Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Falta de educação

 
A afirmação é polissémica. A terminar o ano de 2012 vemo-nos confrontados com diversas interpretações sobre o assunto.
Há muita preocupação a emergir com os elementos que adicionam novos dados sobre o universo da educação. Os factos provenientes dos Estados Unidos deixaram o mundo perplexo. O que aconteceu lá, apesar das circunstâncias agravantes, pela lei das armas vigente, deixa antever que pode acontecer em qualquer lugar. O mundo está muito igual. Por mais que se insista nesta matéria, por maior incómodo que o assunto possa provocar, verifica-se uma enorme agitação que (também) se reflete no espaço escolar.
A confusão entre escola e educação acaba por, intencionalmente ou não, refletir como preparamos o nosso futuro comum. A quem pertence a responsabilidade da educação?
A Constituição Portuguesa (artº 67) incumbe o Estado de cooperar com os pais na educação dos filhos. Todos têm direito à educação e à cultura. E o Estado promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida coletiva (artº 73 e ss).
A educação começa, portanto, em casa, na família, mas a nossa sociedade não tem casa e tem muitas famílias com pouca ou nenhuma familiaridade!
Agora (notícia de 18 de dezembro) acena-se no horizonte mais uma falta de educação: o Governo está a equacionar a transferência de muitas das suas competências na área da Educação para as autarquias, incluindo no secundário. O modelo será testado no concelho de Cascais em 2013 e implica atribuir à câmara a gestão de todas as escolas do ensino obrigatório - até ao 12.º ano - mas também do pessoal docente e não docente. Se funcionar, o Governo poderá propor este modelo para todo o país.
Esta falta, na educação, reside na conflitualidade que numa área fundamental para a estabilidade e coesão social, tanto a curto como a médio prazo (educação, sistema educativo e escolas), não existir um ambiente de serenização e seriedade: muda-se tudo porque sim e porque não!
O municipalismo educativo, provocado desta maneira, terá tanto sucesso como as políticas e práticas que as Câmaras têm desenvolvido até agora: uns sim, outros não, outros qualquer dia, no futuro, quem sabe…?!
A pobreza não é condição de vida! Temos direito, e dever, a ser melhores!
(in Correio do Vouga, 2012.12.19)









terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Declaração Universal dos “Deveres” Humanos


Sucedeu esta semana a passagem do 64º aniversário da adoção da Declaração Universal pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que ocorreu no dia 10 de dezembro de 1948, com 48 votos a favor, nenhum contra e oito abstenções (a maior parte do bloco soviético de então, como Bielorrússia, Checoslováquia, Polónia, Ucrânia, União Soviética e Jugoslávia, além da África do Sul e Arábia Saudita).
Realçamos o acontecimento pela oportunidade. Também revestimos o título com uma diferente “nuance”. Porque este é o tempo de olhar para a vida como um dever: sermos melhores uns com os outros nesta casa comum (a universalidade do ser humano e a sua subsistência) que está degastada, finita, a ameaçar ruir.
O pre-texto, o texto, a sua viabilidade e exequibilidade são um mapa diplomático; uma obra de engenharia social fantástica; uma construção contínua; um organismo dinâmico que obriga a revisitação permanente para que possa ser atualização, inculturação, co-resposta a cada tempo. Portanto, a consagração dos direitos… que implicam – como a outra face da mesma moeda! – deveres muito mais assertivos.
Embora não tenha sido formulada como tratado, a Declaração foi expressamente elaborada para definir o significado das expressões “liberdades fundamentais” e “direitos humanos”, constantes na “Carta da ONU”, obrigatória para todos Estados membros. Por esse motivo, é o documento constitutivo das Nações Unidas. O Direito Internacional baseia-se aqui para fazer jurisprudência, uma norma consuetudinária internacional, constituindo-se assim numa poderosa ferramenta de pressão diplomática e moral sobre governos que violam qualquer de seus artigos. A Conferência Internacional de Direitos Humanos da ONU, de 1968, refere: “constitui obrigação para os membros da comunidade internacional” em relação a todas as pessoas.
Como tudo o que abre oportunidade para que o nosso mundo seja mais humano, mais solidário, mais justo, mais sustentável, mais Presépio (convocando o latim em sentido metafórico) de Paz, voltámos este a este articulado “trintário” reformulando perspetivas, caminhos, itinerários para já! Sobretudo com quem se está todos os dias lado a lado. Mais que direitos, reclamemos deveres!



quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Milhões


Só a expressão é altamente desafiante, impele-nos para o superlativo!
O efeito, a consequência, dependerá do “Deve & Haver”. Entendendo o dito (Deve & Haver) aplicado à contabilidade, para poderem dar informações aos clientes sobre os movimentos bancários, os contabilistas mencionam num livro onde existe, na página esquerda, a palavra Deve; aí estão registados os levantamentos dos clientes. Na página direita, está escrita a palavra Haver; é onde se encontram as entregas do cliente; significa, portanto, «valores que o cliente tem a receber». Enquanto o Deve encontra-se no presente do modo indicativo, Haver corresponde a uma síntese da expressão «tem a haver».
Este inciso explicativo ajudar-nos-á a situar a problemática intimidante: o Haver de milhões, à direita, na folha da direita!?
Depois deste exercício (legislatura), extrapolando para além dos registos de contabilidade, o que teremos a Haver, para já, em Dezembro de 2012, é um português em cada quatro no desemprego! Em breve, duas coisas acontecem sem apelo nem agravo: termina o período de vigência do subsídio de desemprego, ou nem direito há a recebê-lo; esgota-se o fundo disponível nos cofres do Estado. Como se sabe, a partir de 1 de abril de 2012, as variáveis para a receção desta compensação social oscilam, grosso modo, entre os 150 dias, o nível inferior e os 540 dias (para quem tem mas de 50 anos e descontou, para a Segurança Social ou similar, no mínimo 24 meses).
Ainda do lado do Haver, ouvimos o Sr o Ministro da Solidariedade e Segurança Social (MSSS), Pedro Mota Soares, afirmar que os números revelados pelo Eurostat que indicam a existência de 2,6 milhões de portugueses em risco de pobreza ou de exclusão social são «muito preocupantes».
«São números muito preocupantes, mas nós sabemos que temos que atuar neste sentido. Temos vindo a conseguir reduzir sistematicamente as taxas de pobreza em Portugal» - referindo que o Governo, para reduzir a pobreza, fez um reforço de 100 milhões de euros da linha de crédito disponível para instituições de solidariedade social (que dispõe agora de 150 milhões de euros), no âmbito do Plano de Emergência Social. E ainda o descongelamento das pensões mínimas e rurais como exemplo «extremamente importante, quer no combate à pobreza, quer na recuperação do poder de compra de quem as aufere».
O protagonismo do Ministro SSS torna evidente para que lados estão direcionados os holofotes da ribalta. Em vez de vermos um país a crescer, com projetos que levam à produção e emprego; com abertura de potencialidades estratégicas,… isto é, sobre o Ministro da Economia, sobre o Ministro dos Negócios Estrangeiros (porque tem a “pasta” da diplomacia económica);… eis-nos aterrados sobre números sobre o que “havemos” de ter: mitigação de pobrezas.
É um desperdício de oportunidades!
Estafados com tanto aperto, abram-se janelas de esperança. Para grandes males, grandes remédios: linhas de produção seletiva, redes de exportação do excedente, desburocratização de processos, celeridade na justiça!
Deixem as demagogias na escola, na saúde, na mobilidade (de pessoas e bens) em paz! Pagamos o que devemos mas reforcem-nos a esperança!
(in Correio do Vouga, 2012.12.05)









terça-feira, 27 de novembro de 2012

Não há ambiente

 
É comum, como desbloqueador de conversação ou constatação de facto, utilizar-se a expressão (não há ambiente) com alguma criatividade semântica. Poder-se-á dizer que o contexto onde determinada situação pode ocorrer não tem todos os requisitos para que tal se proceda; poderá querer-se ironizar com as circunstâncias, gerando na negação como que uma antítese. Por fim, há coisas que saturam tanto que fazem o ambiente irrespirável - a congeminação na projeção (mecanismo de defesa, da psicologia) é uma delas!
Não há ambiente que resista aos sucessivos desmandos e atrasos na aplicação das resoluções que consiga resistir até 2020, como agora se discute na cimeira do Qatar - segunda-feira, dia 26 de Novembro, em Doha, no Qatar, e prolonga-se até dia 7 de Dezembro (eventualmente estendendo-se até domingo, dia 9), a mais importante reunião anual mundial sobre clima, a 18ª Conferência das Partes (COP18) da Convenção das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas. Pode ler-se no sítio on line da Quercus: os acordos alcançados em Durban, em 2011, relançaram a esperança em ultrapassar a desilusão que marcou a Cimeira de Copenhaga em 2009. Há assim a possibilidade de recolocar o mundo num caminho de emissões reduzidas, pronto para tirar partido das oportunidades que surgem pelos novos mercados e inovação tecnológica das tecnologias limpas, pelo investimento, emprego e crescimento económico.
Contudo esta janela de oportunidade estará aberta por pouco tempo. Para tirar partido deste potencial são necessárias ações decisivas na COP18. O nível de ambição a curto prazo tem de ser mais elevado e é imperativo que seja acordado um calendário de negociações de modo a alcançar um regime climático global justo, ambicioso e vinculativo em 2015.
Esta semana, a Agência Europeia do Ambiente alertou para o facto das alterações climáticas estarem a afetar todas as regiões da Europa, causando múltiplos impactes na sociedade e no ambiente, danos que, no futuro, poderão ter custos elevados.
Os maiores investidores mundiais pediram aos governos para intensificarem a sua ação contra as alterações climáticas e para aumentarem o investimento em energia limpa, de modo a evitar um impacto que custará milhões à economia.
Para usar da trágica ironia, não há ambiente que resista às diatribes do “Executivo” da Câmara Municipal de Aveiro! Serviço público, local, e os cidadãos sé podem …'ESPERAR SENTADOS'
Das “redes sociais” entende-se que após solicitação feita à CM Aveiro, no sentido dos moradores do Albói serem esclarecidos quanto ao verdadeiro projeto para o Largo Conselheiro Queirós, no prazo de 48 horas, e ultrapassado esse tempo, os mesmos continuam sem obter qualquer resposta?!
Assim, depois de reunirem, concluíram encetar novas formas de protesto. Ficou então, agendado para o dia 26 de novembro, que, a partir das 14h, todos os moradores e amigos disponíveis fossem "ESPERAR SENTADOS" no Largo Conselheiro Queirós.
Juntaram-se (neste protesto), levaram uma cadeira e... "ESPERARAM SENTADOS".
E esperaram mesmo! Isto é, indignados puseram-se a caminho, agiram!
Estas e tantas outras faltas de ambiente, dão lugar à indignação.
(in Correio do Vouga, 2012.11.28)






quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Distinção e solidariedade


Distinção. Chama a nossa atenção a Semana Europeia de Prevenção de Resíduos 2012, que decorre entre 17 e 25 de novembro.
A Semana Europeia da Prevenção da Produção de Resíduos (SEPR) é um projeto europeu a três anos e conta com o apoio do programa LIFE+ da Comissão Europeia, cujo objetivo é sensibilizar ao máximo a população para a problemática dos resíduos, em particular a prevenção, com diversas iniciativas, como animações, workshops, e outras atividades sobre esta temática.
Estas ações visam ajudar a compreender o significado da prevenção de resíduos e a motivar a responsabilização de cada cidadão. São dirigidas a diferentes proponentes do projeto, agrupados em diversas categorias, que deverão adaptar devidamente as propostas ao público-alvo e ao contexto de cada país e/ou região, nomeadamente Administrações, autoridades públicas; Associações, ONG, redes europeias; Empresas, indústria; Comunidade escolar: escolas, centros recreativos; outras.
Solidariedade. Vem na consequência do item anterior. Por mais voltas que se pretenda dar à questão, mesmo com estudos encomendados sabe-se lá com que intenções, o ambiente está a mudar. Esta semana notou-se mais um episódio – como se fosse necessário! – com maior incidência em Silves e Lagoa, no Algarve. O tornado que se abateu provocou sofrimento e prejuízos para as pessoas e instituições. Tudo isto exige a nossa solidariedade.
A solidariedade é requerida pelos acontecimentos consequentes mas também pela generosidade de uns para com outros, os cidadãos de Silves, que, ao apelo de um político autarca, responderam afirmativamente dando um exemplo de cidadania altamente louvável. Nem deram tempo ao lamento ou carpição. Obtidas as devidas autorizações, eis como um povo faz uma manifestação de querer, de vontade, demonstrando a ousadia de provar quanto é justo que um país pode erguer-se, tal como as pessoas, quando não falta a maior grandeza do ser humano: conhecimento e vontade transformados em generosidade.


terça-feira, 13 de novembro de 2012

A Convenção de Merkel


O cidadão comum não percebe onde está a verdade. Qual a mensagem libertadora da confiança agrilhoada!

Entre nós esteve uma Chanceler Europeia – sem qualquer veleidade, relembramos que esta designação, por ter uma inspiração clássica, terá tendência, face ao que está em desenvolvimento, a ser aplicada a todo o império.

Façamos um pequeno exercício de pesquisa livre…

Na Roma Imperial dava-se o nome de cancelarius a cada um dos secretários imperiais que se colocavam atrás das cancelas (cancelli) que separavam o público do recinto onde o imperador fazia justiça.

Em diversos estados medievais da Europa, o título de chanceler ou cancelário foi atribuído a altos funcionários da coroa, que desempenhavam funções semelhantes às dos atuais primeiros-ministros. O chanceler tinha, normalmente, à sua guarda o selo do Monarca, sendo responsável por selar, por a chancela, os documentos mais importantes do Estado.

Também em algumas ordens militares, o chanceler era o oficial mais elevado.

Atualmente o título de Chanceler continua a ser usado, com vários sentidos, em diversos países e instituições. Em alguns casos assume o papel de Imperador ou Chefe do Conselho. Quantos perigos nesta confusão de sentidos?!

Nada custa, portanto, aceitar o título imperial que a Alemanha deseja ver concretizado: uma Alemanha Imperial.

Este movimento da “Chancela”, entre outros incómodos, provoca dois motivos de apreensão porque reflete dois percursos encapuzados que veladamente estão a alterar, a subverter o rumo da história e das instituições europeias, transformando-se em autênticos embustes para os cidadãos.

O primeiro é o da credibilidade da ética política na construção da Europa, da União, dos Tratados. Serão verbos de encher!?

Onde está o Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança (Catherine Ashton)? E a Presidência do Conselho Europeu (Herman Van Rompuy )? E o Presidente da Comissão (José Manuel Durão Barroso)?! O vazio e difusão das competências deve-se a falta de consensos na concretização dos Tratados ou é intencional para dar espaço a este desvario?

A segunda questão é, para variar, sobre o esvaziamento de conteúdo substancial do quadro ideológico da Europa. Um Continente desnorteado, sem norte, cada vez mais nacionalista, longe das pessoas e dos seus problemas. A única medida de força está no dinheiro, no Euro, na desgraça do mesmo; nas Finanças;…

Num mundo cheio de informação, será à volta destas questões que se pode compreender porque é que não se consegue vislumbrar uma ideia, uma estratégia similar, para o futuro comum, entre a Convenção do Bloco de Esquerda, por exemplo, e a “Convenção” Merkel em Portugal. Estes dois “reencontros” são indicativos do que se passa hoje numa Sala de Aula: o professor, cheio de boa vontade, qualificação e zelo profissional; uma maioria de os alunos cheios de informação mas cada vez mais com menos sentido comum; do outro uma minoria de alunos pautados pela vontade e determinação na aquisição e desenvolvimento de conhecimentos, novos conteúdos, que habilitem para responder a um futuro melhor, mais desenvolvido, mais solidário, mais justo. Mesmo com recurso à formulação metafórica, não é percetível quem está a desempenhar o papel que serve melhor a todos. Não há comunicação, apenas monólogos irritantes!

Assim, … a caravana (apenas) continuará a passar! E em vez de evocarmos que o tempo das vacas gordas já foi, deveríamos estar empenhados em engordar as escanzeladas!

(in Correio do Vouga, 2012.11.14)

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Suspensos por ter

 
Possuir qualquer coisa foi desde sempre a ambição, legítima, do ser humano. A Terra, na sua amplitude, era um território e fonte de riqueza a explorar. Afinal, o Jardim do Éden estava ali! A questão fulcral de Carlos Mesters (Paraíso terrestre, saudade ou esperança?) poder-se-ia considerar uma longa metragem de saudade.
Como é reconhecida, a legitimidade em ter algo individual teve várias etapas, quadros reducionistas (longos períodos tudo era posso do soba, do soberano), até que as classes ficaram acentuadamente heterárquicas.
Hoje, a consciência do mundo (de quem a tem!) exige uma passagem de proprietário a administrador, um administrador justo, que respeita o património, em que haja a justiça distributiva e redistributiva.
É claro que o Éden está a revoltar-se! A “luta de classes” ganhou nova centralização: a revolta instalou-se dentro da própria natureza. Os elementos não poupam que tem ou quem não tem.
Até há pouco tempo, o que acontecia aos pobres e indigentes era visto com misericórdia, ativador de solidariedades sinceras e duvidosas, quase sempre alinhadas em interesses associados a golpes de marketing, sem com isso desconsiderar as migalhas que mitigam as necessidades de quem mais precisa. O impacto mediático é o outro nome da solidariedade.
A pobreza, a fragilidade, do mundo está muito perto de cada um. Assim, uma hecatombe em Nova Iorque é a mesma coisa que no Bangladesh! – não queríamos acreditar noutra coisa.
Apesar das limitações (e virtudes) do ser humano deverem ser tratadas por igual, somos levados a pensar que as variáveis estarão no pressuposto de quem nada tem nada perde, e os que têm alguma coisa perdem muito! Mas o estado dos Estados, muitas vezes acumulado em consequência da exploração selvagem, faz a diferença a favor do mais forte; até aqui, em estado de sobrevivência, como sempre, há senhores e vassalos?!
Seria extremamente vantajoso aproximar as distâncias – nada de novo, uma verdade de La Palisse (Senhor de La Palice) – para evitar as disparidades desta ordem. Mais equilíbrio nivelado por cima, por qualidade, ainda é possível.
Apesar de tudo, é sobre isto também que o mundo ocidental está à espera: que os povos dos Estados Unidos e da Alemanha orientem as escolhas (sufrágio eleitoral) para o seu futuro proporcionando líderes sensíveis à solidariedade social, à justiça social, evitando a exploração desenfreada.
Aguardamos suspensos… porque o pouco que a maioria tem, parece ser opulência (viver acima das possibilidades?!) aos olhos da minoria que possui tudo!
(in Correio do Vouga, 2012.11.07)









terça-feira, 30 de outubro de 2012

O silêncio dos bons


Ser bom não pode ser… muito relativo. Ser bom é absoluto! Por isso, uma das melhores definições para o conceito radicará numa alusão aos procuram o bem comum, o melhor para o maior número; o que faz de cada ato e preocupação um encontro contínuo com o que é útil, justo, verdadeiro, edificante, clarividente. Ser bom significará o homem e a mulher de boa vontade que aspira a deixar o mundo um pouco melhor, sem ter de se aniquilar ninguém, em equidade de ideias, verticalidade, integridade. Reconhecer o mundo que nos rodeia contrariando a tendência latina de “pintar tudo de negro”, de mau, de oportunista, será um primeiro passo. Estar sempre a afirmar que o mundo é cego, pode significar que o próprio já não vê nada!
Ninguém é bom ou mau sozinho! Ninguém é sozinho!
Num tempo de causas, a expressão, que intitula este apontamento, universalmente atribuída a Martin Luther King, faz parte dos pensamentos que a humanidade imortalizou, e continua a imortalizar, porque são intemporais. “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons” ou ainda “No final, não nos lembraremos das palavras dos nossos inimigos, mas do silêncio dos nossos amigos”.
São palavras duras mas refletem, com a adequada ponderação, a cegueira de quem não quer ver ou, como na globalidade dos casos acontece, a falta de distância e sentido crítico para distinguir a pequena verdade no mar de mentiras, ditos e contos. E, no final do dia, se dúvidas persistam, realizar um pequeno exercício de autoleitura para tentar distinguir o essencial do acessório.
Hoje, também recordamos, para interpelar o silêncio dos amigos e enfrentar a movimento diabolizante (no sentido etimológico que o grego confere) dos inimigos, outras passagens dos discursos preleções do Pastor Batista “suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo.” Mas, impulso determinante está também, neste tempo que tolda os espíritos, o raciocínio de muitos, na necessidade de se deixar seduzir pelo que é evidente!
Sintetizando porque estes dias são de pesar social – talvez por influência do dia 2 de novembro que se avizinha, o dos “Fiéis defuntos” – “as nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam.”
E para começar a sair do silêncio, até da insídia, basta reconhecer que “a verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio”.
(in Correio do Vouga, 2012.10.31)






terça-feira, 23 de outubro de 2012

Malparado e a esperança desta hora

 
O caso está mal parado – é uma expressão do linguajar comum! E está mas não nos pode vencer.
Em partilha de preocupações sociais, um sacerdote amigo, profundo conhecedor da realidade social e da investigação que se faz nessa área, manifestava a sua apreensão pelo número de empresas que, numa determinada região da nossa diocese, estão à beira da falência. Se o assunto pode não parecer novo, não deixa de ser manifestamente angustiante ficar-se sem saber a quem e como acudir!
Ainda nos mesmos contextos, constatava-se a notícia sobre os milhares de jovens (cem mil por ano,… já estamos em 65 mil, segundo notícias sobre estudos recentes em ciências sociais)!
Mais adiante, ficamos a saber que tudo isto (crédito) está malparado!
A subida verificou-se em várias frentes. No caso das empresas, o malparado aumentou 516 milhões entre julho e agosto para se situar nos 10 645 milhões de euros. Na prática, dos 108 515 milhões emprestados às empresas, 9,8% são de cobrança duvidosa. 
Do lado das famílias, o crédito malparado também subiu para valores nunca vistos e que quase tocam os 5 mil milhões de euros. Entre julho e agosto deste ano aumentou 34 milhões de euros para os inéditos 4 977 milhões de euros. O que significa que 3,7% do crédito concedido em agosto é de cobrança duvidosa. 
A banca também continua a conceder cada vez menos dinheiro às famílias e empresas portuguesas. Se no lado das empresas os empréstimos caíram 844 milhões de euros, para os 108 515 milhões em agosto, do lado das famílias a concessão caiu 536 milhões de euros em agosto para os 136 017 milhões de euros. 
Para terminar, o grito de revolta, de esperança, a mobilização que a Diocese de Aveiro, dentro da celebração dos 75 anos da restauração, apresenta como mobilização contra o pessimismo, o entorpecimento: VIVE ESTA HORA!
No meio da aridez do dia-a-dia, a Igreja recupera o seu legado social e suscita, pela comunhão e partilha de preocupações, serviços, bens, património,… sinais de esperança. Esta hora é mesmo de unir forças, reunir esforços, vencer quem nos querem derrotar, tenha lá o rosto que tiver.
(in Correio do Vouga, 2012.10.24)









quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Unesco alerta para ensino vocacional

Unesco alerta para ensino vocacional

Dignidade e indigência

 
O povo português é um povo bom, bondoso – onde é que já ouvimos isto?! É uma terra abençoada em muitas latitudes. Por aqui também, no sentido bíblico, jorra leite e mel; há capacidade de trabalho, produtividade. Como todos os povos de boa vontade, Portugal tem dificuldade em aceitar ser mal governado, tanto nas coisas grandes como nos empreendimentos mais elementares ou menos cuidados. Como já foi estudado à exaustão, o perfil melancólico do português contrasta, na mesma pessoa, com a vivacidade e sagacidade que colocamos na vida. Aliado a isto, emprestamos às coisas que fazemos lógicas de proximidade, inter-relação, conveniências. Será por essa razão que, em imensas circunstâncias para não dizer sempre – como já o abordámos neste espaço, cada português descobre imediatamente a arte de “conhecer alguém” porque juntos seremos mais fortes, esteja onde estiver, seja em que circunstâncias forem. E a vida foi crescendo assim, com dignidade mas sempre prontos para privilegiar aquilo que, malevolamente, se designa por “dar o golpe”
Nos últimos tempos, a capacidade de “conhecer alguém” também se individualizou, “egoistizou-se”, fechou-se em circuito fechado. Primeiro, em grandes corporativismos, depois em classes, em companhias, em organizações “ad hoc”,… até que chegou ao topo, ao Parlamento, ao Governo. A dignidade do “ser português” enquistou em várias indigências. Hoje, há uma teia de sob e supra governanças que formam uma nuvem espessa que não deixa ver o que o país tem de melhor: honestidade, dignidade, empreendedorismo, capacidade de superação.
Como há cem anos… “isto só lá vai com uma revolução”!
A revolução que está a processar-se, porque não é pela força das armas, demora o seu tempo mas atinge os objetivos e será mais eficaz. E quem titubear fica perdido no pó da história. Lamentavelmente, as vozes mais eloquentes e formadas em valores sociais, éticos, cristãos intemporais estão a esconder-se atrás da “nuvem” de governanças, ao ponto de estarem a ser confundidas com a própria nuvem. Falta coragem à maioria. O pastor ainda não viu a dimensão do rebanho, já não são novena e nove no redil! Neste momento, está uma ovelha no redil e, as perdidas, são quase noventa e nove! Há umas tantas que estão por aí…
Está na hora de sair das conveniências, dos corredores do poder, de ouvir a voz que clama (mesmo que seja no deserto, que não o será!), de procurar quem ainda não se afastou de vez, ao ponto de nunca mais se encontrar. Não ter medo da indigência de topo ao dar voz à dignidade das bases! Aí, nas bases, ouvem-se vozes abafadas no isolamento a que são expostas, mas vão sem medo; tanta “Caritas”; Comissão Nacional Justiça e Paz; operários; professores; anónimos… tanta dignidade!~
(in Correio do Vouga, 2012.10.17)





terça-feira, 9 de outubro de 2012

Uso, abuso e desuso

 
A vida está repleta de arcaísmos; peças, projetos, expressões, coisas que o tempo, e as alterações provocadas pelo mesmo no desenvolvimento humano, deixaram para trás no uso que era de ponta num determinado período da humanidade, da natureza, do mundo. Portanto, a pressão dos elementos e o desgaste provocado pelas idades do Homem, encaminham para o desuso o que parecia único, exclusivo, a última palavra!
Esta conclusiva, suscita a reflexão sobre o uso dos recursos, a natureza dos mesmos num período finito, mesmo quando aplicada a perspetiva filosófica da lei de Lavoisier “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
Na verdade, “Lei da Conservação das Massas” aplicada às ciências sociais, "numa reação química que ocorre num sistema fechado, a massa total antes da reação é igual à massa total após a reação", projeta-nos o abuso a que tantas oportunidades são colocadas!
Nesta trilogia, mais ou menos dinâmica, encontramos realidades tão dignas e expressivas que provocam, ou deveriam provocar, uma reflexão séria. O uso, o abuso e, pela pressão e descredibilização, o desuso, o sincretismo, a mistura do trigo e do joio.
Casos como o sistema de saúde, o sistema de educação (em particular a escola pública), a justiça, a segurança social, as fundações, banqueiro e bancário, político, rigor, organização, método são alguns dos exemplos votados ao despesismo e consequentemente esquecidos, aniquilados nas preocupações dos decisores e utentes dos mesmos.
Os atores destes serviços essenciais à vida das pessoas, dos cidadãos, estão votados ao arcaísmo, pior até em muitos casos, considerados como autênticos energúmenos que se deseja estripar.
Quem provoca esta confusão de dados? A quem serve o laxismo, a generalização do acidente (no percurso) como sendo a essência das coisas?
Provavelmente, o abuso da deturpação e demagogia oculta algumas tentativas de, pela massificação, criar terreno fértil a uma nova ordem, seja ela qual for e como for.
in Correio do Vouga, 2012.10.10







terça-feira, 2 de outubro de 2012

À espera do nada


Enfrentamos um dilema perante os acontecimentos do nosso tempo, qual o melhor lado da barricada para participar no escoramento de uma civilização e um país, em consequência, que se desmoronam?!
A situação está de tal maneira confusa que, algumas vezes, chega a ser difícil o discernimento sobre os factos, a fundamentação e coerência. Como nos velhos regimes decrépitos, o “nevoeiro”, a intolerância, a falta de verdade em espiral negativo não abonam muito sobre o futuro. Porém, há futuro; todos esperamos que haja futuro, não será tão abundante como o sonhado, o prometido na última década de XX mas, enquanto houver vida e mesmo depois desta, isso mesmo será o nosso legado ao futuro! Será, porventura, uma civilização de valores mais a sul e a oriente, sinal do que não conseguimos dimensionar com justiça social e nivelamento das desigualdades.
A civilização que agora caminha para o colapso terá tido três eras, a do engelho, a da arte, a da ganância! De mesma maneira que todas as outras, a falta de solidariedade e implicação disso nas rivalidades extremas, mesmo dentro de muros, quebraram tudo o que garantiria a segurança do coletivo, isto é, a comunidade. Agora, já estamos juntos numa outra dimensão, todos uns contra os outros.
E voltando ao início, qual os partidos, o lado da barricada que está certo? Os Governos? As Organizações? As Instituições? As pessoas? Os patrões? A Banca?... já ninguém tem paciência para ouvir! Portanto, perderam força os valores (sobretudo da solidariedade) e dos argumentos do Verbo e ganharam inflexibilidade musculada, agressividade, o vazio, a ausência de tudo.
Como quem não tem nada já não teme perder alguma coisa, reside aí a potencial centelha para tudo o resto.
A espera do nada, não dá grande esperança, sinal de crer, mas galvaniza para o absurdo. Parece que é aí que estamos, na Era da Ganância, no período do absurdo! E a culpa é de nós todos, dos que enganaram e dos que se deixaram enganar; dos que acreditaram e dos que perderam a crença; da multidão dos aflitos e do tropel elitista que julga vencidos os que lutam por dignidade, pão, pequenas gotas de vida.
Como é possível não ver…?!





quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A força da rua ou a rua sem força


Estamos claramente num impasse.
Deixaram que os apoios da, então, CEE e, agora, da União Europeia não tivessem os efeitos que se pretendiam (ou terão tido?!): renovar, reestruturar, inovar, criar um quadro de desenvolvimento a médio-longo prazo!
O país, como foi amplamente debatido na RTP1, na madrugada de segunda-feira passada, nos “Prós e Contras”, não tem nenhuma estratégia para nada. Portanto, a máxima que faz plano de qualquer gestão, pelo menos pública, é “o que vier, morre”. E morre mesmo.
Quando alguém assume o governo de qualquer coisa, é quase certo que tem de começar tudo do zero ou começa mesmo por não haver nada planeado. Quando há algo planeado, vem sempre alguém que se encarrega, por inércia, falta de visão, impreparação, ignorância ou bem do próprio, de destruir tudo o que existe.
A pescada de rabo na boca deveria substituir a Esfera Armilar em todos os símbolos nacionais. Se não é o que melhor carateriza a gesta lusa andará lá muito próximo – é com consternada tristeza que o constatamos!
Um plano estratégico implicará sempre, no mínimo, três premissas motivacionais: disciplina, organicidade (rigor estruturante dinâmico) e metas! Não dá em terras de Afonso Henriques!
Daí que tenhamos a sensação, experimentada, como milhões de portugueses, que a “Rua” (em maiúscula e com aspas, dada a simbologia aqui apresentada), por mais ampla e consensual que seja, não tem força. Se o tivesse também estaria desgraçada. As forças que têm A força, passe a redundância intencional, deslocar-se-iam para outras paragens deixando este retângulo entregue a si próprio, um pouco como a Indonésia fez quando deixou Timor ou, para ser menos radical na visualização da realidade, como ficavam as cidades depois da reconquista!
Em síntese, só assumindo, por referendo, que queremos ser donos do nosso destino, ficar sem comodidade durante os largos meses, perder a capacidade de viajar, ter bens imprescindíveis nas sociedades ocidentais, voltar a consumir o temos ou podemos adquirir, viajar até onde os próprios meios (a pé, por tração animal ou mecânica) permitem,… só assim podemos recuperar a dignidade.
A força está em quem nos subjugou em nome de bens que já não somos capazes de prescindir de livre vontade. Por isso, custa tanto estar a perdê-los sem querer.
Um governo com coragem, dir-nos-á a verdade do tamanho das nossas dívidas e dependências; lança um referendo para optarmos por condenar os culpados e assumir os estragos consequentes; e, posteriormente, coloca-nos a trabalhar no que nos pode retirar do jugo opressor dos senhores do mundo, dos agiotas, dos usurpadores que mandam e manipulam Rua da nossa vida comum e individual. Ninguém nunca o foi sozinho. Voltar ao zero ajudar a sair do esclavagismo instalado docemente, uma espécie de eutanásia lenta!








sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Setembro e a educação

 
Atravessámos décadas em que, por estes dias, a discussão maior, à volta das famílias e orçamentos familiares, centrava-se na aquisição dos livros (manuais escolares e associados, entenda-se) para o novo ano escolar ou letivo que se iniciava implacavelmente até 15 de setembro, como é de lei.
Progressivamente, a tónica foi colocada noutra preocupação, na escola para os filhos; as vagas que existiam, ou não, para dar resposta às novas realidades, às mudanças que se operavam: filhos que entravam pela primeira vez no sistema de ensino, que tinham de fazer opções vocacionais-alteração do plano curricular; alterações (morada, profissão,…) na vida, pura e simplesmente.
No primeiro caso, passou a ser um assunto parcial por dois motivos. O primeiro, muito objetivo, os manuais passaram a ser plurianuais – uma medida política que se reclamava há muito; o segundo, um pouco mais subjetivo, a falta de liquidez financeira obrigou a maior contenção nos gastos de férias, portanto, passou a existir algum fundo de maneiro para o essencial. É o reflexo da malfadada pedagogia das crises, ou do equilíbrio no erro!
Quanto à segunda situação, é notório que já há espaço educativo a mais para a população discente que o país tem. Em consequência, remediadas as situações pontuais, muitas vezes provocadas pela incúria dos gabinetes de Lisboa e delegados, há lugar para todos. Corrija-se, cada vez há mais lugar para todos.
Nos tempos recentes a educação passou para o excesso de docentes! Lamentável.
É lamentável que um país desenvolvido e com tantas recomendações e estudos feitos não consiga ter massa crítica e decisória suficiente para planificar os seus ativos! Partindo do princípio que a educação não é para fechar – premissa que não custa nada admitir, mesmo sendo energicamente inaceitável a hipótese, face a algumas teorias macro sociais e económicas que vão sendo afloradas – há 20 anos que se sabe o que se pode produzir em termos de ensino básico e secundário.
Hoje há, em todas as áreas da ação do Estado, profissionais enganados pelo próprio “aparelho” porque não há um plano estratégico para setores-chave do próprio Estado. - Admitindo, contudo, como importante, que cada um e cada uma tem responsabilidade pessoal no assunto, deve-se estar atento, dado que “quem vai para o mar avia-se em terra”!
Na educação bastava atender a: diminuição da taxa de natalidade, número de alunos, ofertas educativas estruturantes, situações sociais a contemplar, aumento da idade da reforma, mutação nos direitos de carreira (o menos importante e imprevisível).
Assim, em setembro custa ver milhares de professores totalmente desmobilizados: uns para fora (da escola), depois de décadas de prestação de serviço, outros para dentro (da escola) mas com a mesma motivação porque estão a ser conduzidos como que para o cadafalso, que muda rapidamente de posição, bastante arbitrário e opinatório.
A educação em setembro deixa-nos todos a perder; a perder, desde logo, o futuro!
 
(in Correio do Vouga, 2012.09.05)











sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Já se ouvem novas vozes

 
O poder da comunicação, intitulada “Social” pelo Inter Mirifica, ou como o mundo mais radicalmente laico designa por “meios de comunicação”, ou simplesmente “meios”, na tradução do latim por “Media”, estará na liberdade de produzir conteúdos que revelam com exatidão os factos da vida das pessoas e das nações, as mudanças que vão ocorrendo, introduzindo memoria, projetando futuros, aprofundando matérias que sirvam para o desenvolvimento da sociedade e das pessoas.
Será, por isso, ter meios que permitam um serviço de comunicação isento, sobre o conteúdo e na transmissão dos mesmo, é decisivo para a coesão do que quer que seja. Afinal, essa é, ou deveria ser, a força, o poder e a natureza dos meios de comunicação e informação. E os que assim não o são, teriam de declarar a sua Carta de Intenções, serem claros nos seus estatutos redatorial , editorial e, evidentemente, empresarial. Assim, todos conseguiríamos ser um pouco mais plurais e aceitar as diferentes liberdades – a liberdade é um conceito e uma prática cada vez mais plural.
Todos temos direito a tudo mas alguns têm mais direitos que outros, normalmente são os que têm mais em tudo, sobretudo mais capacidade de intervenção e perturbação, o que faz destas atos algo… perturbador!
O Estado tem o dever de garantir serviços de equidade e justiça que permita a todos os cidadãos a igualdade na liberdade, sem pejorativos ou atavios de qualquer espécie num equilíbrio entre o que servem ao maior número de cidadãos sem ofuscar ou diminuir qualquer outro.
Precisamos de serviços públicos em todas as áreas fundamentais da construção humana, dando possibilidade de acesso à cultura aos cuidados essenciais. A comunicação e a informação é um cuidado fundamental.
(in Correio do Vouga, 2012.08.29)




terça-feira, 31 de julho de 2012

Atletas ocasionais. Otília Martins

 
Os Jogos Olímpicos estão a decorrer, bem o sabemos, e as expetativas sobre o êxito luso estavam à partida muito minimizadas pelo próprio Comité Nacional. Acreditamos que seja uma jogada de marketing, uma estratégia comunicacional bem urdida. Não nos parece, nem gostaríamos de crer que, a este nível, estas mensagens não façam parte de um plano delineado; se assim não fosse, estaríamos perante uma situação pouco recomendável, pelo grau de amadorismo que revelaria.
A comunicação de que "Esta missão é de longe a mais bem preparada de sempre para entrar nos Jogos Olímpicos. Em 100 anos nunca houve nenhuma equipa portuguesa com tão boa preparação"- Vicente Moura, presidente do COP - e "Estamos otimistas, bem-dispostos, foram quatro anos de trabalho aplicado, toda a gente trabalhou, o Comité, as federações, os técnicos e atletas. Estamos com bom espírito e estou convencido que os resultados vão prestigiar Portugal" revela que houve seriedade de processos, mesmo com cortes orçamentais, e que o país pode e deve exigir… resultados que o prestigiem! Boa mensagem.
Nos jogos, em Londres, verificámos que as condições e instalações para alojamento e provas são ótimas. Ficámos a saber, também pela voz do chefe da missão portuguesa, que tem "boa impressão da organização".
Então, o que são resultados que prestigiam Portugal?
Parece que a resposta é óbvia para qualquer cidadão interessado no assunto e para além dele: resultados pessoais, de cada atleta, em média, para usar de alguma generosidade, iguais ou melhores que os atingidos anteriormente nas provas e especialidades próprias! Parece claro.
Qualquer coisa acima disto é sinal de evolução, de melhoria, de trajeto para o topo, conforme o próprio lema dos Jogos!
Tudo o que seja aquém disto deve ser estudado, investigado em ciências do desporto, em ciências sociais, contextualizado, alterado, explicado para apurar as causas da falha sistemática em momentos decisivos.
Sem um estudo desta constante nacional, a falha nos momentos difíceis, farão passar a ser uma metáfora da vida olímpica portuguesa as palavras de Vicente de Moura, mesmo que queira ficar mais vinte anos, como o próprio parodiou, "Levámos algum tempo a chegar do aeroporto, acho que a pessoa que conduziu o nosso carro não sabia muito bem o caminho”! Portanto, perante resultados abaixo do que cada atleta já atingiu, é muito provável que o condutor não saiba bem o caminho?!
Portugal tem de mudar! Se assim não for, continuará o perdão para os incumpridores e a tolerância para o laxismo, para o insípido, para o aturdido, para o marasmo na vida. Em contraponto, corre-se o risco de quem quer fazer mais e melhor acabar por ser afastado, acusado por querer ser mais do que deve, por estar a querer subir,… no fundo por trabalhar (aspirar) a ser mais!
Enquanto ficarmos anestesiados e enternecidos pela ousadia do fortuito, continuaremos a ser como a Dª Otília Martins, “quem não tem cão, caça com gato”, ou seja, à falta de melhor toma-se o que se tem mais à mão e sai manga para triunfar perante a adversidade, isto é, o larápio indesejado. E o mundo aplaude maravilhado a atleta ocasional!
Mais um ícone ao desenrascanço luso!
(in Correio do Vouga, 2012.08.01)











terça-feira, 24 de julho de 2012

Do Olimpo não muito distante


Inspirados pelo acontecimento, Londres 2012, apontamos três pequenas glosas que podem parodiar o momento.
Cerca de 776 antes de Cristo, a data mais aceite para o início dos Jogos Olímpicos antigos, baseada em inscrições, encontradas em Olímpia, acerca dos vencedores de uma corrida a pé realizada em cada quatro anos, os Jogos Antigos tinham características muito próximas das atuais, em Londres 2012. Rezam as crónicas que se destacavam e provas de corrida, pentatlo (que consistia em saltos, lançamento do disco e dardo, uma corrida a pé e luta), boxe, luta livre e eventos equestres.
Analisando as provas, constata-se que todas tinham o epicentro das causas e consequência na funcionalidade: preparar homens (na altura as mulheres não entravam sequer, como é sobejamente conhecido) para o combate, para a ascendência de uns sobre os outros em caso de guerra entre as Cidades-Estado península helénica.
Hoje, ao preço que estão os combustíveis e a energia, um das vertentes mais relevantes dos jogos é a mesma: preparar os melhores para enfrentar um mundo necessitado de mais exemplos, em que os melhores eduquem e sensibilizem para a sustentabilidade. Trinta e seis modalidades, apenas com energia limpa, para ser cada vez mais longe, mais alto e mais forte.
Há um mito que aponta Coroebus, um cozinheiro da cidade de Elis, como o primeiro campeão olímpico.
Com as dificuldades que a maioria do mundo enfrenta em 2012, como no início das Olimpíadas, quem ainda consegue ter algo para cozinhar… já é um campeão!
Por fim, os primórdios: as Olimpíadas foram inicialmente uma significação religiosa, com acontecimentos desportivos ao lado de rituais de sacrifício em honra de Zeus e todos os deuses, o panteísmo!
Londres está rendida ao mesmo feito, não é Zeus que “panteistica” o firmamento mas o Euro! O pobre, literalmente pobre, Euro tenta suportar uma economia que outros deuses menos solidários já não concorrem para a sua salvação. Assim, nem ao Olimpo consegue chegar.
A Europa, berço de tantas coisas boas da humanidade (até há quem protagoniza ser aqui o berço da civilização!?), não poder ser cadafalso de si própria.
(in Correio do Vouga, 2012.07.25)








segunda-feira, 16 de julho de 2012

Carreiras e classe

 
Muitas vezes somos confrontados com algumas expressões que, usadas na oralidade das conversas, até soam a sinónimos. Porém, quando refletidas na escrita, rapidamente sentimos que há divergências indissociáveis.
Carreiras há muitas, enquanto que para haver classe, quer no sentido mais prosaico quer na significação mais nobiliárquica do termo, é preciso muita elevação, conhecimento dos pormenores, competências profundas para discernir o essencial do acessório sem perder a visão do conjunto e as finalidades do todo, mesmo quando, em alguns momentos, seja necessário conter a disponibilidade para a satisfação da parte, de um indivíduo, para não baquear em arbitrariedades.
O que se vem a notar é a opinião do indivíduo a turvar o coletivo, a distorcer a realidade por mecanismos de projeção de frustrações próprias ou vontade deliberada de satisfação do próprio ego. Portanto, até para destruir uma simples carreira é preciso muita classe! A melhor medida para a compreensão destas coisas serão sempre os factos, a evidência, mesmo quando deliberadamente se tenta distorcer ou ignorar.
Dado que os canais de difusão da opinião estão abertos ao mundo e, sabe-se lá com que interesses, em vez de possuírem estatuto de autenticidade, assumem logo à partida “estatutos editoriais”, chamemos-lhe assim, que favorecem aquilo que recentes programas de humor chamaram (ou denominariam) achincalhamento!
Uma ilustração, “por opção editorial, o exercício da liberdade de expressão é total, sem limitações, nas caixas de comentários abertas ao público disponibilizadas pelo … [nome do meio de comunicação]. Os textos aí escritos podem, por vezes, ter um conteúdo suscetível de ferir o código moral ou ético de alguns leitores, pelo que [nome do meio de comunicação] não recomenda a sua leitura a menores ou a pessoas mais sensíveis.
As opiniões, informações, argumentações e linguagem utilizadas pelos comentadores desse espaço não refletem, de algum modo, a linha editorial ou o trabalho jornalístico do [nome do meio de comunicação]. Os participantes são incentivados a respeitar o Código de Conduta do Utilizador e os Termos de Uso e Política de Privacidade […].
O [nome do meio de comunicação] reserva-se o direito de proceder judicialmente ou de fornecer às autoridades informações que permitam a identificação de quem use as caixas de comentários em [nome do meio de comunicação] para cometer ou incentivar atos considerados criminosos pela Lei Portuguesa, nomeadamente injúrias, difamações, apelo à violência, desrespeito pelos símbolos nacionais, promoção do racismo, xenofobia e homofobia ou quaisquer outros”.
Portanto, até porque estamos no verão, em vez de se prevenir o “incêndio” abrem-se as portas a tudo. Depois, se houver problemas, cada um tratará por si a desgraça!
Voltando ao assunto, é preciso ter classe até no uso que se faz do bom nome da liberdade; caso contrário, continua a valer tudo para assegurar as carreiras! E tudo isto porque continua válida a máxima, considerada de autor anónimo, há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida.
(in Correio do Vouga, 2012.07.18)









terça-feira, 10 de julho de 2012

A partícula redimida


A partícula redimida
A origem do apelido “a partícula de Deus” terá início numa circunstância meramente acidental?! É provável.
Nos anos 90, Leo Lederman, um Prémio Nobel, decidiu escrever um livro de divulgação sobre a física de partículas. No texto, Lederman referia-se ao bosão de Higgs como “The Goddamn Particle” (“A Partícula Maldita”) pela dificuldade em ser detetada.
O editor do livro decidiu, sabe-se lá porquê, mudar o termo “The Goddamn Particle” para “The God Particle” e assim “A Partícula Maldita” converteu-se na "Partícula de Deus”.
Esta particula começou a ter expressão na investigação quando, em 1964, uma equipa liderada pelo físico inglês Peter Higgs, propôs a seguinte solução: todo o espaço está cheio de um campo, que não podemos ver, mas que interage com as partículas fundamentais. O eletrão interage muito pouco com esse campo e, por isso, tem uma massa tão pequena. O quark “cimo” interage muito fortemente com o campo e, por isso, tem uma massa muito maior.
Entre as analogias mais comuns para fazer compreender o conceito, dá-se a comparação entre uma sardinha, por exemplo, e uma baleia. A sardinha nada muito rapidamente porque é mais pequena, tem pouca água ao redor. A baleia é muito grande, tem muita água ao seu redor e, por isso, move-se mais devagar. Neste exemplo, “a água” tem um papel semelhante ao “campo de Higgs”. Esta teoria, entre outras hipóteses de estudo que abre à investigação, vem trazer mais um contributo para a compreensão da massa de todas as partículas, originada por um campo que enche todo o Universo.
Esta massa, que não se vê, permite colocar o acento noutras massas que também não se veem mas sabemos que são poderosas e interagem condicionando ou querendo condicionar a existência humana.
Em termos sociais é um expressivo caso de estudo: as massas! A energia que é necessário para as mover.
Cada vez mais torna-se importante estar atento aos pormenores para descortinar por onde se movem as forças do universo!
Nunca é suficiente o que já se fez. O mais importante é o que ainda não está feito, nomeadamente encontrar espaço para a Memória.
Parece claro que o equilíbrio de forças está muito tendencioso, e nem sempre pelas melhores motivações.
(in Correio do Vouga, 2012.07.11)











terça-feira, 26 de junho de 2012

A lei e a ética

 
O debate é antigo. Levanta-se novamente a questão a propósito da greve, ou das greves.
O setor dos transportes está há dias, o que para parte significa da opinião pública são muitos dias, a fazer greve.  Nesta atividade económica, a dos transportes, a “cântara vai muitas vezes à mesma fonte”, o que se aceita na lei mas poder-se-á questionar, suspeitar, no domínio da ética!
Nos feriados municipais de Lisboa e Porto, algumas profissões do setor ferroviário, e a ele administrativamente associado, fizeram ouvir a reclamação dos seus direitos com recurso à greve.
Agora, sob acusação de terrorismo económico, por parte dos hoteleiros de Portugal, também os controladores aéreos e pilotos apresentaram o pré-aviso de greve. As tensões sociais vão aumentando de tom.
Cada vez que se ouve um dos lados da questão, fica a verdade comprometida, tal a violência das expressões entre a ênfase dada às reivindicações, a justiça da reivindicação, compreensão dos motivos no contexto temporal ou oportunidade para ser realçada a ação.
Colocar o assunto na perspetiva de análise em contraponto ética – lei poderá ser um abuso. A humanização da vida e da vida com qualidade nas suas variáveis será sempre um direito e é princípio de qualquer quadro ético. Mesmo assim, pelas coincidências e oportunidades mas principalmente por nunca se saber a verdade dos lados, valerá entender estas movimentações.
Seria importante ter um observatório para a ética da greve.
Esta ferramenta, o observatório, se garantisse a autenticidade dos dados e justiça dos objetivos, daria um grande contributo para a salvaguarda de todos e de tudo; incluindo a lei e a ética.
Com pouca informação sobre as causas, sem conhecimento aprofundado dos motivos, fica tudo muito comprometido. Não é bom entender um fenómeno apenas pelas suas consequências.
Nestas greves, serão justas as causas? Ganha o setor e o país maior dignidade e desenvolvimento? Está garantido o princípio da proporcionalidade?
Aparentemente, o direito à greve atolou-se em rodriguinhos de setor ou classe que já não tem muita ética! E assim, o que poderia ser uma ferramenta fundamental de mudança passou a ser entendido, pelo peso do deve e haver, como mais um motivo para os mesmos, os mais poderosos, terem ainda mais.
Os pobres serão cada vez mais pobres. O país também.
(in Correio do Vouga, 2012.06.27)












terça-feira, 19 de junho de 2012

Sentar para pensar e agir melhor


Há muitas formas de pensar, refletir, amadurecer ideias! Também há diversas expressões para identificar o ato de ponderar, de reconhecer o processo mental ou faculdade do sistema mental em que os seres modelam o mundo, recriam metas, planos e desejos. O conceito de cognição, consciência, ideia, imaginação. O pensamento é considerado a expressão mais "palpável" do espírito humano, pois através de imagens e ideias pode ajudar a descobrir a pessoa, as suas intenções, a vontade, os valores, o sonho! E, evocando Carlos de Oliveira, cantado por Manuel Freire, clamado por Manuel Alegre, este bastião pode ser inquebrantável pouco ou nada pode se consegue há machado que corte a raiz, isto é, não há machado que corte a raiz ao pensamento!
Mais do que uma contestação, sentar para pensar, é uma urgência!
Teria acolhimento parar, sem que isso significasse quietude, para aprofundar a causa das coisas e as potencialidades das pessoas?!
Há valor acrescentado que a transversalidade potencia para a realização de um projeto, diverso na consecução, único nos produtos: uma sociedade justa e solidariamente sustentada.
Poder-se-ia congregar as pessoas no que as motiva; identificar as motivações e ações; partilhar modelos de organização; reconhecer pluralidades de processos e objetivos; apurar, como resultado, uma iniciativa que ajudasse, com uma visão mais ampla, a solucionar um problema (coletivo)!
Por tudo o que vai emergindo, a crise verdadeiramente está na representação, nas figuras representativas de instituições, em quem os cidadãos delegaram o exercício do poder, a confiança da representação!
Está na hora de congregar as pessoas, de recrusceder a confiança, ser protagonista na comunidade que nos socializa!
Pode-se fazer melhor na escola, na família, na saúde, na economia, no emprego, na sustentabilidade comum,… com valores sociais e pessoais!
Como?
Pensar, ouvir todos, fazer tudo para que os mais capazes possam governar o mundo!
A representação, dos processos de democratização ocorridos ao longo do século XIX e XX, não passa do direito dos cidadãos elegerem os representantes e membros dos órgãos do Estado. Ou seja, a representação (política) é o modelo encontrado para, quem tem o poder, as pessoas, verdadeiros titulares do poder, confiarem, pelo voto, as decisões nas opções dos governantes. Porém, a “representação” enriqueceu, “aristocratizou-se em oligarquias”, caiu!
É urgente refundar a representação; parar para pensar. Há um novo modelo que interessa aprofundar, fazer emergir; entre todos, um dos que mais poderá servir as pessoas, será o modelo de “missão”!
(in Correio do Vouga, 2012.06.20)











terça-feira, 12 de junho de 2012

Jogar como nunca, perder como sempre

 
Em pleno Europeu de futebol (Polónia/Ucrânia 2012) a expressão do selecionador da equipa nacional de Portugal, após a derrota com a Alemanha, por 1-0, resume um certo estado de espírito que poderia ser de um clássico, dos anais da humanidade, por exemplo a Batalha da Floresta de Teutoburgo, também chamada de Desastre de Varo, em que, durante o outono de 9 d. C., perto de Bramsche, uma aliança de tribos germânicas chefiada por Armínio, da tribo dos queruscos, emboscou e dizimou três legiões romanas, lideradas por Públio Quintílio Varo, que o consideravam até então como aliado. Em consequência da batalha estabeleceu-se o Rio Reno como fronteira do Império Romano pelos séculos seguintes, fato que foi estabelecendo um distanciamento entre as culturas romanas e germânica e o declínio da influência romana no Ocidente.
Foi assim no passado e continuará a perdurar. Até quando?!
Agora os Germanos também dominam a Banca. Outra batalha para ser travada.
A Espanha, aparentemente, consegue resultados mais favoráveis (tem uma extensão maior?!), os povos do sul, os mais pobres, também nos exércitos de outra como agora, a base da sua sustentabilidade e recrutamento é entre os mais pobres, têm de procurar outras formas de renegociar. Continuam a trabalhar, a lutar como nunca e a perder como sempre!
Em vez de fomentar o desenvolvimento sustentável das capacidades dos europeus para romper com a crise, há como que uma espécie de aura que eterniza muitos com pouco ou nada, com toda a certeza para garantir que muito fique para poucos!
Veja-se nos campos, onde verdadeiramente é jogado o futuro das pessoas:
Os bancos estão a apertar cada vez mais a torneira do crédito à economia. Em abril, as instituições financeiras emprestaram apenas 4,3 mil milhões de euros, menos 604 milhões de euros, ou menos 12,3% que no mesmo mês do ano passado, revelam dados do Banco de Portugal, conhecidos esta segunda-feira.
Quando comparado com o mês anterior, o financiamento à economia encolheu 1,48 mil milhões, ou 25,6%.
As empresas absorveram mais de 86% do crédito concedido, o equivalente a 3,76 mil milhões de euros. Mesmo assim, só os grandes empréstimos às empresas (mais de um milhão de euros) aumentaram 5% face ao homólogo, para 2,24 mil milhões de euros.
Já os empréstimos às pequenas e médias empresas (PME) caíram 12,69% para 1,52 mil milhões de euros.
Também o crédito concedido às famílias caiu e representa agora apenas 13% do total. Uma das maiores quebras registadas no crédito a particulares foi na habitação: apenas 156 milhões, ou seja, menos 67% que no homólogo e menos 17% que em Março.
O crédito ao consumo também baixou 38% para 149 milhões de euros, tal como os empréstimos para outros fins: menos 23% para 258 milhões de euros.
Estes bancos estão loucos!
(in Correio do Vouga, 2012.06.13)













quarta-feira, 6 de junho de 2012

Refolho


Há quem lhe chame hipocrisia, fingimento.
A situação, que propomos abordar, apresenta tal dislate que é muito provável poder ser retratada por todos os conceitos e adjetivações.
Vamos abordar, apenas, algumas matérias sobre educação. Uma pequena nota, simbólica, porventura.
Nos últimos tempos, conseguiu-se passar uma mensagem que embaceia a realidade, distorcendo-a, reorientando-a para outros domínios e ideologias, no caso mais neoliberais.
O sistema educativo tem algumas referências, pilares de organização educativa; um desses esteios é o regime jurídico de autonomia, administração e gestão das escolas. É dele que deverão remanescer todas as estruturas. Acontece que se iniciou um longo debate sobre o mesmo, introduzindo-se calendários, movimentos, critérios, estruturas, dinâmicas que, supostamente, deveriam ser aplicadas apenas depois do documento ser aprovado e ratificado e publicado. Nada disso! Estamos a trabalhar sobre um normativo que já não é, porque outro já é sem o ser, mas ainda não se sabe o que é porque não existe enquanto não é!
Difícil de entender?! Imagine-se a aplicação, a prática.
Outro aspeto, que também parte do mesmo tratado, sobre a organização, tem a ver com as agregações de escolas.
A agregação é juntar, sob a mesma administração e gestão, uma quantidade de estabelecimentos de ensino que, por razões diversas, o deverão fazer. As causas são públicas, e publicadas depois de se ter iniciado institucionalmente o processo, e carecem de muito aprofundamento, desde logo objetividade, fundamentação: qual a percentagem de unidades de gestão que se querem reduzir? Quanto se gasta (atualmente) e poupará efetivamente (por aluno, por turma, por disciplina)? - não basta indicar números assombrosos e estarrecedores para chocar a opinião menos esclarecida - Quais estudos, e resultados dos mesmos, que comprovam ser válida a hipótese de ser vantajoso para o ensino os alunos fazerem um percurso escolar até aos 18 anos, ou seja, de praticamente 18 anos, sob o mesmo projeto educativo? Quais os contributos (ou falta deles?!) que determinaram não ser acertada a presença da comunidade escolar no Conselho Pedagógico? Que resultados se verificaram, ao nível de direção estratégica (Conselho Geral) para que as suas competências sejam reconhecidas e assertivas? Que formação foi desencadeada para que os membros de um e outro órgão da escola estejam habilitados para a função?
E a agregação é mesmo para todos?! Está à vontade do “freguês”? Quem não quer não agrega? Quem não demonstra estar habilitado para formalizar uma proposta também pode ficar de fora? Os critérios, tão enfatizados para se fazer, deixam de ser importantes pela lei dos contrários? Será que também aqui os pobres e cumpridores é que pagarão a crise?!
E, para concluir este breve assomo, ainda falta saber, às famílias, aos alunos, às autarquias, aos órgãos das escolas, quando sairão os critérios para a reforma da rede escolar.
Também não está esclarecido porque é que os órgãos das escolas, desde há uns anos a esta parte, não conseguem terminar os seus mandatos! Não seria possível, aos órgãos vigentes, fazerem as transições (necessárias ou não, mas quem está para governar deve fazê-lo!) sem com isso haver mais encargos para o erário público e confusão?
E a carreira de diretor de escola, prometida em campanha, já está em vigor?
O que se sabe é que todos percebem muito da poda (da arte) antes dela começar!
Como diz um dito, que nem ditado será?!, estão quase validados, “a fazer escola”, os momentos em que se mentem mais na vida são: depois da caça, durante a guerra, antes das eleições!












terça-feira, 29 de maio de 2012

Mil milhões para quota máxima

 

Estamos mais descansados. O Governo e a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) acordaram uma linha de crédito de mil milhões de euros para permitir o pagamento de dívidas a curto prazo das autarquias (vencidas num prazo de 90 dias).

O anúncio feito vaticina que ficou definido, "através de um acordo de caráter inédito" que este "programa de apoio" irá beneficiar as economias locais. É neste aspeto que os portugueses, que são munícipes também, nesta justaposição de poderes e serviços, todos nós, portanto, podemos respirar de alívio: há esperança! Ou não?

Perante tanta panfernália, manda o senso comum que “quando a esmola é grande o pobre (deve) desconfia(r)”, levantam-se muitas inquietações; ponderámos algumas.

Mil milhões para tapar um buraco que estaria a descoberto dentro de noventa dias?! É isso? Será mesmo verdade? – preocupante. Como estará o resto do crédito? !

Depois, o Ministro Miguel Relvas sublinha que o acordo "deixa bem claro que os municípios não ficarão à margem do esforço" que está a ser feito por todos os cidadãos e pelas instituições no âmbito do acordo com a 'troika'. Por isso, apontou, as autarquias não podem aumentar as dívidas a curto prazo nem deixar os seus serviços entrar em rutura, sob o risco de terem sanções pecuniárias.

Esta ameaça do Governo Central está eternizada, há séculos que é assim. D. Afonso Henriques disse o mesmo à mãe!

Mas será que aqui há gato?

A terceira inquietação, provem d’ O Diário de Notícias, na rubrica “Revista de Imprensa”, que revela a “pontinha do rabo de fora” baseado no que diz o Jornal de Negócios, o spread exigido é muito vantajoso, mas as câmaras são obrigadas a exigir o máximo aos munícipes. O "Jornal de Negócios" escreve que o Governo quer obrigar as cerca de 70 autarquias em situação de rutura financeira a aumentar todos os impostos municipais e taxas para níveis máximos, como condição para aceder à linha de financiamento de mil milhões de euros destinada a pagar as suas dívidas a curto prazo.

Por fim, a cereja no topo do bolo, o acordo firmado entre o Governo e a Associação Nacional de Municípios estabelece ainda que, para se candidatarem, as autarquias devem desistir de processos que tenham interposto ao Estado. O Executivo quer garantir, assim, uma maximização das receitas nos municípios que venham a aceder à linha de financiamento que será disponibilizada e libertar-se de sarilhos! Há determinadas regiões da Europa que protocolam o mesmo e têm epítetos pouco abonatórios!

Efetivamente, alguém anda louco e, no caso, é acima de tudo a falta de critérios, a asfixia financeira, o desgoverno das nossas coisas: pobres (e mafiosos?!) sempre os tereis.

(in Correio do Vouga, 2012.05.30)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Académica, outra vez!

 

Em tempos de contenção e austeridade, quando milhares de jovens olham o futuro com baixa expetativa, isto é, sem saber como concretizar o seu futuro, um grupo (supostamente) de estudantes da Academia de Coimbra ergue o troféu mesmo ali, em plena capital do império!

Se há 43 anos a voz dos estudantes foi prenúncio do fim do regime, precipitou os acontecimentos, mobilizou os adormecidos, catapultou os agrilhoamentos para as capas da comunicação do senso comum, a final da Taça de Portugal de 2012 deveria ser iconografada com igual simbologia.

Então como agora, resta pouco, só há uma saída… sair!

Mas sair para onde?

Os primeiros passos terão de ser sustentados no combate à falta de solidariedade entre as instituições e as pessoas. Os últimos anos trouxeram demasiado rápido o que deveria ser construído de forma sustentada. Não são grandes posses ou orçamentos que têm os melhores resultados! Olhando novamente para a Académica, nota-se, mesmo sendo uma observação muito comum, que foi a solidariedade que deu força à ambição.

Depois, rigor nos desempenhos. Tarefas definidas, uma sociedade organizada e distribuída pelo todo.

A mesma inspiração vamos buscar a este feito glorioso de Coimbra. As competências têm de ser potenciadas por todas as zonas do campo, isto é, de acordo com as potencialidades de cada região. Portugal ainda assim é muito grande para produzir algo.

Por fim, sentir que os contributos de todos são necessários, no governo das coisas, na justiça, na saúde, na educação, nos setores industriais e produtivos,… não ter medo de sujar as mãos, de produzir algo que faça história em detrimento de ficar eternamente de chapéu na mão a mendigar esmola.

No fundo, a Académica demonstrou que é possível, que todos são necessários, que a vida é feita, recuperando a fábula, mais de formigas trabalhadoras do que de cigarras encantadoras e mendicantes.

A mais importante das emigrações é que se deve fazer cá dentro: sair do atavio que séculos de de mendicidade tem produzido!

(in Correio do Vouga, 2012.05.22)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Novamente de novo

 

Numa escola, devemos, em cada passo, ser gesto, palavra, atitude, caráter; tudo isto porque interagimos permanentemente, em tudo, uns com os outros (comunidade escolar). E, de nós, todos esperam que sejamos exemplo dentro da missão que nos é confiada, como escola pública: de todos e para todos.

Então, ao intitular este editorial com uma redundância, “novamente de novo”, insistência desnecessária nas mesmas ideias – como é definido no dicionário – não é em vão, sem sentido. Pretende-se enfatizar, apenas, como vamos vivendo na mais nobre das missões de um país: a educação.

Aqui, na educação, vive-se sempre ao ritmo do que é novo.

A novidade faz parte da essência do estudo/aprendizagem: descobrir novos conteúdos, novas ideias, novos conhecimentos; também, como mera ilustração, que não fundamenta nem legitima mas é paradigmático, as mudanças que cada etapa suscita (turma, escola, professores, ano, ciclo, curso, diretor de turma, colegas,…) implicam oportunidades que, elas próprias, têm algo que apontam ao futuro, para a vontade de começar de novo.

E há, “também” nestes universos diários, a essência da arte: os alunos e alunas.

Educar é, antes de tudo, um caminho de reciprocidades desde a mais tenra idade. Portanto, em cada ano mudam os rostos mas continua, no essencial, a juventude, a esperança, a rebeldia, a curiosidade dos jovens que dão vida à escola… também com as peripécias que adoçam o engenho e a arte!

Por fim, sem querer terminar nada, o que não deveria ser tão novo assim: o sistema educativo. Não deveria ser tão novo assim mas, mais uma vez recorrendo a uma pequena abordagem elucidativa, será interessante ter presente um hipotético cenário em que um jovem, de agora, a dois anos de terminar o ensino secundário, que entrou (no sistema) para o primeiro ano em 2002, com os seus seis anitos, o que levará da escola, se não for a estabilidade emocional e racional dos seus professores?

Com um algum gosto pela história recente, poderá, o referido jovem, lá para setembro, contar a um colega mais novo do seu novo agrupamento de escolas: “desde que entrei na escola, já lá vão seis… Ministros (da Educação). Tive, logo no início, o 1º, 3 de Julho de 2001 — 6 de Abril de 2002 — Júlio Pedrosa; depois, 2º, 6 de Abril de 2002 — 17 de Julho de 2004 —David Justino; 3º, 17 de Julho de 2004 — 12 de Março de 2005 — Maria do Carmo Seabra; 4º, 12 de Março de 2005 — 26 de Outubro de 2009 — Maria de Lurdes Rodrigues; 5º , 26 de Outubro de 2009 — 21 de Junho de 2011 — Isabel Alçada; 6º, 21 de Junho de 2011 - Nuno Crato”

Não admira que haja tanta resistência à mudança, há tanta novidade!… Tanta que nenhum jovem chega a suspeitar verdadeiramente por qual sistema de ensino… passou!

E, na linguagem da juventude, “já estamos noutra” (mudança)!

(in Correio do Vouga, 2012.05.16)

terça-feira, 1 de maio de 2012

A construção humana

 

É importante, quando passam dias-efeméride, como o dia 1 de maio, dia do trabalhador, mergulhar um pouco na causa das coisas, na génese da proclamação do dia internacional da reivindicação das condições laborais. Não queremos ir muito além neste assunto, até porque várias vezes já o aludimos. Porém, temos interesse, numa época em que é necessária, como nunca, a reivindicação, nesta época, portanto, e faltam meios e motivação para ela.

A construção humana pode ser, como organismo vivo, a aplicação concreta da fórmula que a física universalizou: é a medida da energia transferida pela aplicação de uma força ao longo de um deslocamento. Dos primórdios da Humanidade até aos nossos dias o conceito sofreu alterações de sentido, preenchendo páginas da história com novos domínios e novos valores. Do Egito à Grécia e ao Império Romano, atravessando a Idade Média e o Renascimento, o trabalho foi considerado como um sinal de opróbrio, de desprezo, de inferioridade. Esta conceção atingia o estatuto jurídico e político dos trabalhadores, escravos e servos. Com a evolução das sociedades, os conceitos alteraram-se. O trabalho-tortura, maldição, deu lugar ao trabalho como fonte de realização pessoal e social, o trabalho como meio de dignificação da pessoa. Ou seja, é importante lançar o olhar sobre o que podemos fazer para que a construção humana seja uma realidade plena, conjugadora de diversidades, de direitos, de deveres.

Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha do emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Todo homem, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. Todo homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. Todo homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para a proteção de seus interesses" (Artigo 23 da Declaração Universal dos Direitos Humanos)

Partindo da plataforma-génese, percebemos que enquanto há vida, há trabalho, porque viver é uma rede de sinergias, de permanente laboração. É com o trabalho na vida que a pessoa cresce, realiza, sociabiliza.

Portanto, demos esperança à vida, numa altura em que não há trabalho para toda a vida e há muitas vidas sem trabalho!

terça-feira, 24 de abril de 2012

Liberdade: esperança ou resignação?

 

Comprometidos com a história, porque existimos, porque recolhemos os dados, analisamos, interpretamos, projetamos o futuro com base na investigação, não é aconselhável olhar para um acontecimento de forma acrítica ou evocar uma data por uma única conceção de história.

Esta nota introdutória, surge a propósito do 25 de Abril e das contradições “reinantes”, convém reservar, entre comas, a expressão reinante dado que vivemos num regime republicano.

O grande herói da revolução de abril foi o Povo Português. É sempre assim nas revoluções. A razão é muito linear, simples portanto. É o Povo, a massa anónima de pessoas (não acreditamos na força do indivíduo mas sim no poder das pessoas!), de famílias, de centros de cultura, de dinâmicas religiosas, cívicas, etnográficas; de impulsionadores de valores que servem a totalidade (mesmo quando passam, posteriormente, a ser “apenas” maioria) …. de todos os círculos da ação humana! Se o Todo não percecionar que há mais vida para além da acomodação exploratória ou persecutória do poder ou regime vigentes; e se, colocado em movimento a espiral de mudança, desses mesmos poder e regime, não houver uma convergência de vontades, nunca uma revolução o será. Passará à história como uma intentona, um atentado que foi aniquilado à nascença, por mais estragos que provoque. E as pessoas lamentarão o sucedido mas socialmente continuarão a censurar “quem não tem mais nada que fazer” – os autores dessa intentona ou atentado!

Após o momento do qual já não há retorno, que pode muito bem ser uma súmula de pormenores fraturantes com o passado vigente, expresso por símbolos ou representado por pessoas, então abre-se uma nova aurora de esperança.

Mais uma vez o Povo, em todas as suas representações, é determinante: valida ou condena. Esta é a linha ténue que separa o sucesso do fracasso, por mais preparada que esteja toda a trama. A adesão de um Povo é mobilizada pela alma e caráter de quem lidera o momento! E o sucesso provém de se perspetivar uma vida melhor. Isto é, em cada um pode aspirar de forma sustentada a passar de massa anónima a protagonista da sua própria existência. Isto tem um efeito catalisador, mobilizador de vontades, de triunfo da revolução.

Mesmo assim, pousado o pó do reboliço sobre a calçada ou caminho de cada dia, se não houver sinais de abertura à pessoa nas suas integridade e integralidade, todos podem achar que valeu a pena mas, na alma de um Povo, apenas resta a resignação sob o engano de quem constata que uma ditadura sucedeu a outra. Fracassa a revolução. Então, silenciosa mas constante, vai elevando-se a esperança que uma nova vaga emerja para derrubar os donos da mudança, afinal iguais a todos os outros… até na sede de poder!

É por tudo isto que já não há paciência, em nome da revolução, para quem quer alvorar-se em “dono do 25 de Abril”.

Para o perigos iminentes, deixem que os protagonistas da revolução acreditem que valeu a pena e ganhe alma o Povo português! Conquistou-se a liberdade, durante mais de meio século, sim mais de meio século, e agora faz-se perder a esperança.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Fenómenos naturais

 

Haverá qualquer coisa de normal nesta forma – seria exagero apelidar de modelo – com que os ricos manifestam estar saturados dos pobres!?

A ausência de solidariedade gerará recrudescimento da esperança?!

Sem querer demorar muito na abordagem ao desenvolvimento histórico assente no desenvolvimento das forças produtivas, protagonizado por Marx, não deixa de merecer especial cuidado analisar que o mundo acaba por ser mais justo quando os modos de produção são a junção das relações de produção com as forças produtivas. As forças produtivas constituem instrumentos de produção, dos objetos e da força de trabalho dos homens e das mulheres. O direito ao trabalho, ao salário justo, a cuidados sociais assegurados pelo contributo equitativo de todos são garantia nas relações de produção e as relações que os homens mantêm entre si no processo produtivo, as quais se manifestam no tipo de relações que se estabelecem entre os agentes económicos e os meios de produção.

Assim, de forma acusatória e sonegada não há relação que resista.

Esta história já foi estudada! Está publicada.

Por curiosidade, recordamos uma sitcom (abreviatura da expressão inglesa situation comedy - "comédia de situação", tradução livre) exibida nas noites de domingo pela Rede Globo, que passou entre nós através da estação SIC, “Sai de Baixo”, em que um dos personagens, Caco Antibes, representado por Miguel Falabella, tornou célebre a expressão “odeio pobre”! Até parece que a representação ganhou vida, tornou-se ela própria um sistema.

O mundo está à espera que os pobres fiquem, novamente, saturados de quem os explora!

A injustiça é a força mobilizadora das revoluções.

Com tanta apatia e avareza, parece um fenómeno natural.

terça-feira, 3 de abril de 2012

No fascínio da abundância, o deserto!

 

Inspirados, na sequência da passada semana, no tempo que as culturas com uma matriz cristã são convocadas a viver, a Páscoa, somos diariamente confrontados com projetos, ideias, criações sobre a concretização de um determinado padrão de vida que, aproximadamente, se pode resumir em a necessidade provoca o engenho. Ou seja, perante a adversidade pode-se reassumir ou descobrir potencialidades ignoradas ou deliberadamente “arrumadas” nos baús da história.

Dois casos paradigmáticos, os (pre)conceitos associados a “deserto” e a “esquerda” (em italiano ainda é mais sugestivo, “sinistra”). Fiquemos pelo “deserto” inspirador de tantas peças e muito mais evoluções, revoluções, culturas.

Associada à ideia de deserto está um raciocínio prévio de carestia, de privação, de despovoamento. Como se torna evidente, esta será apenas uma perspetiva do assunto; uma perspetiva aliada à visão que se tem do essencial para viver (pessoas, comodidade, água, vegetação abundante,…), para além de outros elementos mais subjetivos de análise, como são os sentimentos de cada um perante vastidão, silêncio, conforto, etc.

Depois, ainda há as metáforas que acabam por transmitir relações pre-configuradas a um determinado conceito: “isto é um deserto de ideias”; “esta terra é um deserto”. São imagens de deserto que não transmitem outra coisa que não sejam limitações da natureza e à natureza humana.

É por tudo isto que será prudente olhar para o deserto e ver aí sinais de abundância; abundância de ideias para superar as limitações, recorrendo a um exercício de inculturação, mas ver, de forma sábia como são todos os que sabem viver bem com pouco, descobrir o melhor.

E sendo verdade que se Maomé não vai à montanha a montanha vem a Maomé, dá a ideia que a segunda parte da premissa está a concretizar-se: uma chuva de areia do deserto atingiu Portugal na última semana!

Não nos faltava mais nada?!

Uma nuvem que transportava areias do norte de África, fenómeno que se verifica com alguma frequência nesta altura do ano, “caiu” sobre nós. As poeiras no ar agravam problemas respiratórios.

Perante um quadro de falta de precipitação, surge uma chuva de poeira do deserto. As poeiras desérticas “sujam” a atmosfera, podem provocar reações nos grupos mais sensíveis, sobretudo respiratórios (alergias, asma), secura na garganta ou lágrimas e, quando “aterram”, deixam uma camada de pó muito fino que se torna bem visível em tudo o que lhes está exposto.

Em síntese, temos de fazer algo mais por nós próprios, retórica demagógica e inquéritos por tudo e por nada não estão a melhorar a nossa vida.

(in Correio do Vouga, 2012.04.03)

terça-feira, 27 de março de 2012

Pão e dignidade

 

Por estes dias, as comunidades cristãs (mais as Católicas de matriz Romana) caminham para a celebração dos últimos dias de Jesus Cristo em Jerusalém em que, segundo a Tradição e testemunho dos Apóstolos e discípulos, foi morto no Calvário!

Toda a caminhada preparatória do momento culminante da vida terrena de Jesus incarna na herança veterotestamentária dando-lhe uma nova interpretação, vida nova. E cada cristão é convidado, por si ou pelos seus pais, a assumir o mesmo compromisso. Porém, se há momentos da história, a começar pelos fontais e interações conflituosas do mundo, onde esta realidade nunca foi diferente, entre nós já estivemos muito próximo da terra onde jorra leite e mel, convocando para aqui a citação do Livro dos Números, do Antigo Testamento, capítulo 14 (Nm 14,8).

Por estes dias, um pouco por todo o mundo, a começar por este nosso “recanto”,Portugal, a Quaresma e o Calvário ganham novo sentido, são reafirmados. E não precisam de ser recreações simbólicas ou analogias fáceis; a vida de muitas pessoas é levada a percorrer caminhos de sacrífico, de falta de tudo.

Na ausência e fartura extremas, o ser humano tem tendência a posicionar-se no mesmo padrão, o que poderíamos convencionar por modelo dos antípodas, que consiste essencialmente em reagir da mesma forma, anti-social, perante adversidades diametralmente opostas. Sem trabalho, sem pão, sem esperança (ânimo, verticalidade) ou com muito trabalho, com abundância de pão, excesso de confiança, surgem comportamentos de disfunção social, perda de dignidade e segurança. Ou seja, a gula é tão grave como a penúria!?

Sem cair nos exageros de correntes antagónicas, entre o estoicismo, pragmatismo e a estética da vida, salve-se a pessoa!

Neste Calvário que se aproxima celebrar, é urgente coligir esforços entre todos os homens e mulheres de boa vontade para que não falte o pão e a dignidade.

( in “Correio do Vouga”, 2012.03.28)

terça-feira, 20 de março de 2012

Em nome do pai

 

Fazer algo em nome de alguém! Quanto honra, independentemente do grau a que nos situemos perante a figura paterna, aqui muito mais do que só isso. Afinal, este é gesto de solidariedade, de vivência dos valores mais universais. E este entrelaçado da vida, valor e eticidade, é tão intrínseco a ser-se que ninguém chega a ser alguém por si só!

É muito interessante, correndo o risco de não ser percecionado o que interessa num artigo como este, fazer uma pequena visita ao filósofo alemão do idealismo. Hegel fez uma distinção entre moralidade, que é a vontade subjetiva, individual ou pessoal, do bem, e a eticidade, que é a realização do bem em realidades históricas ou institucionais, que são a família, a sociedade civil e o Estado. "A eticidade", diz Hegel, "é o conceito de liberdade, que se tornou mundo existente e natureza da autoconsciência".

O pai será, por si, garante da ética da vida, para além de toda a obra que gera!

Os pais da nação, da pátria, das instituições, dos partidos, das normas, das constituições, das obras de arte, literatura, pintura,… pululam nos vários discursos e imaginários! Ter um progenitor, real ou em sentido figurado, atravessa a cronologia do tempo e do espaço, da beleza e da plasticidade das formas de existência.

E ninguém é sozinho. Quando faltam filhos é inequívoco de que faltam pais! Porque o pai será sempre um por cada filho, por muitos que possa ter oportunidade de ser.

Em meados de março, quando ocorre a evocação do Dia do Pai, em Portugal, poder-se-á hiperbolizar tudo para comercializar a ideia, os sentimentos, o sentido da paternidade e da filiação. Porém, as circunstâncias atuais concorrem para a experiência de que há dias que, apesar de serem universais, continuarão simples, dedicados, próximos,… como um pai. Este é um desses dias singulares.

Faltam-nos mais pais!

(in Correio do Vouga, 2012.03.21)

terça-feira, 6 de março de 2012

Os aviões

 

Volta e meia discute-se a funcionalidade da pista da Base Aérea de São Jacinto e a sua potencial mais-valia para o serviço civil. É um assunto com alguma relevância num plano estratégico para Aveiro, no eixo mobilidade e transportes.

Sabendo-se que já vão surgindo indicadores positivos sobre a rentabilidade de algumas linhas aéreas, de serviço entre várias cidades do país, torna-se ainda mais interessante o estudo, o debate, a hipótese. Não é de descurar nenhuma oportunidade, sobretudo quando o equipamento já existe, pelo menos em bruto – haverá sempre necessidade de reajustes, de investimento, portanto.

No meio da altercação sobre equipamentos de travessia – Ponte Pedonal sobre o Canal Central de Aveiro, à cabeça de todas as outras – fazer chegar os aviões a São Jacinto, aparentemente, isto é, segundo a informação transmitida por um Vereador em exercício na Câmara de Aveiro, trata-se de acertos de trocos, que é como quem diz, mais corretamente, de juntar as partes interessadas, assinar as responsabilidades, dar luz verde aos civis para entrarem parcialmente numa área militar.

E aqui surgem algumas questões, entre outras de maior ou menor grau de importância. Este objeto de discussão, as áreas militares, terão algum cabimento nos dias de hoje, num exército como o nosso, cada vez mais dependente da ajuda externa em caso de crise militar? Teremos nós segredos estratégicos militares que não se possa abrir uma gare, um recanto digno, elegante, barato, sem grandes contornos de novo-riquismo, que rentabilize as estruturas existentes? É que este património de mão morta, pertença do Ministério da Defesa no seu conjunto, grassa um pouco por todo o país e está a degradar-se.

Outra questão, interessantíssima porventura, será como fazer chegar os passageiros do hipotético aeródromo de São Jacinto para os seus locais de interesse? - presumindo que estes locais estarão mais do lado da cidade de Aveiro do que do lado de São Jacinto, Torreira, Furadouro… e vice-versa.

Às vezes (ironia!) valerá a pena pensar numa escala mais ampla para resolver pequenos pormenores que se entrecruzam com outros pormenores e, sucessivamente, concretizam um plano estratégico. Caso contrário, num país como o nosso, andaremos sempre em teses minimalistas que esgotam recursos e satisfazem pequenos egos e lobbies (que não existem, claro!?).

Até lá, vamos vendo os aviões… a passar sobre a nossa cabeça, mas lá para os “vinte mil pés”, não venham a afetar as ideias que andam por aí!

(in Correio do Vouga, 2012.03.06)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Na saúde e na doença

 

Nos últimos vinte anos, acima das nossas capacidades ou não, progredimos imenso como país e como pessoas.

Hoje coloca-se justamente em causa o que se fez de errado nas opções estratégicas relativas à fixação de emprego, pessoas e vias de comunicação. Foi erro gravíssimo não investir mais no Comboio em detrimento do betão e asfalto. Lamenta-se a perda de oportunidades na mobilização para o interior e para unidades que produzam riqueza efetiva para o país, com os recursos que temos.

No últimos quinze anos, uns governos claramente mais do que outros, investiram na produção cultural e equipamentos que potenciassem as indústrias culturais e criativas – o ouro dos que o não têm! – como recentemente aqui abordámos.

Neste período corrigiram-se trajetórias e trajetos conhecidos como estradas da morte, modernizaram-se equipamentos fulcrais, lançaram-se projetos-âncora no conhecimento e ciência.

Nos últimos dez anos, com custos imediatos muito profundos, não só pelo custo da tecnologia mas também, e sobretudo, pela especulação dos lobbies do fóssil e do nuclear, houve grande investimento nas energias limpas e renováveis. Quanto não valeria investir mais nesse potencial limpo para cada português, que circula sozinho no seu “diesel” a caminho do emprego, se tivesse um veículo de dois lugares, pequeno, económico, de fácil arrumação, barato, que “abasteceria” (carregava a pilha) em casa graças ao painel fotovoltaico que teria no telhado?!

Lançou-se uma operação sem antecedentes na reforma sem precedentes das novas tecnologias. O país ficou no topo do mundo, pelas melhores razões.

Nos últimos cinco anos, ganhámos cem anos na educação!

Na verdade, mais uma vez, com avanços e recuos, com falhas e despesismo a qualificação de adultos e a introdução de necessidade de trabalhar mais e de forma mais séria foi notória. Mais e melhores equipamentos, plano tecnológico, parque informático,… quantas coisas!?

A saúde começou um amplo caminho de reestruturação para que mais tivessem o mínimo e que todos estivessem melhor.

Por fim, como começámos, uma crise global enraizada em especulação sem escrúpulos arrastou o mundo para o abismo; Portugal também.

Lançou-se o libelo da desconfiança sobre o Governo, veio a Troika, chegou a austeridade. Deste compasso ternário (mudança de Governo, Troika e austeridade) apenas ressalta uma constante: quem paga são os que menos podem. Ou seja, o que era investimento para desenvolver o país nada resta! Mas custa alguma coisa governar assim?

Saúde, educação, transportes, ação social são os grandes sorvedouros dos dinheiros públicos?! Mas onde está a novidade? É para que estes serviços existiam que as pessoas descontam, ou não é? Nas outras coisas paga-se em impostos (casa, carro, redes de água, saneamento, telefone, eletricidade, portagens, transação de bens, rendimentos,….).

Defendendo que temos de pagar a quem emprestou, não estando explicado que fosse o bom investimento que trazia mal ao país mas o despesismo dos interesses instalados, que podem deslocalizar quando quiserem, valerá a pena apontar caminhos que deem vida aos que fazem com o que Portugal exista. A solução não passará por ficarmos sem acesso ao essencial, à vanguarda de produtos para o país que é preciso continuar a desenvolver.