Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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terça-feira, 12 de julho de 2011

“Rating” e “ranking”

 

É inevitável que prestemos alguma atenção ao que tem sido debatido sobre o assunto (rating) sem que alinhemos nem pelos conteúdos técnicos, de que não temos mais do que pensamento próprio, nem pelas teses conspiratórias ou persecutórias sobre o caso que suscitou a hecatombe: as contas portuguesas (Estado central e local, algumas empresas) estão consideradas no ranking ao nível do “lixo” – mas é importante que se diga, o lixo também dá dinheiro!

As empresas de rating são grupos que avaliam a capacidade de liquidez de quem lhes paga. Primeira nota de grande interesse: estas empresas recebem dinheiro para a avaliar os clientes. Espertos!

Depois, há os interesses de quem se associa. Claro que obter boa notação destes actores de mercado de capitais, agentes de informação sobre dinheiro-valor de um determinado produto virtual, é óptimo para obter empréstimos para fazer obra, para se viver melhor.

E há, ainda, aquela ponta de vaidade “nós somos auditados pela empresa tal!”. E ficamos boquiabertos pelo feito.

Deixemo-nos de coisas. Só pode haver três razões para isto acontecer (pagar para pertencer ao grupo): a) Necessidade para obter mais dinheiro emprestado; b) obrigação de o fazer, caso contrário não se tem credibilidade para obter esse dinheiro; c) incúria total, se não se der nenhuns dos casos anteriores.

Vejamos como funciona o mundo. Olhemos por vários ângulos outros níveis e notações que são dadas diariamente.

Quem não tem aparência, estatuto social, publico reconhecimento ou mérito popularmente conhecido “obtém” diariamente cada notação…!? E raramente por entidades credíveis.

Quem vai para pagar uma conta no mercado (neste caso, o melhor exemplo é o do peixe, da fruta – não haja confusão!) e não tem dinheiro?! Quem precisa de comprar casa (agora é melhor alugar) e não tem valores de garantia?! Quem é educado e espera a sua vez, na fila, para proceder dentro da conformidade?! Quem trabalha e vê o sistema avaliar o seu desempenho com processos cheios de truques e manhas apenas para não progredir?! Quem tem competências de excelência e vai para o desemprego?! O aluno que trabalhou um ano inteiro e, agora, uma avaliação externa reprova-o?! Etc., etc.,…

rating e ranking por todo o lado com regras que, mesmo querendo, não conheceremos!

No caso em apreço, apenas custa perder a ilusão de que a vida é fácil! Há trinta anos, sem o desenvolvimento que temos hoje, ninguém duvidaria que somos um país pobre numa Europa iludida numa teia de interesses nacionais.

Portanto, todos “apanhámos uma raposa” - a época é propícia!

(A raposa é o mais odiado dos animais na Academia de Coimbra, isto porque «apanhar a raposa» significa não passar de ano. A expressão está relacionada com um painel de azulejo da Faculdade de Direito. Quando se vai da Via Latina para os Gerais, existe um espaço onde os estudantes aguardavam para serem chamados, a fim de realizar as provas orais. Esse espaço é todo coberto por azulejos apresentando vários motivos, predominando os florais, onde está também a dita e aonde, caso não houvesse sucesso, ter-se-ia de voltar).

Mãos à obra. Temos de fazer mais e melhor para passar…

(in Correio do Vouga, 2011.07.13)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Férias

 

Este título é quase um grito – qual D. Pedro, nas margens do Ipiranga, em 7 de Setembro de 1822, quando na sequência de diversos conflitos de poderes entre as Cortes e a administração da Colónia, o Regente do Brasil declarou o território definitivamente separado da metrópole: "Independência ou morte!".

Este grito (“FÉRIAS”) simboliza tudo o que se pode desejar, depois de uma longa jornada de sucessão de trabalhos, e uma lista de preocupações por não se conseguir chegar lá ou depois de vir de lá – seja esse lugar, momento, tempo onde for!

Fraccionemos as coisas.

A conquista (trata-se de facto e de direito de vitórias difíceis), do tempo para fazer outras coisas, de descansar (passivamente ou activamente), é contemporânea das lutas de outras independências que se iniciaram durante o século XIX, no contexto das revoluções sociais e liberais. No fundo, foi uma parte da emancipação da pessoa para a sua própria realização e afirmação de independência – só reclama independência quem está dependente.

Depois, como noutra ocasião já o referimos, vem o século XX, o 13º mês, e a… dependência das férias para que todos possamos usufruir desse aliciante: gastar o 13º mês!

Voltámos à dependência.

O final de XX e o XXI já vivido, com o triunfo dos hedonismo e individualismo, aliados a bens eternos como a cultura e o princípio de conhecer para compreender e preservar, fizeram o resto. Isto é, se não tem férias não é ninguém; está fora de moda.

A conquista de um direito passou a ser a ditadura de uma vida: pode-se incomodar uma pessoa em qualquer momento, a qualquer hora, todos os dias. O que nunca ninguém faz é perturbar as férias:

- “Estou de férias!”

- “Ah! Desculpe, não sabia. Faz muito bem. Fica, então, para depois!”

E todos vamos vivendo norteados por isto.

Porém, a segunda década de XXI começa com um aviso sério: só faz férias quem pode. O 13º mês é necessário para equilibrar o “extinto” 14º (subsídio de Natal)!

Impõe-se a necessidade de um outro “Ipiranga”, o dos “acampados” (nas praças das nossas cidades) e desempregados: queremos trabalho!

Uns querem trabalho para ter salário para viver, outros para sobreviver e, alguns, ainda pensam que é possível ter tudo o que se conquistou: fartura e férias!

Os tempos mudam! Não mude, no entanto, a convicção e a persistência dos que têm a apetência, competência e possibilidade de incutir e usufruir de hábitos de boa gestão de tempo e, obviamente, de salário para poder viver com elevação e dignidade. Que as férias sejam isto mesmo e uma oxigenação da vida.

(in Correio do Vouga, 2011.07.06)