Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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quarta-feira, 19 de março de 2014

Revolução social

 

 

Neste último ano encruzaram-se vários elementos essenciais à ponderação de um pensamento mais social. A vida das pessoas mudou radicalmente. Crescem as tensões. Há sinais de esperança?!

A mediatização do factual, do local, do pontual torna universal o que não o é; confunde-se muitas vezes a parte com o todo ou, numa inspiração comparativa, a árvore com a floresta. Pese embora esta premissa, há em muitos setores da atividade humana a preocupação pelo bem comum. Será por isso a insistência oportuna e importuna, a repreensão, ameaça e exortação com toda a paciência e empenho para instruir, para elevar para patamares de qualidade o que, simples ou complexo, tende-se a vulgarizar – coisas simples, como a produção agrícola, os serviços de proximidade, a energia, a justiça distributiva, o desempenho das instituições, a seriedade dos protagonistas e atores sociais e políticos, os agentes económicos, o bem comum. Provavelmente, chegou o tempo em que os homens e as mulheres já não suportam o que é essencial para a sobrevivência e todos. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustam mestres para si. Apartam os ouvidos da verdade e atiram-se às fábulas: a perspetiva iluminista de uma atitude de vida voltada para a procura egoísta de prazeres momentâneos, o sentido pejorativo de "hedonismo", sinal de decadência.

Neste ano (13.03.2013 – 13.03.2014) o mundo – quem, no mundo, o quer ver para além do umbigo, claro – foi impelido a não se contentar de si e a encontrar o outro, numa rede de relações cada vez mais autenticamente humanas. Apesar dos sinais de discórdia e separação, houve sinais novos, os homens e as mulheres do início de XXI são capacitados a transformar as regras e a qualidade das relações, inclusive as estruturas sociais: pessoas capazes de levar a paz onde há conflitos, de construir e cultivar relações fraternas onde há ódio, de buscar a justiça onde prevalece a exploração do homem pelo homem. Porque somente o sentido do outro é capaz de transformar de modo radical as relações que os seres humanos têm entre si. Inserido nesta perspetiva, todo o homem de boa vontade pode entrever os vastos horizontes da justiça e do progresso humano na verdade e no bem.

O Papa Francisco está a ser um expoente de esperança: vai materializando a Primavera da Igreja Católica protagonizada pelo Concílio Vaticano II e propõe, incentiva, empele, convida, revoluciona (com obras!) todos os homens e mulheres com um humanismo à altura do desígnio de amor de Deus sobre a história, um humanismo integral e solidário, capaz de animar uma nova ordem social, econômica e política, fundada na dignidade e na liberdade de toda a pessoa humana, a se realizar na paz, na justiça e na solidariedade.

terça-feira, 11 de março de 2014

Invasões e evasão

 

O cidadão comum – aquele cuja vida é orientada por processos simples alicerçados em valores, com olhar atento à realidade que o rodeia e participação ativa na transformação do mundo – fica estupefacto com estes movimentos de invasão; chegam a provocar urgência de evasão, de fuga do mundo – dando razão, porventura, mais uma vez, a Rosseau e à “teoria do bom selvagem”: o homem por natureza é bom, nasceu livre, mas sua maldade advém da sociedade que, com a sua presunçosa organização, não só permite mas impõe a servidão, a escravidão, a tirania e inúmeras outras leis que privilegiam as elites dominantes em detrimento dos mais fracos, reiterando assim a desigualdade entre os homens, enquanto seres que vivem em sociedade.

O cidadão comum compreende a antiguidade, com territórios sem Estado, construída ao fio da espada, de ambições tirânicas, sem uma organização e uma sociedade de nações, sem protocolos estabelecidos baseados na construção da paz e do bem comum!? O cidadão comum resigna-se perante as invasões helénicas (no século XX, a. C), dos Celtas (480 a.C.), do Império Romano (218 a.C.), dos Bárbaros (entre 300 e 800), das invasões muçulmanas (a partir de 711). Até compreende as invasões mongóis no oriente Japão (1274-1281)!

As invasões francesas e napoleónicas, do século XVIII-XIX, bem mais perto no tempo, como consequência da Revolução Francesa e início da luta entre a França revolucionária e a Europa conservadora levantam estupefação!

Mas passado este período, já cria assombramento como a opulência, soberba, cegueira e ambição desmedida de uns conduziram à Primeira Grande Guerra (de 28 de julho de 1914 até 11 de novembro de 1918).

E a Invasão da Polónia em 1 de setembro de 1939!? – assustador tanta semelhança com o tempo presente!

E as coincidências continuam! Quando um grupo de separatistas de uma província – uma província?! – resolve rebelar-se contra o governo central conduzindo à Guerra do Kosovo (24 de março a 3 de junho de 1999), à intromissão da NATO e à consequência geoestratégica que mais interessava à mesma organização, sem medir o alcance do disparate!

E depois surgiu a Guerra na Ossétia do Sul em agosto de 2008…

A Crimeia!

Com tantos cenários complicados de entender, num mundo que tem a Organização das Nações Unidas como “mesa” de encontro, o cidadão comum deseja a evasão! Mas para onde?

O mundo terá de cuidar do trigo e não perder a paz por causa do joio.

(in Correio do Vouga, 2014.03.12)

terça-feira, 4 de março de 2014

Crimeia

 
O traço comum (mais comum!) deste apontamento, desta nota semanal, tem sido baseado na atenção às situações de conflito ou geradoras de conflito. É verdade que há outros aspetos que consideramos mas, com maior frequência, olhamos para o mundo, para as  situações, os cenários, as ideias, as ações e protagonistas que podem ajudar, ou têm obrigação de ajudar, decidir sobre esta "casa comum", esta Terra que é a nossa casa, para que seja um pouco melhor para todos.
É preciso equidade, paz social, igualdade de oportunidades, solidariedade, e, superlativando, acima de tudo, vontade e determinação para atingir esta utopia: vivermos bem onde quer que estejamos com a diversidade que faz de todos a humanidade! Não deixa de ser verdade que esta reflexão é mais intencional do que real mas, recorrendo a metáfora, não podemos ficar calados, temos de agir; não podendo ir para a "frente", reforce-se a retaguarda. A melhor defesa é o ataque!? Então, até para defender o que há de melhor na humanidade é preciso atacar "se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito." - citando Luther King.
Os últimos temos na Ucrânia são conturbados! As tensões atingiram todos, quem esteve na Praça da Independência e quem esta pelo mundo a acompanhar, como filme, cenas de há cem anos - a evocação simbólica do ano em que começou a I grande Guerra.
A fronteira, aquele confim de mundos - significado de Ukraina  - pode abrir novamente imensas caixas de pandora com muitas Matryoshkas: o enclave geopolítico, entre ocidente e leste; a multiculturalidade inicial dos povos, na cultura, na religião, nas precedências seculares; a tensão do mundo entre pobres e ricos, entre oportunidades e oligarquias; o lado pior do ser humano!
A Crimeia é nome de muitas preocupações ao longo da história, de guerra também. Agora estamos - estamos todos- novamente lá, na Crimeia! Fez-se da Crimeia nome de guerra, ainda vamos a tempo de lhe dar um nome de paz?!
Será que o mundo não se farta deste carnaval?!
(in Correio do Vouga, 2014.03.05)