirmação é cada vez mais evidenciada nos vários actores que se inter-relacionam nas acções que a vida proporciona. Quando olhamos para a pessoa que caminha ao nosso lado, em educação, nada está terminado. Há adultos bem educados, há jovens bem educados. É a materialização da afirmação de que “pelos frutos conhecerão a árvore!”.

Na educação, os frutos provêm de uma árvore com diversificados enxertos; por isso, encontramos frutos tão bons onde nem vida parecia existir. E também acontece haver árvores frondosas sem fruto algum – aproveita-se a sombra, se sombra souber fazer!

Todos os dias somos árvore e somos fruto! E somo-lo em simultâneo, de forma gratuita e bela, quando nos apresentamos em qualquer momento. Do outro lado, o nosso interlocutor, perceberá se sou bom fruto (porque dou provas de ser de boa árvore) ou se sou árvore (boa ou fraca, conforme a minha linguagem, presença, saber-ser, saber-estar, saber-fazer).

Foi sob o tema “Ílhavo, comunidade educativa”, terra de óptimas árvores e excelentes frutos, que nos apresentámos ao ano escolar (2010-11) que agora começamos a terminar.

Retomando a metáfora, aos Professores, aos Pais, aos Assistentes, aos Parceiros Educativos, aos Alunos parabéns pela árvore que fortaleceram, obrigado pelos frutos proporcionados.

Bons ou maus frutos!? Que se cuidem as árvores!

(in Jornal Aberto, Junho 2011)

Dar ao verbo

 

Em ambientes rústicos, simples, campesinos, nem sempre necessariamente muito cultos, há expressões do linguajar entre as pessoas que remetem para grande erudição. Entre essas expressões encontramos esta, que encima o apontamento, “dar ao verbo”.

“ Dar ao verbo” utiliza-se para referir os momentos em que as pessoas se entretêm a conversar. Portanto, “dar à palavra”, dialogar. Mas a expressão também é utilizada para reportar significados pejorativos, aqueles que perdem o seu tempo em conversa desnecessária ou aproveitam possíveis pausas no trabalho prolongando-as em demasia. Com o mesmo sentido pejorativo, refere-se quem usa as palavras sem medir as consequências.

Aparentemente saturados de ver países em incumprimento, a Europa, através do Banco Central Europeu, do seu presidente Jean-Claude Trichet, continua a “dar tiros no Porta-Aviões” e, vá lá saber-se porquê, com que intenções, pôs-se a dar ao verbo, na pior das formas. Esta semana, afirmou que os países que não cumpram devem ser penalizados. Ó palavras dadas, porque quem deveria proteger a todos por igual!?

Os mercados financeiros começaram imediatamente a agravar os juros. Os países em dificuldade ficaram ainda com mais dificuldades.

Em Março, o banco da zona euro foi o primeiro dos grandes bancos centrais a subir a sua taxa de juro, levando alguns economistas a acusarem Trichet de estar a precipitar-se. Porque, segundo essas análises, ao mesmo tempo que não resolve a pressão inflacionista em França e na Alemanha, este aumento torna muito mais difícil o período de austeridade nos países periféricos como Portugal, atrasando a sua recuperação.

A lógica parece ser simples. Apesar da subida da taxa de juro tornar a moeda única mais atractiva para os investidores, um euro mais forte torna as exportações europeias mais caras. O problema é, como no caso de Portugal, não houver crescimento das exportações para compensar a contracção do mercado interno em 2011.

Afinal, para que servem estas instituições europeias?! Para “dar ao verbo” fazendo com que os pobres fiquem mais pobres?!

Todas as histórias de alargamentos da União Europeia, os Tratados para fazer desta União uma força que Jean Monet e os visionários da Europa liberta de conflitos e económica e socialmente próspera idealizaram está falida. Falida de conteúdo, de Estadistas.

Os alargamentos mais não foram do que uma extensão de expropriações territoriais, do Atlântico aos Urais, sob o jugo de cobradores de impostos e agiotas. Com as fronteiras mais ao largo, o centro está mais protegido, ou talvez não.

Do triunvirato (carvão, aço e energia atómica dos primeiros momentos) já pouco resta como duradouro. Talvez por isso, surjam por aí umas Troikas; mas, provavelmente, nem elas irão resistir a um ambiente que se quer mais limpo!

(in Correio do Vouga, 2011.06.15)

terça-feira, 7 de junho de 2011

Um governo novo

 

Nos próximos quatro anos, o país terá, como é urgente que assim seja, um novo Governo, conforme manifestação de cerca de 50% dos portugueses!

Sobre o Governo e como ele se constituirá, teremos muita informação. Porém, há um aspecto que nos merece, tanto a nós como a todos os que queremos ver o nosso país mais próspero, mais desenvolvido, mais competente, mais responsável, mais sério,… com futuro, merece que seja alterada esta nossa (portuguesa) maneira de estar nas coisas importantes: de assobiarmos para o ar, de falamos para o lado, de apoiarmos a mediocridade e conveniências com impávidos e ataviados acenos de cabeça aos que dizem mal, de aceitarmos com passividade a demissão.

Somos, realmente, do “oito ou do oitenta”!

O número de portugueses que não quer saber, mesmo que tenha todas as razões para isso, de quem os vai governar e que acrescenta, à boca pequena entre amigos e de pulmões cheios quando sente o conforto do grupo anónimo, impropérios acusatórios de serem todos uns malandros, ou coisa pior, é matéria que dá que pensar.

Mas será que sabemos exactamente quanto ganha quem nos governa? Temos consciência do trabalho que dá governar um País, uma Câmara, uma Freguesia, uma Empresa?

Pensamos que, em democracia, mesmo com todos os truques, quem se predispõe a governar fá-lo com base em sufrágio, deve merecer todo o nosso apoio e, quando chega a hora de votar, votar, não faltar aos actos eleitorais. É na preparação de cada um para esse acto que está o melhor contributo para a escolha de quem dá mais garantias, quer como perfil de desempenho quer por ideias que apresenta e defende.

Sabemos, seja quem for nas áreas que forem, o trabalho é proporcional às responsabilidades. Porque, como muito bem sabemos, “quanto maior é a nau, maior é a tormenta”! Então, a justiça começará em pequenas coisas.

E votar, e votar de forma séria, participativa e elucidada é um dos maiores trabalhos a que nos deveríamos dedicar – como aliás, por outras palavras, o defendeu o nosso Presidente da República.

Na nossa opinião, o melhor contributo que podemos dar ao nosso país, para que todos sejamos mais felizes, passa por: ser mais competente (ter mais conhecimento sobre o que fazemos e sobre as consequências do que fazemos, para não sermos “burros de carga”); gerir melhor o tempo; querer ser melhor; deixar que nos governem e estar atento a esse exercício (em Lisboa, em Aveiro, na nossa empresa e serviço); ter por princípio que, se alguém triunfa, eu posso (e devo) triunfar também!

Enfim, sonhos… ou talvez não!?

( in Correio do Vouga, 2011.06.08)

terça-feira, 31 de maio de 2011

31 de Maio

O dia não passa despercebido, é de efeméride internacional, o Dia Mundial Sem Tabaco, promovido pela Organização Mundial de Saúde (OMS)para alertar para as consequência do tabagismo, a principal causa, evitável, de morte e doença.

Segundo a OMS, mais de cinco milhões de pessoas vão morrer, este ano, por doenças relacionadas com o tabaco, tais como enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), cancro e doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).

Este número não inclui as mais de 600.000 pessoas, 25 por cento das quais crianças, que vão morrer devido à exposição ao fumo ambiental do tabaco.

Algumas curiosidades valerão a pena nesta evocação.

As origens mais remotas apontam para a América Central onde, por volta do século IX, onde haveria o hábito de aspirar a planta seca na forma de cachimbos feitos de bambu. Os Maias e posteriormente os Astecas, fumavam várias drogas psicoativas durante rituais religiosos que eram frequentemente retratados em cerâmicas e gravuras de templos. No Caribe, México e nas Américas Central e do Sul, o cigarro e o charuto eram o método mais comum para se fumar até aos tempos recentes.

O cigarro produzido na América do Sul e América Central usava várias plantas como embrulho. Quando chegou a Portugal e à Espanha a passou a ser em palha de milho. O papel fino para embalagem foi introduzido por volta do século XVII. O produto resultante era chamado "papelate" e foi retratado em várias pinturas de Francisco de Goya.

Por volta de 1830, o cigarro foi inserido na França, e recebeu o nome cigarette. A partir de 1845 começou a ser produzido em escala industrial sob monopólio estatal e entrou nos circuitos comerciais altamente rentáveis. Durante a Guerra da Crimeia (1853–1856) o uso do cigarro foi popularizado entre as tropas francesas e britânicas, estas imitavam os turcos que fumavam o tabaco em cachimbos. Em 1833, aparecem na Espanha os primeiros pacotes que são chamados "cigarrillo" ou "cigarrito", termos que vem da palavra "cigarro", assim chamados devido, provavelmente, à sua forma, parecida com a de uma cigarra.

A partir de meados do século XX, o uso do cigarro espalhou-se por todo o mundo. Essa expansão deu-se, em grande parte, graças ao desenvolvimento da publicidade e marketing. A distribuição gratuita de tabaco para as tropas durante a Primeira Guerra Mundial ajudou a popularizar ainda mais o consumo. Por ter substâncias psicotrópicas, em tempos de guerra e crises económicas o cigarro foi bastante valorizado. Por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, um cigarro chegou a valer 400 francos já que eram racionados para os soldados.

A Lei 37/2007, de 14 de Agosto, pôs fim a um percurso que até aparenta pertencer, no mínimo ao século passado, passando a ser proibido em escolas, espaços públicos, repartições, bares,… restaurantes!? Quem não se lembra, mesmo os fumadores, de passar a refeição a fumar (passivamente?!).

A Linha SOS Deixar de Fumar (808 20 88 88), do Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva, também se associou ao Dia Mundial Sem Tabaco, que tem este ano como objectivo a divulgação da «Convenção Quadro da OMS para o Controlo do Tabagismo» (CQCT).

Dotada de medidas fortes e pouco populares em alguns países, a CQCT está em vigor desde 2005, ano em que foi ratificada por Portugal, sendo um documento baseado em estudos que não deixam dúvidas sobre a necessidade destas medidas para proteger e melhorar a saúde pública mundial.

(PL, in Correio do Vouga, 2011.06.01)

terça-feira, 24 de maio de 2011

O acampamento

 

As praças centrais das cidades, a começar em Madrid, e a estender-se pela Europa dão expressão aos ventos “suão” que desde o início deste ano abalam a bacia Mediterrânica e atingem o coração Velho Continente.

Se mais nada houver em comum – o debate sobre as origens das motivações já está lançado – há algo que é coincidente, a via de propagação da mensagem, da interpelação: as novas tecnologias da informação e comunicação! Ou seja, pensamos que já nem se poderá dizer “novas”; o meio está aí, disponível, assumido, assimilado.

Caminhamos assim, quem sabe, com contributos determinantes para a consumação da mudança, com a devida vénia ao Prof Jorge Carvalhais, ao revisitarmos a mesma sensibilidade literária que apresentou no último número do Correio do Vouga, incentivada pelo “Indignai-vos”, de Stéphane Hessel, que aos 93 anos, o herói da Resistência francesa, nascido em Berlim em 1917, sobrevivente dos campos de concentração nazis e um dos redactores da Declaração Universal dos Direitos Humanos, continua o testemunho impressionante de uma vida a erguer-se contra os perigos da inacção: «A minha longa vida deu-me uma série de motivos para me indignar».
Neste breve manifesto, para o facto de existirem hoje tantos e tão sérios motivos para a indignação como no tempo em que o nacionalsocialismo ameaçava o mundo livre. Se procurarmos, certamente encontraremos razões para a indignação: o fosso crescente entre muito pobres e muito ricos, o estado do planeta, o desrespeito pelos emigrantes e pelos direitos humanos, a ditadura intolerável dos mercados financeiros, a injustiça social, entre tantos outros.

Os “acampamentos da Europa” serão, porventura, um sinal exemplificativo do apelo de Stéphane Hessel, procurar no mundo que nos rodeia os motivos para a insurreição pacífica, pois "cabe-nos a todos em conjunto zelar para que a nossa sociedade se mantenha uma sociedade qual nos orgulhemos."

É que isto está a ser demais!?

(in Correio do Vouga, 2011.05.25)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Liga Europeia

 

Eis-nos chegados aos píncaros da Europa.

Depois de percorreremos o mundo; depois de muitos outros lugares altos chegámos aqui.

Finalmente, fez-se justiça: estamos no topo… do segundo plano! Mas um dia (quem sabe?) ainda poderemos ser mais ousados e viver uma experiência superior. Não será fácil mas também não custa tentar.

Realmente, há dois perigos quando se atinge um ponto alto em qualquer percurso da vida. Por um lado, temos o perigo da queda vertiginosa, também reconhecida na sabedoria popular como “quanto mais se sobe maior é o tombo”; a completar o primeiro, mas independente deste perigo, há a incapacidade de estabelecer outras metas para haver progressão para níveis de qualidade nos desempenhos que fazem das metas anteriores, já atingidas, um degrau motivacional para outra que vem a seguir, isto é, não se fica “à sombra da bananeira” ou entra na”crise da opulência” (a abundância parece ser tanta que suscita o despesismo e letargia).

Acontece também, quando há seriedade de processos e virtude de carácter, o segundo perigo é transformado em oportunidade. São riscos calculados para se poder chegar um pouco mais à frente na vida.

Este pequeno apontamento poderia derivar da final europeia de futebol entre equipas portuguesas, que se realizará – neste momento ainda é futuro! – em Dublin, na Irlanda. Feito histórico; importante para o orgulho Luso; reforço de potencialidades de retorno, de imagem e valores financeiros. Haveria aqui toda a propriedade, até porque já se prevê, pela imprensa da especialidade e afirmações dos protagonistas, será a debandada.

Queremos nesta “Liga Europeia” pensar um pouco mais alto e volver os olhares que o dinheiro que aí vem para socorrer as nossas contas. Os Ministros das Finanças da União ratificaram o resgate – a expressão é fantástica e diz quase tudo: Portugal vai poder aliviar um pouco os grilhões do algoz (especulação financeira do Mundo e, em tempo de vernáculo, “calaceirisse” nacional)!

Os perigos apontados anteriormente dizem respeito a este acto comprometedor do nosso futuro, já hipotecado. Tanto dinheiro de uma vez só (mesmo que em várias tranches), pode por as nossas “cabeças à roda”. É como ganhar o euromilhões e gastar em vícios antigos!

(in Correio do Vouga, 2011.05.18)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Regresso à estrada

 

Quantas e quantas vezes a expressão, regresso à estrada, é interpretada como um momento para, recuperadas as energias e redefinidas as estratégias, reatar um itinerário que faça refulgir a luz da esperança, de um anova oportunidade.

As grandes bandas, movimentos, conjuntos, associações,… usam a expressão por metáfora ou para enfatizar o momento em que tem de voltar a contactar directamente com as bases da sua sustentabilidade. O regresso à estrada é qualquer coisa como voltar a uma rota que pode proporcionar um novo rumo para o êxito ou para a promoção de um produto que se pre-anuncia.

As organizações políticas, as promovidas pela filiação partidária ou compromisso cívico, também começam a preparar as suas caravanas para dinamizarem eleitorado para os esclarecimento, debate e, naturalmente, para o proselitismo e orientação de voto. É assim a vida plural, o respeito pelas diferenças, mas temos de encarar com realismo o que temos pela frente. E mais importante do que dizer o que os outros não são capazes de fazer, é urgente apontar para onde se quer ir-

É aqui que queremos chegar.

Sensibilizados pela tragédia do ciclista belga Wouter Weylandt, vítima de um acidente esta segunda-feira na terceira etapa da Volta a Itália, de que viria a falecer, não podemos deixar de ler nestes sinais uma imagem do que pode ser o nosso próprio futuro, o de Portugal.

Um jovem, como tantos outros que o fazem todos os dias de várias formas, inicia mais um dia do seu trabalho, como desportista profissional. Ao fazer-se à estrada tem em mente uma meta, a meta! Quase à chegada, dá-se a queda fatal.

Com maior ou menor exagero, permitam que seja renovada a confrangedora comparação: na estrada que é a vida, para onde estamos conduzir o curso da corrida? O que estamos a oferecer às gerações mais novas? Esperança o u tragédia?

Com o devido respeito, a imagem de quem se empenha a fundo para atingir a meta deve ser replicada entre nós. A oportunidade é única, não podemos ficar parados ou receosos de não conseguir. Portugal já não tem espaço nem tempo para mais quedas.

O nosso regresso à estrada não acontece no início de uma etapa, com todas as forças para o percurso. Estamos, isso sim, a erguermo-nos de um aparatoso desastre. Não há outra oportunidade. É agora.

(in Correio do Vouga, 2011.05.11)

terça-feira, 3 de maio de 2011

João Paulo II e a liberdade

 

A UNESCO, a propósito do dia 3 de Maio, o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, vem expressando e valorizando o que este dia constitui: ocasião para relembrar ao mundo quão importante é proteger o direito fundamental da pessoa humana que é a liberdade de expressão, direito este inscrito no artigo 19º da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A celebração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa dá-nos oportunidade para reflectirmos sobre os meios de difusão dos valores que respeitam o papel essencial que os media desempenham na promoção de uma paz duradoura, da democracia e do desenvolvimento.

A propósito dos acontecimentos, este, o da liberdade, e o de Roma, no dia 1 de Maio, como os discípulos de Emaús, enquanto fazemos o nosso caminho, estendemos o nosso pensamento mais ao largo. É em João Paulo II que vamos encontrar a inspiração para o contexto inculturalizante, passe o neologismo, que Liberdade, em particular a de Imprensa, também terá como referente.

O homem obteve do seu Criador o dom da liberdade. Tal dom dá-lhe, entre outras possibilidades, a poder de amar a verdade, fonte desse mesma liberdade.

A liberdade tem, todavia, o seu preço. Não significa arbítrio. Não existe liberdade sem vínculos. Ora, uma sociedade – citando Beato João Paulo II (em A Igreja e a verdade) – que reduz a responsabilidade, a lei e a consciência mina os fundamentos da vida humana. E muitos são presa dessa euforia, como se o homem estivesse finalmente em posição de ter o mundo na mão e modelá-lo definitivamente. Com esta orgulhosa atitude, não poucos abandonaram a sua inata concepção do mundo. A liberdade sem responsabilidade, sem vínculos aos valores últimos, torna-se arbítrio, prevaricação.

Neste tempo de troca de correspondência acelerada entre algumas das principais figuras do nosso país; de mensagens e contra-mensagens sobre a (in)segurança no mundo, não podemos ficar inactivamente serenos.

É importante, pelo menos saber ler os sinais dos tempos, ser activo nessa leitura porque só se é livre na verdade.

(in Correio do Vouga, 2011.05.04)

terça-feira, 19 de abril de 2011

A outra face

 

O tempo é propício a olhar para a Palavra. Requer-se, porém, um olhar mais atento, uma escuta predisposta a uma atitude de mudança, à leitura dos sinais dos tempos: estamos na Semana Santa.

Para um melhor entendimento da ética que Jesus inaugura com a “outra face”, no contexto que também é este que nos é dado viver, recordamos Romano Guardini, que encontra nas reflexões da primeira parte da vida de Jesus, consagradas aos princípios da vida, no período a que se dá o nome de primavera do seu apostolado. Os homens estavam impressionados pelo poder da sua personalidade e pela verdade da sua mensagem. A descrição desse tempo culmina com o Sermão da Montanha; uma sucessão de ensinamentos e exortações, pronunciado «na montanha». A “Montanha” anuncia a ética de Jesus; que Jesus formula aí as novas relações do homem consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com Deus, através das quais a ética cristã se diferenciará da do Antigo Testamento e da da humanidade. Contudo, não é no sentido moderno da palavra, a ciência do dever e da moralidade. Aqui, na “Montanha” não se revela apenas uma moral, mas toda uma maneira de existir — a qual evidentemente, exprime ao mesmo tempo um «ethos», isto é, uma nova ordem social: “a quem te ferir numa face, oferece-lhe também a outra”.

Com esta paisagem de fundo, contemplamos dois acontecimentos marcantes na nossa sociedade que recorreram à “Montanha” (8º Festival de alunos do Secundário, em Gouveia) e implica uma “outra face” (a mendicidade portuguesa junto dos senhores do dinheiro do mundo)!

Sobre a “Montanha”, a comunicação social relata episódios denunciadores da urgência de aprofundar e dar outro sentido às idades da vida e recriar toda a estrutura. Às palavras de Pe. Vasco Pinto de Magalhães, é preciso conhecer o mundo dos jovens, acrescentamos, como por prefixação, “já não é suficiente”!

O segundo quadro, na continuação do referido no último apontamento que aqui deixámos, o FMI chegou apenas para nos emprestar dinheiro e dizer como e até quando o vamos pagar! Não serão estes senhores a mudar a nossa atitude despesista sobre o que não temos. Apenas emprestam dinheiro e aplicam um plano para o reaver dentro de um determinado período de tempo – óbvio! Lamentavelmente, as consequências sobre cada um vão ajudar a mudar de vida, para pior. Por essa via, até poderemos ser levados a pensar que ficamos mais produtivos – puro engano! Apenas ficamos desprovidos da capacidade de gastar o que não temos.

Em síntese, ou damos todos a outra face (no sentido evangélico), isto é, perante esta (necessária) “injúria” mudamos de ética e prática ou vamos conhecer (no sentido do “vil metal”) a outra face da moeda!

Apesar da nossa esperança não se poder esgotar, já carregados com o madeiro do Calvário, se lançarmos os nossos sentidos em redor, só se ouve muito ruído e perscruta alguns Baptistas a pregar no deserto!

(in Correio do Vouga, 2011.04.19)

terça-feira, 12 de abril de 2011

FMI

 

A nau portuguesa, balanceada por vagas tumultuosas do mercado (financeiro) revolto, já está a ser conduzida para terra pelo Contratorpedeiro FMI.

De facto, esta aventura ultramarina dos portugueses tem qualquer coisa de misterioso, são capazes do impossível, de grandes feitos, mas, no que é fácil… facilitam!

Mais um naufrágio!

A Nau Lusitana navegava há muito à bolina mas apenas porque os ventos estavam de feição sobre a Vela Latina. Porém, com o lastro desequilibrado, o porão em péssimo estado, a vela de popa toda esfarrapada, caiu num banco de nevoeiro que aumentou a discussão, o ruído e a inoperância. E como ia (a nau) toda emproada, com o casco praticamente destruído, entreteve-se na cosmética e com alguns pormenores na Quilha! A tripulação não reagiu a tempo de colocar a guarnição em sentido, de fazer trabalhar como deve ser para transformar a nau para aquilo que foi criada!

E, com tanto ruído, já ninguém se ouvia. Até as mensagens de outras embarcações foram mal compreendidas.

No meio de gritos desesperado de alguns marujos, dos sinais da Fragata Europeia, que também navega nas mesmas águas, apenas se percepcionou: “Foram Malandros e Incapazes”! FMI.

E, em comunicado de 10 de Abril (Comunicado n º 11/126), numa Declaração sobre Portugal, pode ler-se: "Na sequência de um pedido apresentado pelas autoridades Portuguesas, especialistas do FMI irão juntar-se à Comissão Europeia e às equipes do Banco Central Europeu para uma avaliação técnica da situação actual da economia Portuguesa, na próxima terça-feira, 12 de Abril. Isto irá servir como base para as discussões políticas que terão início na segunda-feira seguinte, 18 de Abril. "

Sem mais!

Pronto, já vem aí alguém para nos socorrer! Continuemos na mesma, com serenidade, a gozar das vistas!

Portugal gosta disto, só pode! Como estamos a meio caminho de tudo (entre a Europa e a África, a Europa e as Américas,…) podemos passar a vida na “converseta” inconsequente. Será qualquer coisa entre o fado da persistência na asneira e uma irreverente matreirice aventureira de especialidade no… desenrasca e basta!

Pobretes mas alegretes!

(in Correio do Vouga, 2011.04.12)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Festa da língua

 

Há na nossa língua (Português) uma genialidade universal. Camões, Eça, Pessoa, Camilo, Saramago, Virgílio Ferreira, … “Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso, a voz do mar foi a da nossa inquietação”.

A nossa língua é complexa, como complexo são os movimentos do mar. Neste mar, que é o nosso, há muito movimento, tensão, vagas poderosas, águas mais serenas e águas mais turvas!

Assim como é o mar também é a nossa comunicação! É em Português, na nossa língua, que vivemos!

Contudo, como a comunicação não se esgota nos falantes, no verbalizar ou graficar expressões, há muita linguagem não verbal. Lemos nas interlinhas, lemos nos comentários dos outros, comunicamos pelos gestos, expressamo-nos nos silêncios, falamos no que vemos e como nos colocamos para ver!

Por vezes, também temos de falar outras línguas para vermos outros Mundos, ler outras sinas (que interpretamos aqui como “itinerários”, “sinais”, “indicadores”).

E o que também se vê? O mesmo que se vê da nossa língua: coisas boas, coisas menos boas. Competência e incompetência. Demagogia e ganância. Honra, dignidade e o seu contrário…

Em síntese, também vemos um pouco do que se viu este Domingo no Estádio da Luz! Isto é, línguas insídias ! Um Mar poluído.

Como a nossa língua é rica e culta, coisa estranha a estes mundos bastante pérfidos, vamos aos clássicos e “honra aos vencidos e glória aos vencedores”, independentemente de quem chega em primeiro que, no caso citado, nenhuma das partes esgota o significado de “glória”.

Há emoções e expressões que podiam ser festa de uma língua, como tão bem tratam os génios da literatura, em vez de uma arruaça de energúmenos!

(in Correio do Vouga, 2011.04.05)

terça-feira, 29 de março de 2011

O gozo e o ridículo

 

Há eleições e eleições!

Há motivos e motivos para haver eleições.

No caso do Sporting, por exemplo, já era penoso ver tudo o que se passava à volta do Conselho Directivo, e de todos os que o artigo 56º e seguintes enquadram, e as tentativas para dar volta ao que andava por ali à volta.

Os outros Órgãos apresentaram demissão. Foram todos para actos eleitorais.

Depois, surgiu uma “mão-cheia” de listas de candidaturas. Por fim, elegeram-se Órgãos. E Alvalade fez juz à condição da sua iconografia e o “reino” do Leão virou uma selva!

E um só homem pagou pelo Povo (todos os eleitos: Mesa da Assembleia Geral, Conselho Directivo, Conselho Fiscal e Disciplinar e Conselho Leonino) para gozo das oposições e ridículo para o exterior.

Por mais dura que possa ser a observação, é oportuno lançar um olhar sobre outras bancadas: o Parlamento.

Um só homem sacrifica o Povo (entenda-se o Governo). Ao apresentar a demissão de Primeiro Ministro, por inerência o Engº José Sócrates liberta todos do gozo das oposições que, com a aprovação da suspensão do modelo de avaliação dos professores (o Decreto Regulamentar nº 2/2010, de 23 de Junho), caíram no ridículo.

É uma cena triste. Depois de milhões de euros gastos – para 150 mil professores são necessárias 50 mil horas (uma hora por cada três professores que é conferida ao Relator) por semana; os Relatores, em média, receberão por cada hora 18€; ou seja, 900 mil euros por semana equivalem a 3600000€/mês; estando a trabalhar neste assunto desde Setembro, são 7 meses, portanto, 25 200 000€ só para Relatores (mas ainda há o Director, os Coordenadores de Departamento, a Comissão de Coordenação da Avaliação de Desempenho, o Conselho Pedagógico, o Júri,…) - depois de muitos milhões de euros gastos, aí está uma parte do ridículo. Agora? Onde estiveram quando os professores andaram na rua a alertar para os problemas do modelo? O que fizeram?

As eleições provocam cada gozo e ridículo?!

Em tempo de “redes sociais” e de crise, valeria a pena convocar, virtualmente, mais uma Manif, não? Fazia-se justiça ao Parlamento (virtual) que temos!

(in Correio do Vouga, 2011.03.31)

Os dias grandes na nossa escola

 

A chegada da Primavera traz consigo vida nova; os dias começam a ser maiores!

É bom viver dias grandes!

E os dias podem ter dimensões diferentes conforme o investimento de cada um e a expectativa que lhes emprestamos.

Quando se pensa em grande, trabalha-se denodadamente cada coisa, apontam-se metas concretizáveis, ao chegar a última etapa desse percurso traçado, preparamo-nos para a viver em grande! – Consideramos este enquadramento para todos os que vêm mais longe, fazem o que ainda não foi feito e, mesmo o que já foi feito, dedicam-se imenso para o melhorar.

Também há os casos em que, descobrem em cada canto circunstâncias óptimas de vida; vêem esperança nas dificuldades!

Como em tudo, por haver diferença, o lado em que cada um se coloca determina a nossa posição. É óbvio. Assim, na escola só teremos dias grandes, seremos mais e melhores, se estivermos do lado das soluções, participarmos na mudança para que esse movimento tenha um pouco de mim, de cada um. Caso contrário, outros farão a “caravana” avançar…

Actualmente, está aí uma obra notável de gestão da mudança em condições adversas, uma parábola do nosso tempo: “o nosso iceberg está a derreter”,de John Kotter.

Feliz Páscoa (a mudança por excelência na história da humanidade)!

(in Jornal Aberto, Abril 2011)

terça-feira, 22 de março de 2011

Os 7 PECados

 

No princípio era a palavra – as palavras, a retórica!

Com o decurso do tempo e da erosão das palavras, chegaram as consequências das palavras e dos actos mal medidos: os PECados.

(Por serem matéria tão comum e transversal na gestão humana, passaram a ser chamados abreviadamente, para não demorar muito a pronunciar o dito, por PEC)

Como é do conhecimento comum, os PEC são sete: ira, gula, inveja, orgulho, avareza, preguiça, luxúria!

Entre nós, isto acontece tudo num “caldinho” de emoções, acções, desentendimentos e constrangimentos.

Olhando isto com falácia histórica, é muito provável que a cronologia dos PEC tenha o momento inicial marcado pelo preguiça (ainda no tempo do Velho Adão); depois do orgulhosamente sós sucederam-lhes a gula; mais recentemente, fartos e alucinados por tanto, mesmo sem saber bem de onde provinha, não faltou um pouquinho de avareza. Resta-nos o consolo da ira, quer ao deitar quer ao alvorecer, porque já nem sabemos para onde gritar ou desesperar. Por fim, a inveja: “coitados dos gregos, dos irlandeses e todos os outros que estão piores que nós!”

Trazemos à colação o PEC no sentido étimo da profundidade da coisa, a ideia de pecado que não tem conotação religiosa. Pecar vem de "pecare"que significa "errar de alvo ". Ou seja, sempre que "pecamos", erramos de alvo.

Aos olhos do mundo, da União Europeia, de cada um dos mais laboriosos, sérios e empenhados portugueses errámos o alvo por quatro vezes nos tempos mais modernos! Agora temos de corrigir a trajectória.

Como vamos em quatro PEC, já são faltam três para completar a paleta. Mas prevalecem algumas dúvidas: afinal onde PECámos? Fomos nós que PECámos ou terão sido os nossos pais? Estamos a pagar os PECados de quem? E depois desta expiação, será que ficamos libertos dos malditos PEC?

Quem estiver sem PEC que atire a primeira pedra!

terça-feira, 15 de março de 2011

Manif nacional (todos os dias) da Geração “Fazer pela vida”

 

Somos um país estruturado nas suas fronteiras há mais de oito séculos! Desde aí, mas em particular desde 1640, os portugueses são convocados, pelas vias mais avançadas de comunicação disponíveis , para a época, no mercado, para… fazer pela vida; para ter iniciativa, para ser criativo, empreender! Umas vezes foi sim, outras vezes foi não, muitos “quem sabe?!” Seguiu-se o “vou para África”; depois, “vou é emigrar”.

Mais recentemente, “vamos (plural) a Bruxelas pedir um financiamento”.

(Note-se que este último estádio da nossa história social está intrinsecamente ligado a outras expressões vivenciais sinónimas: o “Estado (Governo Central, Regional, Local) não apoia/subsidia…”! E se não é por esta via, veja-se a quantidade de cursos e habilitações superiores que existem apenas para trabalhar no Estado e do Estado: educação, saúde, justiça, administração, finanças,…).

É algo que, certamente, nos notabiliza pelo mundo fora.

Correndo os riscos das afirmações generalistas, somos capazes de percorrer meio mundo num misto de aventura e procura de melhores condições de vida - sem saber-se muito bem onde uma e outra se distinguem. Depois de chegar, mata-nos a saudade. Se se conseguir um “pé-de-meia” razoável, regressa-se à terra. Caso contrário, fica-se por onde se está com e como os de lá.

Este ciclo terminou.

Começou a época da regressão, curiosamente pelo mesmo itinerário: não há apoio do Estado (nem da União Europeia!),… “vou é emigrar ( o Brasil está com bom aspecto)! “Angola está dar”…

Sinceramente, até pelas manifestações inconsequentes, quando sairmos da letargia da subsidio-dependência e enfrentarmos sem hedonismos (fazer apenas o que dá gozo, viver como os ricos sendo pobres) nem lusitânias paixões (uma coisa entre o fado e o laissez faire - laissez passer), querendo sujar as mãos nos recursos naturais, os de maior potencial de riqueza para este tempo (solos aráveis, sol, mar e aquicultrua, floresta) ou queimar neurónios de forma metódica, laboriosa e consequente (na indústria de ponta em toda a gama de produtos que os mercados procuram)… eis a nossa independência!

Em todas as gerações, há quem faça pela vida e faça crescer Portugal. Estamos a falar de quem estuda, trabalha (não confundir com “ter vencimento”), estagiou sem ordenado, anda a recibo,… ficou sem pais muito cedo ou os pais não tiveram oportunidade de os ter em casa.

Não podemos é viver sob os terríveis: favorecimentos; burocracia; desconfiança/garantismo; pausas de quinze minutos por cada sessenta “no” serviço; febre do fim-de-semana e feriados!

Portugal tem potencial!

terça-feira, 1 de março de 2011

O filme, a ficção e cidadania

 

É com particular interesse que, a propósito da cerimónia cinematográfica dos Óscares da Meca do Cinema, e da notícia que nos chega sobre a ideia da Câmara Municipal de Aveiro colocar os cidadãos a censurar, através de autocolantes, os comportamentos, que trazemos este apontamento.

O ser humano é complexo – nada de novo, já o sabemos - tem muito de insólito, de imprevisível, de elaborado. Porque é que tem necessidade de ficcionar? De que lhe vale transportar-se para um patamar da existência que só o é enquanto aparência, realidade ficcionada? Chega a alterar o ambiente, os seus elementos, as personagens, a história de acordo com sua vontade.

Como o sonho (voltamos ao sonho!) pode ser a materialização da vontade de atingir o que não se pode vivenciar de outra forma, devido aos próprios limites e/ou às consequências, a ficção será esse estádio de concretização sem fronteiras para o pensamento. Assim, com a ficção, o ser humano repete conscientemente o que o inconsciente produz em sonhos, cria um mundo para produzir desejos.

As artes de expressão, como a literatura, o teatro, a fotografia, a pintura e, particularmente, o cinema, pela transposição acelerada de fotogramas que causa a ilusão de movimento, o que amplia a sensação de “realismo” da imagem reproduzida, são campos propícios para materializar a ficção.

A história das ideias e do pensamento humano, a Filosofia, a Teoria da Arte, a Teoria da Comunicação fazem o seu percurso investigativo para nos ajudar a desenhar a fronteira entre a ficção e a realidade não ficcionada.

Depois surgem a comercialização dos eventos… e passamos a pagar para ver a ficção dos outros! E eles são estrelas, ricos,… distantes!

E onde é que entra aqui a ideia da Câmara?

Os automobilistas prevaricadores vão ser brindados com autocolantes nos vidros dos seus carros, o “Selo da Censura” nos carros mal estacionados; os carros bem estacionados, em contrapartida, receberão o “Selo de Urbanidade”; haverá, ainda, um terceiro tipo de dístico – o “Selo Chique é Andar a Pé”. É o programa Active Access, que faz parte da aposta do município nas condições que valorizem o peão e na reforma da vivência da cidade.
Na nossa opinião, esta realidade ficcionada trará os seus frutos!

Parece complicada a autorização a terceiros a colagem de autocolantes no carro, quer seja de censura ou urbanidade!? Estas acções não provocarão distúrbios entre cidadãos? Isto tem assim um ar suspeito, de “noite de cristal” ou “facas longas”, não é?

Pensamos que seria interessante investir na educação para a cidadania directa, através de melhoria nas escolas, nas estradas, na urbanidade que representa a celeridade no despacho de processos (para evitar mais deslocações para Aveiro apenas para uns vistos). E aqueles “multadores encartados” dos veículos bem estacionados, o que vão fazer? Também parecia interessante a criação de plataformas intermodais;… veículos eléctricos, para facilitar a mobilidade urbana em alternativo ao automóvel pessoal; as BUGAs; E os táxis na Ria?... também ajudavam, não?

Mas ao preço que estão os combustíveis, o custo do estacionamento, o estado das estradas,… chique, chique era os passeios estarem arranjados para se poder andar a pé!

São assim os filmes das realidades ficcionadas!

(Pl, in CV, 2011.03.01)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Pés de barro

 

Vemos, com particular preocupação, a destruição indiscriminada de sonhos e de vidas que sonhavam poder viver. Um pouco por todo o mundo, uma “pequena pedra rolou da montanha” e embateu no que parecia inexpugnável e invencível; de repente tudo se desmoronou ou ameaça desmoronar.

Não há nada de novo nesta história, conhecida em todas as civilizações, imortalizada na narrativa sobre Nabucodonosor, Rei da Babilónia, cerca de 600 antes de Cristo. O monarca teve um sonho igual a de outros grandes, pequenos e, até, aprendizes de “imperadores”: uma grande estátua em que a cabeça era de ouro, o peito e os braços de prata, o ventre e coxas de bronze, as pernas de ferro e os pés eram parte de ferro e parte de barro. Enquanto admirava a estátua uma grande pedra veio do alto e acertou nos pés da estátua que acabou por ser totalmente destruída. Daniel, um estrangeiro, prisioneiro, interpreta, o que virá a revelar-se, um pesadelo. A cabeça: o poder babilónico de Nabucodonosor e todo o seu império conquistador; o peito e os braços: um segundo reinado um pouco inferior; o ventre e as coxas: um terceiro reino, que governaria toda terra; as pernas: a um quarto reino, forte como o ferro, que quebra e destrói tudo; e os pés! A base de toda a escultura,..era de barro!

A parte frágil, mesmo misturada com ferro não ligaram e uma simples pedra, uma pequena dificuldade fez ruir todos os sonhos: os da antiguidade, os dos tempos mais recentes nos países árabes, nos investimentos imobiliários, na bolsa,… no petróleo, nos orçamentos das famílias,…na subsidio-dependência… no Estado (que pensamos ser outra coisa que não os serviços que merecemos ter por viver e pagar em comunidade de cidadãos)!.

Ainda bem que Nabucodonosor teve um sonho destes! Caso contrário, ainda estaríamos a pensar: “o que me aconteceu?”

(Pl, in CV, 2011.02.22)