Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

Páginas

terça-feira, 19 de abril de 2011

A outra face

 

O tempo é propício a olhar para a Palavra. Requer-se, porém, um olhar mais atento, uma escuta predisposta a uma atitude de mudança, à leitura dos sinais dos tempos: estamos na Semana Santa.

Para um melhor entendimento da ética que Jesus inaugura com a “outra face”, no contexto que também é este que nos é dado viver, recordamos Romano Guardini, que encontra nas reflexões da primeira parte da vida de Jesus, consagradas aos princípios da vida, no período a que se dá o nome de primavera do seu apostolado. Os homens estavam impressionados pelo poder da sua personalidade e pela verdade da sua mensagem. A descrição desse tempo culmina com o Sermão da Montanha; uma sucessão de ensinamentos e exortações, pronunciado «na montanha». A “Montanha” anuncia a ética de Jesus; que Jesus formula aí as novas relações do homem consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com Deus, através das quais a ética cristã se diferenciará da do Antigo Testamento e da da humanidade. Contudo, não é no sentido moderno da palavra, a ciência do dever e da moralidade. Aqui, na “Montanha” não se revela apenas uma moral, mas toda uma maneira de existir — a qual evidentemente, exprime ao mesmo tempo um «ethos», isto é, uma nova ordem social: “a quem te ferir numa face, oferece-lhe também a outra”.

Com esta paisagem de fundo, contemplamos dois acontecimentos marcantes na nossa sociedade que recorreram à “Montanha” (8º Festival de alunos do Secundário, em Gouveia) e implica uma “outra face” (a mendicidade portuguesa junto dos senhores do dinheiro do mundo)!

Sobre a “Montanha”, a comunicação social relata episódios denunciadores da urgência de aprofundar e dar outro sentido às idades da vida e recriar toda a estrutura. Às palavras de Pe. Vasco Pinto de Magalhães, é preciso conhecer o mundo dos jovens, acrescentamos, como por prefixação, “já não é suficiente”!

O segundo quadro, na continuação do referido no último apontamento que aqui deixámos, o FMI chegou apenas para nos emprestar dinheiro e dizer como e até quando o vamos pagar! Não serão estes senhores a mudar a nossa atitude despesista sobre o que não temos. Apenas emprestam dinheiro e aplicam um plano para o reaver dentro de um determinado período de tempo – óbvio! Lamentavelmente, as consequências sobre cada um vão ajudar a mudar de vida, para pior. Por essa via, até poderemos ser levados a pensar que ficamos mais produtivos – puro engano! Apenas ficamos desprovidos da capacidade de gastar o que não temos.

Em síntese, ou damos todos a outra face (no sentido evangélico), isto é, perante esta (necessária) “injúria” mudamos de ética e prática ou vamos conhecer (no sentido do “vil metal”) a outra face da moeda!

Apesar da nossa esperança não se poder esgotar, já carregados com o madeiro do Calvário, se lançarmos os nossos sentidos em redor, só se ouve muito ruído e perscruta alguns Baptistas a pregar no deserto!

(in Correio do Vouga, 2011.04.19)

terça-feira, 12 de abril de 2011

FMI

 

A nau portuguesa, balanceada por vagas tumultuosas do mercado (financeiro) revolto, já está a ser conduzida para terra pelo Contratorpedeiro FMI.

De facto, esta aventura ultramarina dos portugueses tem qualquer coisa de misterioso, são capazes do impossível, de grandes feitos, mas, no que é fácil… facilitam!

Mais um naufrágio!

A Nau Lusitana navegava há muito à bolina mas apenas porque os ventos estavam de feição sobre a Vela Latina. Porém, com o lastro desequilibrado, o porão em péssimo estado, a vela de popa toda esfarrapada, caiu num banco de nevoeiro que aumentou a discussão, o ruído e a inoperância. E como ia (a nau) toda emproada, com o casco praticamente destruído, entreteve-se na cosmética e com alguns pormenores na Quilha! A tripulação não reagiu a tempo de colocar a guarnição em sentido, de fazer trabalhar como deve ser para transformar a nau para aquilo que foi criada!

E, com tanto ruído, já ninguém se ouvia. Até as mensagens de outras embarcações foram mal compreendidas.

No meio de gritos desesperado de alguns marujos, dos sinais da Fragata Europeia, que também navega nas mesmas águas, apenas se percepcionou: “Foram Malandros e Incapazes”! FMI.

E, em comunicado de 10 de Abril (Comunicado n º 11/126), numa Declaração sobre Portugal, pode ler-se: "Na sequência de um pedido apresentado pelas autoridades Portuguesas, especialistas do FMI irão juntar-se à Comissão Europeia e às equipes do Banco Central Europeu para uma avaliação técnica da situação actual da economia Portuguesa, na próxima terça-feira, 12 de Abril. Isto irá servir como base para as discussões políticas que terão início na segunda-feira seguinte, 18 de Abril. "

Sem mais!

Pronto, já vem aí alguém para nos socorrer! Continuemos na mesma, com serenidade, a gozar das vistas!

Portugal gosta disto, só pode! Como estamos a meio caminho de tudo (entre a Europa e a África, a Europa e as Américas,…) podemos passar a vida na “converseta” inconsequente. Será qualquer coisa entre o fado da persistência na asneira e uma irreverente matreirice aventureira de especialidade no… desenrasca e basta!

Pobretes mas alegretes!

(in Correio do Vouga, 2011.04.12)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Festa da língua

 

Há na nossa língua (Português) uma genialidade universal. Camões, Eça, Pessoa, Camilo, Saramago, Virgílio Ferreira, … “Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso, a voz do mar foi a da nossa inquietação”.

A nossa língua é complexa, como complexo são os movimentos do mar. Neste mar, que é o nosso, há muito movimento, tensão, vagas poderosas, águas mais serenas e águas mais turvas!

Assim como é o mar também é a nossa comunicação! É em Português, na nossa língua, que vivemos!

Contudo, como a comunicação não se esgota nos falantes, no verbalizar ou graficar expressões, há muita linguagem não verbal. Lemos nas interlinhas, lemos nos comentários dos outros, comunicamos pelos gestos, expressamo-nos nos silêncios, falamos no que vemos e como nos colocamos para ver!

Por vezes, também temos de falar outras línguas para vermos outros Mundos, ler outras sinas (que interpretamos aqui como “itinerários”, “sinais”, “indicadores”).

E o que também se vê? O mesmo que se vê da nossa língua: coisas boas, coisas menos boas. Competência e incompetência. Demagogia e ganância. Honra, dignidade e o seu contrário…

Em síntese, também vemos um pouco do que se viu este Domingo no Estádio da Luz! Isto é, línguas insídias ! Um Mar poluído.

Como a nossa língua é rica e culta, coisa estranha a estes mundos bastante pérfidos, vamos aos clássicos e “honra aos vencidos e glória aos vencedores”, independentemente de quem chega em primeiro que, no caso citado, nenhuma das partes esgota o significado de “glória”.

Há emoções e expressões que podiam ser festa de uma língua, como tão bem tratam os génios da literatura, em vez de uma arruaça de energúmenos!

(in Correio do Vouga, 2011.04.05)