Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Pontes que oscilam. Pontes que se partem

 

Num mundo cada vez mais ligado nas suas margens, por força da globalização, vemos construir pontes onde antes havia vaus inultrapassáveis.

O conhecimento ganhou escala, criou redes de complementaridade, e hoje juntam-se várias disciplinas para vencer o que parecia intransponível. As técnicas estão mais apuradas. Porém, como o saber ancião não perde atualidade, vêm sempre à memória os provérbios.

Com este tempo tão incerto é imperioso que sejam distinguidos os construtores de pontes.

Merecem particular relevo as mensagens do Papa Bento XVI .

A saudação aos povos do Extremo Oriente, na Ásia, que celebraram na passada segunda-feira o início do novo ano lunar, sublinhando a sua “alegria” nesta festividade, que ocorre num momento difícil. “Na presente situação mundial de crise económico-social, desejo a todos estes povos que o novo ano seja concretamente marcado pela justiça e a paz, leve alívio a quem sofre e que os jovens, em particular, com o seu entusiasmo e o seu incentivo possam oferecer uma nova esperança ao mundo”,

Criando pontes entre a humanidade, também é de elevado interesse a mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, instaurado pelo Concílio, no decreto Inter Mirifica. Bento XVI destaca o silêncio e palavra como caminho de evangelização. “O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo” – sublinha o Papa. “Depois, na contemplação silenciosa, surge ainda mais forte aquela Palavra eterna pela qual o mundo foi feito. A questão fundamental - continua a mensagem - sobre o sentido do homem encontra a resposta capaz de pacificar a inquietação do coração humano no Mistério de Cristo. É deste Mistério que nasce a missão da Igreja, e é este Mistério que impele os cristãos a tornarem-se anunciadores de esperança e salvação, testemunhas daquele amor que promove a dignidade do homem e constrói a justiça e a paz. Palavra e silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar”

Por fim, a semana da unidade dos cristãos, que termina. É uma ponte, uma ponte longa que se vai construindo. É bom que o ser humano estabeleça o diálogo consigo e com os outros, melhor é com o mediador, que é o Soberano. No fundo, porque a oração é no todo também parte humana, esta semana é centro do diálogo de irmãos a pedirem ao mesmo Pai que acolha com generosidade as falhas uns dos outros e suscite a reconciliação quando e onde é necessária.

E numa semana assim, como em qualquer semana, a oração-comunicação é ainda tão insuficiente! Basta ver como a memória respeitável do povo arménio veio, pelos líderes franceses, provavelmente por um prato de lenteinhas, destruir a ponte que a Turquia, berço do Cristianismo também, vem construindo.

(in Correio do Vouga, 2012.01.25)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Indústrias culturais e criativas

 

Uma janela de esperança. Isso mesmo. É assim que entendemos e queremos dar destaque, nos tempos que (de)correm, a um “movimento” – as aspas são para realçar uma designação que é muito redutora – que é mais do que isso.

O termo indústria cultural foi introduzido pelos filósofos e sociólogos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), para designar a situação da arte na sociedade capitalista industrial.

Membros da Escola de Frankfurt, os dois filósofos alemães empregaram o termo pela primeira vez no capítulo O iluminismo como mistificação das massas no ensaio Dialética do Esclarecimento, escrita em 1942, mas publicada somente em 1947.

Para os dois pensadores, a autonomia e poder crítico das obras artísticas derivariam de sua oposição à sociedade. Adorno e Horkheimer afirmavam que a máquina capitalista de reprodução e distribuição da cultura estaria a apagar, aos poucos, tanto a arte erudita quanto a arte popular. Isso estaria acontecer porque o valor crítico dessas duas formas artísticas era neutralizado por não permitir a participação dos seus espectadores.

A arte seria tratada simplesmente como objeto de mercadoria, estando sujeita as leis de oferta e procura do mercado. Encorajaria uma visão passiva e acrítica do mundo ao dar ao público apenas o que ele quer, desencorajando o esforço pessoal pela posse de uma nova experiência estética.

Apesar da crítica ao processo de massificação e mercantilização da arte e da rejeição da relação entre esta e a economia, alegando que a exploração e comercialização da cultura e da arte se transformam num processo industrial, do qual o homem é um mero instrumento de trabalho e consumo, a partir da década de 70 as atividades culturais, quando ainda não eram consideradas nas suas vertentes empresariais e comerciais, tornaram-se foco de atenção e sustentação por parte das políticas culturais.

Na década de 1980 o Greater London Council começou a utilizar o termo indústrias culturais para englobar atividades culturais que operavam como atividades comerciais, mas que não estavam integradas no sistema de financiamento público, sendo importantes fontes de riqueza e emprego. Por outro lado, uma parte significativa dos bens e serviços que a população consumia (tais como televisão, rádio, cinema, música, concertos, livros) não se relacionavam com o sistema público de financiamento.

O termo Indústrias Culturais surge, então, para expressar a ligação existente entre arte e economia, consequência do desenvolvimento das atividades culturais como importantes fontes de riqueza e trabalho e da necessidade de formulação, desenvolvimento e financiamento por parte das políticas públicas.

Nos anos 80, mas sobretudo já na década de 90, a rede iniciada vai estabelecendo organização das Indústrias Criativas, sobretudo nos anos 90, deve-se a uma tentativa de medir o contributo económico destas indústrias no Reino Unido, identificando, ao mesmo tempo, as oportunidades e ameaças que elas enfrentavam. Foram, então, definidos segmentos para o sector criativo, destacaram-se Publicidade, Arquitetura, as Artes e Antiquários, Artesanato, Design em geral e Design de Moda, Cinema e Vídeo, Software Interativo de Entretenimento, Música, Artes Performativas, Edição, Software e Serviços de Informática, Televisão e Rádio. Estendo que existem também relações económicas com outros domínios, tais como Turismo, Museus e Galerias, Património e Desporto.

Através de “Os Amigos d’Avenida”, movimento informal de cidadania, de Aveiro, estão a desenvolver-se novas vertentes, entre nós, das potencialidades económicas. Outros setores poder-se-ão acoplar, incrementar, estendendo, por exemplo, a Red(e) Ibero-americana Território & Economia Cultural e Criativa .

Não é verdade que a dificuldade aguça o engenho? E, já agora, a arte também.

(in Correio do Vouga, 2012.01.18)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Putrefação

 

A diminuição do analfabetismo em Portugal, o ideário republicano que completou (quase!) o ciclo ao fim de 100 anos, pode não ter proporcionado, isto é, não proporcionou mesmo, ao país os índices de desenvolvimento que seriam esperados e que, noutras sociedades e soberanias, tem ajudado a fomentar. Mais uma vez não conseguimos rentabilizar o investimento e a máxima de que “é cultural” não serve, não colhe. Primeiro porque isto é tudo menos cultura ou cultural, é disparate puro, calaceirice, marasmo, inoperância; depois, porque mesmo sem o conhecimento a que se pode aceder hoje já fomos (qualitativamente) mais. Porém, continuar a olhar para o passado glorioso pode concorrer para pararmos ainda mais em êxtase perante a obra feita, vale bem mais a pena lutar por uma purga, uma limpeza cultural.

Com isto e com o que referimos já de seguida, remetemos para a necessidade de recordar que o país já sabe ler; que a comunicação, mais bem tratada ou incentivada por interesses de sobrevivência ideológica ou comercial, está atenta e informa, dá razões de leitura.

As notícias, acontecimentos, ideias com mais impacto do que outras. Normalmente as razões não estão apenas centradas no ponto de partida ou no conteúdo em sim mesmo; há fatores endógenos, que são o interior, o centro do assunto, do acontecimento, e exógenos, os que influenciam externamente para que tal aconteça e, esses, uns e outros, acabam por gerar o “caldo” que determina tudo o resto. Isto é, a importância, a aparência, a mais-valia ou desprezo.

Portanto, já não é suficiente dizer que há grupos secretos (Maçonaria, Carbonária, Opus Dei, Partidocracia,…) ou menos secretos (Banca, Indústria dos Combustíveis, Offshores, Oliverdesportos, Fatura da EDP, Taxas associadas à fatura da água, Investimento Chinês,…) a manobrar a nossa vida. Isso é assim há muito, desde Adão e Eva. É preciso reconstruir com novos valores uma geração. E, no ano europeu do envelhecimento ativo e solidariedade entre gerações, seria interessante podermos conseguir algo nesse sentido: aprender com os erros do passado e varrer os corredores de muitos espaços de poder e decisão.

(in Correio do Vouga, 2012.01.11)

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

2012

 

Ei-lo.

Que saudades de um ano bissexto. Não sei porquê mas é agradável pensar que este ano é maior; é o ano, como todos os bissextos, em que acertamos as contas com os anteriores. Aqueles 365 dias e seis horas… deixam sempre em aberto qualquer coisa.

Como é preciso recuperar o tempo perdido, nada melhor que um ano um pouco maior. Com menos feriados e mais um dia, agora é que vamos mudar isto!

O bissexto desde a sua origem que tem gerado mudança. Reporto algumas curiosidades e elementos históricos.

O termo bissexto foi introduzido pelos Romanos. Nos últimos tempos da monarquia, por volta do século VI a.C., adotaram um calendário baseado nas mudanças de fase da Lua, com 355 dias distribuídos em 12 meses. O ano começava em Março, nome provem do deus da guerra Marte; neste mês começa a primavera no hemisfério norte, uma ótima época para iniciar campanhas militares, e terminava em janeiro, sendo que os meses tinham 29 ou 30 dias. Fevereiro era considerado de mau agouro e ficou com apenas 28 dias; o nome provem do latim Februarius, inspirado em Februus, deus da morte e da purificação na mitologia etrusca.

Mas, durante o Império, em 46 a.C., sob o governo de Júlio César, houve uma mudança significativa: o calendário passou a basear-se no ciclo solar. Os meses, então, mudaram todos para 30 ou 31 dias, somando 365 dias e 6 horas (ou 365,25 dias). Assim, a cada quatro anos as horas excedentes somariam um dia extra de 24 horas, que precisava ser acrescentado ao calendário.
A origem da expressão bissexto está na consequência da adoção do Calendário Juliano, em 45 a.C. quando Júlio César fez várias modificações no irregular Calendário Romano, de Numa Pompilio. Acrescentou dois meses Unodecembris e Duodecembris ao ano, deslocando assim Januarius e Februarius para o início do ano. Fixou os dias dos meses numa sequência de 31, 30, 31, 30… de Januarius a Duodecembris (Duodecembris com 30 dias), à exceção de Februarius que ficou com 29 dias e que, a cada três anos, seria de 30 dias.

Dividiam o mês em Calendas, Nonos e Idos. Eram três dias fixos. As calendas eram o primeiro dia de cada mês quando ocorria a Lua nova. É desta palavra que surge o termo calendário e a expressão calendas gregas, representando um dia que jamais chegará, pois era inexistente no calendário grego.

As nonas eram o quinto ou sétimo dia, de acordo com o mês (de trinta ou trinta e um dias). E os idos, o 13º ou 15º dia, pelas mesmas razões. Dos idos é que provém a expressão "nos idos de setembro" para expressar uma data para a segunda metade do mês.

Ao passar dos Idos e chegar próximo ao final do mês faziam-no em linguagem regressiva referindo “faltam 6 dias para as calendas de Março” ("Ante die VI (sextum) Kalendas Martias"), “faltam 5 dias para as calendas de Março”, porque popularmente mantinha-se a referência pelas fases da Lua.

Com esta forma de contagem, e não pela numeral sequencial que hoje usamos, nestes anos de 366 dias, o tal dia extra era normalmente inserido após o dia 24 de fevereiro, isto é, 6 dias antes das calendas de Março, o mês de Februarius teria então dois dias (bis) antes do sexto, que antecedia as Calendas de Março, ou seja, "bis sextum", era o mês do bissexto, que o Calendário Gregoriano (desde o século XVI), que hoje usamos, atribui ao ano no seu todo.

(in Correio do Vouga, 2012.01.04)